A cor da justiça

Espero que não venha a dar-se o caso de termos mais condenações de antirracistas por difamação do que de racistas por discriminação étnico-racial.

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Parece estar para breve o desfecho do caso de Cláudia Simões e parece também, atendendo às alegações finais (e públicas) do Ministério Público, que este desembocará, infelizmente, na absolvição do agente Carlos Canha, assim como dos agentes João Gouveia e Fernando Rodrigues, e na condenação de Cláudia Simões por, no mínimo, resistência e coação sobre funcionário. Segundo essa leitura, os ferimentos que Cláudia Simões apresentava naquele fatídico dia terão sido autoinfligidos e consequência da sua resistência ao agente. Por sua vez, a atuação do polícia terá sido musculada na exata proporção do pretenso comportamento “descontrolado” de Cláudia Simões. Num cenário em que, logo à partida, as desigualdades de género, raciais e de estatuto (um polícia vs. uma civil) são tão evidentes e onde o clima de violência não pode ser escondido (as mazelas físicas de Cláudia Simões e as duas testemunhas agredidas na esquadra naquela noite), só é possível virar o “bico ao prego” se Cláudia Simões, na linha do imaginário colonial, for transformada numa “selvagem”.

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