Em 2023, um em cada dez jovens não estudava nem trabalhava. Alexandra e Iúri estavam neste “limbo”

Eurostat diz que 11,2% dos jovens europeus estavam nesta situação — em Portugal, eram 8,9%. Para Alexandra Silva e Iúri Branco, não foi uma opção, mas o diploma não bastava para conseguir trabalho.

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Em Portugal, a percentagem de jovens nem-nem aumentou face a 2022, mas mantém-se em linha com as metas europeias Pexels/ Yankrukov
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Alexandra Silva passou metade do ano de 2023 sem fazer nada. Não trabalhou, não estudou nem fez formações além da que já tinha, nas áreas de marketing, design e publicidade. “Não foi uma opção”, apressa-se a justificar em entrevista ao P3.

Na verdade, o plano da jovem de 23 anos era começar a trabalhar em Setembro, mês em que terminou o mestrado em marketing. Mas, apesar dos muitos currículos que enviou, a resposta (quando a tinha) era sempre a mesma: “Só queriam pessoas com anos de experiência e, como durante a licenciatura e o mestrado não trabalhei na área, descartavam-me.”

Ouviu o mesmo durante meses e, durante meses, dependeu financeiramente dos pais, com quem vive em Oliveira de Azeméis, no distrito de Aveiro. “Felizmente não me fui abaixo porque sempre me apoiaram, sustentaram e não me faziam sentir mal por isso. Sei que é a situação actual de muitos jovens em Portugal, mas se não tivesse tido o apoio deles teria sido mais complicado aceitar”, revela. Fala com o P3 sobre o assunto porque não se inibe de recordar o tempo em que esteve desempregada, mas prefere não mostrar o rosto.

De acordo com o mais recente relatório do Eurostat sobre jovens "nem-nem", publicado a 13 de Junho, em 2023, um em cada dez jovens europeus entre os 15 e os 29 anos não estudava, não trabalhava nem fazia formações. Fazem parte do fenómeno NEET (“not in education, employment or training") ou, em português, dos "nem-nem". Segundo os dados do documento, eram 11,2% dos jovens europeus.

O relatório não especifica os motivos que levam os mais novos a estarem fora do mercado de trabalho ou dos estudos, mas há uma boa notícia: os números têm diminuído nos últimos dez anos. Em 2013, a taxa de jovens europeus nem-nem era de 16,1% e, à excepção de 2020, ano em que registou um aumento, de 12,6% para 13,8%, provocado pela pandemia, os valores estão a baixar consecutivamente.

Uma das metas do Pilar Europeu dos Direitos Sociais da UE até 2030 é reduzir esta taxa para 9%.

Na tabela dos 27 países da UE, Portugal estava em 9.º lugar, com 8,9% de pessoas nesta situação. O número piorou face a 2022, ano em que existiam 8,6% de jovens "nem-nem" no país. No entanto, salientam os dados, nota-se uma queda progressiva de pessoas nesta situação em Portugal desde 2020, quando o valor se fixou nos 11,1%.

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A Roménia era o país que tinha mais jovens sem trabalhar ou estudar no ano passado: 19,3%. Seguiam-se a Itália e a Grécia, com valores muito semelhantes (16,1% e 16%, respectivamente), a Bulgária e Chipre (com 13,8%), Lituânia (13,5%) e Espanha e França (12,3%). Os Países Baixos ocupam o 1.º lugar, com a menor percentagem de jovens que não estudavam nem trabalhavam da UE (4,8%) no ano passado.

Iúri Branco, 22 anos, entrou para a estatística em Novembro quando o estágio profissional na área de recursos humanos numa multinacional de distribuição de gás chegou ao fim e foi informado de que o vínculo com a empresa terminara.

Ficou sem trabalhar até Maio. Até lá, passou os dias a enviar currículos, a esperar por uma resposta, a candidatar-se a vagas através do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e a preparar-se para entrevistas de trabalho, que raramente chegavam.

“Cheguei a ser chamado para segundas e terceiras fases de entrevistas, mas nunca fiquei. Também ponderei tirar outra pós-graduação além da que já tenho em recursos humanos, mas o foco principal era encontrar emprego para ter o meu próprio dinheiro”, afirma.

Muitos dos amigos, incluindo colegas de curso, estavam na mesma situação de desemprego — e até há mais tempo do que o jovem do Montijo. Segundo Iúri, o estado de espírito era o mesmo: “psicologicamente frustrados e abalados” e sentiam que os dias eram passados “a olhar para ontem”.

“Eu já tinha experiência profissional na área, e ter esse primeiro contacto com o mercado de trabalho foi das piores situações que me aconteceram quando estava a procurar emprego. Para algumas empresas, não era experiência suficiente, candidatava-me outra vez para estágios profissionais noutros sítios e já diziam que, como tinha muita experiência, optavam por quem não tinha. Estava no limbo entre ter experiência a mais e a menos.”

A mãe, com quem vive e de quem dependeu monetariamente durante os meses de desemprego, foi a pessoa que mais o apoiou e incentivou a procurar fora da área de recursos humanos para se manter activo. Quando o fez, recebeu uma mensagem de uma colega de curso a perguntar se estava interessado numa vaga na área de recrutamento da consultora onde trabalha. No final de Maio, voltou a ter emprego e acredita que “foi uma sorte”.

Mais mulheres sem trabalhar ou estudar do que homens

Segundo um dos gráficos do relatório, em 2023 havia 12,5% de mulheres "nem-nem" na UE e 10,1% de homens. Em países como Portugal, Espanha, Suécia ou Finlândia, os valores de homens e mulheres sem estudar e trabalhar estão próximos: no ano passado, o nosso país tinha 8,9% de mulheres e 9% de homens "nem-nem", Espanha tinha 12,3% de homens e mulheres, Suécia 5,7% de mulheres e 5,6% de homens e a Finlândia 9,4% para ambos.

Por outro lado, na Roménia (24,8% de mulheres e 14,1% de homens) e na Grécia (17,4% e 14,8%), a percentagem de mulheres sem trabalhar ou estudar estava acima da dos homens. A Roménia é também o país com mais mulheres "nem-nem" e a Grécia foi o que registou maior percentagem de homens sem estudar ou trabalhar.

Alexandra Silva acabou por encontrar trabalho no início de Junho, dias antes de o relatório do Eurostat ter sido publicado e nove meses depois de ter acabado o mestrado. Tal como Iúri, enviou currículos para empresas na área onde estudou no Porto e em Aveiro, e até para cargos que não exigiam formação. Mas, ao contrário do jovem de 22 anos, não se inscreveu no IEFP.

“Optei por procurar vagas nos sites de recrutamento. A maior parte das candidaturas ficava sem resposta e as que tinha eram negativas. Mas honestamente até preferia do que ficar sem resposta. Fui a entrevistas de emprego, mas nunca fui seleccionada, excepto agora para o banco onde trabalho.”

Segundo dados do IEFP enviados por email ao P3, em 2023 estavam registados nesta plataforma 64.608 jovens com idades entre os 18 e 29 anos. A maioria, lê-se na tabela, tinha o ensino secundário, sendo que existiam mais mulheres inscritas (16.158) do que homens (15.621).

Em situação de desemprego com o ensino superior estavam ainda 3.920 homens e 7.221 mulheres.

Dos colegas de curso, Alexandra tinha apenas um - neste caso, uma mulher - na mesma situação de desemprego. “Ela fez a mesma licenciatura e o mesmo mestrado que eu. Não quero o mal dos outros, mas, ao saber da situação dela, não me sentia tão sozinha. Só pensava que não era a única.”

Confessa que ter um salário é bom, mas não se sente realizada no banco. As funções que executa nada têm que ver com marketing, mas garante que não se vai despedir enquanto não encontrar algo que goste verdadeiramente de fazer. Iúri, por outro lado, está feliz com o trabalho na empresa de consultoria.

Artigo actualizado às 9h38 para acrescentar os dados enviados pelo IEFP

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