Chuva intensa garantiu água suficiente para enfrentar o período estival

A maior parte das barragens públicas nacionais concentra volumes de água acima dos 80%. Apenas duas albufeiras no sul do país estão no vermelho.

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Volume de armazenamento de Alqueva está a 91% Nuno Ferreira Santos/ARQUIVO
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A Primavera despediu-se nesta quinta-feira com uma descida de temperaturas, instabilidade atmosférica, com chuvas, aguaceiros e trovoadas de norte a sul do país. E o Verão recebeu a herança “com um tempo à inglesa”, comentava-se em Beja, de nariz no ar, olhando o denso novelo de nuvens cinzentas, intervaladas com a espreita do sol “que já queima”, como é habitual quando estão passados dois terços do mês de Junho.

O primeiro semestre de 2024 registou abundante pluviosidade que garantiu um aumento substancial de recursos hídricos em muitas pequenas, médias e grandes albufeiras dispersas pelo país. No Alentejo, um número razoável de barragens está “atascado” de água, apontava um pequeno agricultor em Serpa, convencido de que, neste ano, a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA) vai vender menos água. O presidente da EDIA, José Pedro Salema, já o admitiu ao PÚBLICO.

Com efeito, o Boletim de Armazenamento nas Albufeiras publicado pelo Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), no dia 17 de Junho, mostra que Alqueva armazenava 3752 hectómetros cúbicos (hm3), quando em igual período de 2023 a reserva situava-se nos 3196 hm3, menos 552 hm3, quase o mesmo volume de água que a EDIA distribuiu para rega no ano transacto (569hm3).

A cota da albufeira de Alqueva, que em 2023 se encontrava nos 148,02 metros acima do nível, no mesmo período em 2024 atingia os 150,60. A diferença representa um suplemento de 535 hm3.

Os volumes armazenados nas 76 albufeiras nacionais monitorizadas pelo SNIRH, com dados relativos a 17 de Junho, são reveladores do acréscimo nos recursos hídricos. Assim, 43 albufeiras apresentam volumes acima dos 80%, 21 estão entre os 50 e os 80%, e apenas 12 estão abaixo dos 50%; e, destas, duas permanecem no vermelho: Arade (13%) e Monte da Rocha (20%).

As bacias do Lima, Cávado, Ave, Douro, Vouga, Mondego e Tejo têm volumes de armazenamento maioritariamente acima dos 80%. A sul, nas dez albufeiras da bacia do Sado, estão acima dos 80% e Alqueva mantém-se estável, nos 91%, à entrada do Verão, enquanto a situação nas seis albufeiras algarvias se mantém crítica.

Comparando os volumes totais a nível nacional, a 17 de Junho em 2023, as 76 albufeiras detinham 10.360 hm3 (79%), volume que foi superado em 2024 e no mesmo dia, para os 11.023 hm3 (83%).

As albufeiras a norte do Tejo (44) armazenam 5786 hm3 e a sul deste rio (32) apresentam um volume acumulado de 5237 hm3. A albufeira de Alqueva acumula uma reserva de 3752 hm3 (61,9%).

Alívio não resolve escassez de água

Os volumes de água armazenados estão em condições de suprir as necessidades do consumo humano, da agricultura e de outras actividades humanas, como a indústria e o turismo. Mas basta que o próximo ano volte a registar intensos e frequentes fenómenos de ondas de calor e de seca meteorológica e, consequentemente, de seca hidrológica, para que a precária folga que existe volte a revelar graves problemas de escassez de água.

A reserva de Alqueva é, no actual contexto, um ponto de água muito apetecível. Como já se tornou recorrente afirmar, o seu sucesso pode ser o factor determinante para o seu insucesso, devido ao excesso de procura.

O Conselho de Ministros aprovou no dia 14 de Junho uma resolução que estabelece um conjunto de medidas para combater a seca no Algarve. E a decisão tomada conta com o transvase de 30 hm3 de água captada no Pomarão, proveniente de Alqueva para ser enviada por conduta até à barragem de Odeleite.

No início de 2024, foi assinado o contrato para a empreitada de construção do circuito hidráulico do Monte da Rocha, barragem que é origem para o abastecimento de água aos municípios de Castro Verde, Almodôvar, Ourique, parte de Odemira e Mértola e que, desde 2017, mantém o seu volume de armazenamento no vermelho. No entanto, o grosso dos consumos irá beneficiar cerca de 2330 hectares no bloco de rega da Messejana.

Estas obras estão em fase de início enquanto decorre o aumento da área de regadio de Alqueva, com a instalação de novos blocos de rega, que irão ocupar 155 mil hectares. Do outro lado da fronteira, em Huelva, reclamam-se entre 75 a 150 hm3 de água de Alqueva para garantir os sistemas agrícolas da região espanhola e para dar suporte às necessidades de água do sector mineiro e à actividade turística.

Até ao momento, sucessivos governos portugueses têm contrariado a pretensão das autoridades espanholas, mas ao mesmo tempo prosseguem as captações de água no sistema Boca Chança de caudais que são enviados para assegurar os caudais ecológicos do troço internacional do Guadiana.

Com o aumento da área de regadios e das constantes solicitações de água armazenada em Alqueva, as organizações de agricultores alentejanos, e não só, passaram a exigir o aumento da dotação da água a captar em Alqueva dos actuais 620 hm3 para 700,750 e até 800 hm3, opção que irá reduzir as garantias de água dos actuais três anos, para dois ou até um ano.