Lince-ibérico tem estatuto de conservação revisto e está mais longe da extinção

União Internacional para a Conservação da Natureza revê positivamente estatuto de conservação de lince-ibérico que passa de “em perigo” para “vulnerável”. Conservação da espécie está a dar frutos.

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Libertação de um lince-ibérico em Alcoutim, no Algarve, em 2022 Daniel Rocha
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O estatuto de conservação do lince-ibérico (Lynx pardinus) foi revisto e passou da categoria “em perigo” para “vulnerável”, mostrando que esta espécie de felino, embora continue ameaçada, está mais longe da extinção. A revisão feita pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês) do seu Livro Vermelho das espécies ameaçadas​ foi anunciada nesta quinta-feira. A boa notícia é o resultado de um esforço de conservação da espécie nas últimas décadas em Espanha e em Portugal.

“A melhoria no estado de conservação do lince-ibérico demonstra que a conservação bem-sucedida funciona tanto para a vida selvagem quanto para as comunidades”, avançou num comunicado Grethel Aguilar, directora-geral da IUCN, que produz a Lista Vermelha das espécies ameaçadas, o conjunto de organismos que estão em risco de extinção, e vai revendo o estatuto de conservação das espécies ao longo do tempo.

O lince-ibérico é um caso paradigmático do resgate de uma espécie que estava perigosamente perto da extinção. Ao longo do século XX, o número de felinos foi diminuindo. Por um lado, a principal presa do lince-ibérico, o coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), regrediu. As doenças virais, a caça e o abandono das práticas agrícolas tradicionais provocaram uma diminuição do número de coelhos-bravos. Por outro, os matagais e os bosques mediterrânicos que o lince habitava foram sendo substituídos por eucaliptais e pinhais, comidos e cortados por barragens e estradas, e alvos de incêndios florestais.

Em 1960, a população do lince-ibérico distribuía-se em várias regiões do Centro e Sul da Península Ibérica, ocorrendo em Portugal nas regiões junto da fronteira nas beiras, Alentejo e Algarve. Mas em 2001, já só existiam 62 adultos em duas áreas específicas da Andaluzia espanhola. Por isso, no ano seguinte a IUCN atribuiu o estatuto de “criticamente em perigo” de extinção àquela espécie.

Mas o projecto Life+Iberlince, um programa de conservação iniciado em Espanha em 2002, que se estendeu a Portugal, conseguiu reverter o problema. A estratégia passou por inverter a situação do coelho-bravo, proteger e restaurar o habitat do lince e reduzir as mortes causadas pelos humanos. Outro esforço foi aumentar a diversidade genética do felino através de um programa de reprodução em cativeiro.

“Desde 2010, foram reintroduzidos mais de 400 linces ibéricos em partes de Portugal e Espanha”, lê-se no comunicado. O felino “ocupa agora pelo menos 3320 quilómetros quadrados [km2], um aumento em relação aos 449 km2 de 2005”, adianta o documento.

Em Portugal, estes esforços traduziram-se na construção do Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico, em Silves, que até 2023 já introduziu 100 linces na natureza tanto em território português, na serra algarvia, como na Espanha. Em 2022, já existiam 648 linces adultos. Hoje, a população de juvenis e adultos será de 2000 animais, adianta o comunicado. A nível nacional, além da zona do Algarve, a presença do felino também já se consolidou na região de Castelo Branco.

Neste contexto, a IUCN reviu em 2015 o estatuto de conservação da espécie para “em perigo”, sinalizando a recuperação do felino e o sucesso do programa de conservação. Nove anos volvidos, a organização volta agora a fazer o mesmo. O sucesso passa pela “colaboração empenhada entre organismos públicos, instituições científicas, organizações não-governamentais, empresas privadas e membros das comunidades”, disse Francisco Javier Salcedo Ortiz, coordenador do projecto LIFE Lynx-Connect, que liderou a acção de conservação da espécie, adianta o comunicado.

No entanto, o lince-ibérico continua ainda dentro do grupo das três categorias associadas às espécies que estão ameaçadas de extinção (“vulnerável”, “em perigo” e “criticamente em perigo”), mostrando que o felino ainda não está a salvo. “Ainda há muito trabalho a fazer para garantir que as populações de lince-ibérico sobrevivam e a espécie recupere em toda a sua área de distribuição nativa”, reforça Francisco Javier Salcedo Ortiz.