Os Vinhos de Portugal foram ao Brasil e 16 mil brindaram com eles

Evento organizado pelo PÚBLICO, o Globo e o Valor Económico, em parceria com a ViniPortugal, levou 90 produtores ao Jockey Club, no Rio, e ao Pavilhão da Bienal, em São Paulo.

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Na sua 11ª edição, o Vinhos de Portugal no Brasil juntou mais uma vez milhares de brasileiros em torno do vinho dr
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Entre 90 produtores, seis críticos, muitas dezenas de convidados especiais e milhares de visitantes — este ano, na 11º edição, foram dez mil no Jockey Club do Rio de Janeiro (de 7 a 9 de Junho) e seis mil na estreia num novo local, o Pavilhão da Bienal, Parque do Ibirapuera, em São Paulo (de 13 a 15) —, o Vinhos de Portugal no Brasil só pode ser um lugar de muitos encontros.

Diana Espíndola acabou de assistir a uma das sessões do Tomar um Copo, o espaço de conversas informais, de meia hora, durante as quais se provam dois vinhos e se fica a conhecer melhor uma região e dois dos seus produtores. Interessa-lhe perceber a evolução no perfil de muitos dos vinhos apresentados neste evento, organizado pelos jornais PÚBLICO, de Portugal, O Globo e Valor Económico, do Brasil, em parceria com a ViniPortugal e curadoria da Out of Paper.

“É uma conquista”, comenta a jovem carioca, nutricionista de formação, mas a viver em São Paulo e, juntamente com o marido, a fazer vinho na Argentina. “Você vai começando nos vinhos mais encorpados e aí, com o tempo, vai entendendo que o que está tomando é só barrica, só madeira, e cadê a uva? E aí você vai mudando, mas isso leva tempo e investimento, tem de continuar bebendo vinho e não desistir.”

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Este ano o evento estreou-se num espaço novo em São Paulo. o Pavilhão da Bienal no Parque do Ibirapuera Leo Barrilari

Diana acredita que “o Brasil está caminhando ainda”. O país “não é um grande consumidor de vinhos, mas está consumindo cada vez mais”. Apesar de ser nutricionista, acabou por ter de optar e seguiu o vinho, fez uma formação de sommelière, e tenta aprender tudo o que pode. Este ano, com o marido, decidiu que não poderia perder a experiência de provar o mais recente Barca Velha, de 2015, o icónico vinho do Douro, tanto mais que quem esteve a apresentá-lo foi o próprio enólogo, Luís Sottomayor, numa prova conduzida pelo crítico brasileiro Jorge Lucki.

Mais à frente, encontramos Rita Vilarim, também ela formada pela Associação de Sommeliers de São Paulo e que acaba de assistir a uma prova de vinhos da Península de Setúbal. “Já conhecia o Moscatel de Setúbal, que é o fortificado com melhor relação custo-benefício, mas fui nesta prova porque é uma região que ainda conheço pouco. Gosto de poder ver qual a característica da uva e perceber como é que o produtor pensa isso”, explica, elogiando a mudança para o Pavilhão da Bienal. “Adorei! Antes o Rio ficava com o Jockey Club, aquele lugar incrível, e a gente no shopping. Mas agora estamos aqui”, exclama, olhando em redor.

Para além de ser consultora na área dos vinhos, Rita coordena um grupo de mulheres que se encontram para falar sobre o tema. “Antes o universo da bebida era mais masculino e as mulheres estão descobrindo-o agora e sentem-se confortáveis entre mulheres, para perguntar, para não ter uma zombaria. Eu posso perguntar algo e ninguém vai falar que é uma pergunta menor, que não cabe.”

E se há coisas que estão a mudar no mundo dos vinhos, outro sinal disso é o aumento do interesse pelos brancos. “Foi uma surpresa para mim, nunca tinha visto tanto interesse nos brancos como aqui”, confessa Marcelo Villela de Araújo, brasileiro e produtor da marca Textura Wines, no Dão, que se estreou este ano no Vinhos de Portugal. “E para mim o caminho para se beber mais vinho passa por beber mais branco, que também vai muito bem com uma parte da culinária que hoje se vê aqui, mais leve, diferente da que havia no passado.”

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Público assistindo a uma das provas do evento dr

Numa roulotte transformada em cozinha improvisada, Cecília Aldaz, a sommelière e sócia dos restaurantes Oro, no Rio de Janeiro, e Pippo, em São Paulo, e uma das críticas do evento, está, com o chef Filipe Leite, do Selvagem, situado no Parque do Ibirapuera, a decidir a ordem pela qual serão servidos os pratos na prova de harmonização com vinhos da região de Lisboa. Espreitamos para o interior e vemos os rostos concentrados de ambos.

Há um peixe levemente curado com limão, azeite e abóbora tostada com cumaru, um camarão crocante numa moqueca cremosa, um queijo Lua Cheia do interior de São Paulo com geleia de jabuticaba e amêndoas fumadas,

“Ainda estou a ver a ordem, talvez o queijo precise de um vinho com mais intensidade. E tenho de ter cuidado com a geleia”, comenta Cecília. “Aqui é um nhocchi feito com batata-doce roxa, que antes era muito difícil de encontrar no Brasil, com uma redução de creme fresco com alho poró, um queijo azul gorgonzola e uns cogumelos, por cima tem farofinha de amendoim com farinha de milho”, descreve o chef, alinhando os pratos. “E esse aqui é um arroz de cupim.”

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Prato apresentado numa das provas de harmonização dr

“Nós temos um Chardonnay com Arinto, temos estrutura, volume de boca e também acidez”, prossegue Cecília enquadrando os vinhos. “Aqui temos um prato muito delicado e o vinho é mais opulento, se a gente não coloca mais intensidade, vai perder-se um pouco.” Não tem problema, responde Filipe, “tenho o sofrito que a gente põe na base e dou um up nele.” Saímos, deixando-os trabalhar.

No espaço exterior, junto ao Pavilhão da Bienal (Pavilhão Ciccillio Matarazzo), obra do arquitecto Oscar Niemeyer, está Adriana Choi, a comprar rissóis de camarão no A Bela Sintra, um dos restaurantes de comida portuguesa presentes no evento. Sentamo-nos com ela alguns minutos para saber o que está a achar do novo espaço. “Já vim noutros anos, mas este é o da mudança para o Pavilhão da Bienal e acho perfeito”, diz, pousando os sacos com queijos e azeites que acabou de comprar. “Só gostava que esta parte das comidinhas portuguesas fosse lá dentro, para provarmos junto com os vinhos.”

Confidencia que teve apenas uma desilusão: este ano, não se encontrou com Laura Regueiro, da Quinta da Casa Amarela, no Douro, que tinha estado no Rio de Janeiro, mas teve de regressar a Portugal mais cedo. “A Laura é uma querida. Gente, a marca dela é incrível, ela é uma pessoa incrível.”

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O crítico brasileiro Jorge Lucki durante uma das provas EDUARDO UZAL

Não consegue dizer de cor os nomes dos produtores que visitou no Salão de Degustação, mas mostra os vídeos que fez deles para não se esquecer de nenhum detalhe do que provou. “O que me deixa mais feliz”, diz, “é que, além dos grandes produtores, como a Cartuxa ou o Esporão, o evento traz estas marcas que não são tão conhecidas fora do Brasil. Tem muitos produtores que me encantaram, é sempre uma troca de energia. A conexão que a gente tem com Portugal é muito grande. E tem muito mais espaço para crescer.”

É nesse momento que se aproxima Marcos Nunes do restaurante A Quinta do Marquês. Vem propor-nos que provemos um dos pastéis de nata da casa que, diz, têm um pouco mais de recheio do que os que existem em Portugal porque o gosto dos brasileiros assim o exige. O pastel é muito bom, mas melhor ainda é a conversa com Marcos, cujo avô era da aldeia de Vale da Pedra, no distrito de Coimbra, onde fica uma escola e um sino da igreja ainda hoje cuidados por Marcos e os irmãos, que dão assim continuidade a uma tradição herdada do pai.

“Lá na aldeia, os vizinhos ainda tomam conta das rosas e das oliveiras dos meus avós”, conta Marcos, comovido. “Há uma senhora que tem 92 anos, é viúva, e que todos os dias vai regar as rosas da minha avó”. A ligação familiar a Portugal nunca se perdeu e hoje são já os sobrinhos de Marcos quem vão todos os anos visitar a aldeia de onde um dia partiu o avô.

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Os produtores Osvaldo Amado e Luís Pato durante uma sessão do Tomar um Copo FABIO CORDEIRO

“O meu avô veio primeiro sem a minha avó”, recorda. “Depois mandou uma carta para ela vir, mas antigamente não havia telefones e ela não tinha o endereço. Ficaram de se encontrar num sítio, no dia combinado ele estaria lá esperando. Você acredita que não se encontraram? Estava a minha avó junto com os três filhos…, mas a colónia portuguesa é tão boa que um cara viu eles lá, pediu informações e conseguiu achar o meu avô.”

Despedimo-nos de Marco, mas ele não nos deixa ir embora sem um presente. Entra dentro da roulotte do restaurante e sai com uma Nossa Senhora de manto tecido e decorado com medalhinhas, que faz questão de nos oferecer.

Quando dizemos que o Vinhos de Portugal é muito mais do que um evento de vinhos, é um espaço de encontros, e, sobretudo, de um grande encontro entre Portugal e o Brasil, estamos a falar também disto: de sair do Pavilhão da Bienal a saber muito mais sobre vinhos e com uma Nossa Senhora nos braços. Para o ano, promete a organização, estaremos de volta. No início de Junho, como sempre.

O Vinhos de Portugal 2024 teve ainda a participação do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto e o apoio das Comissões Vitivinícolas do Alentejo, Beira Interior, Dão, Lisboa, Península de Setúbal, Tejo, Vinhos Verdes, da Agência Regional de Promoção Turística do Centro de Portugal, do Turismo de Portugal, da TAP e da AB Gotland Volvo.

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