Festival Vaudeville Rendez-Vous, uma década a questionar o lugar do novo circo

Festival de circo contemporâneo do Minho celebra a efeméride com 15 espectáculos, quatro dos quais apresentados, pela primeira vez, em teatros municipais.

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Cá Entre Nós, uma co-produção brasileira, chilena e espanhola estará no Theatro Gil Vicente, em Barcelos cortesia companhia DoisAcordes
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Em C'est pas là, c'est pas là, da companhia Galmae, os espectadores são desafidos a desmontar uma instalação a meias com o artista sul-coreano Juhyung Lee. Michel WIART
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Cabem o novo circo e as designadas artes de rua em salas de teatro? Podem estas linguagens ser apreciadas fora dos meses de Verão? É a partir desta reflexão que o festival Vaudeville Rendez-Vous celebra, entre os dias 16 e 20 de Julho, a sua décima edição, levando 15 espectáculos e 32 apresentações a Braga, Guimarães, Famalicão e Barcelos.

Pela primeira vez em dez anos, quatro dos espectáculos deste festival de circo contemporâneo ocorrerão não no exterior, mas em salas das quatros cidades minhotas: gnration, Centro Cultural Vila Flor (CCVF), Casa das Artes e Theatro Gil Vicente, respectivamente. A apresentação em espaços fechados servirá para desmontar a ideia de que o novo circo “é apenas uma linguagem de rua” e sazonal, cabendo, antes, na grelha de programação dos teatros municipais, reflectiu esta quarta-feira Bruno Martins, director artístico do festival, durante a apresentação do programa da décima edição.

Além dos espectáculos em sala fechada, o festival promoverá o debate com uma mesa-redonda, na Casa das Artes (20 de Julho), a partir do qual discutirá o lugar do novo circo através do desfasamento entre quem cria e quem lidera a programação dos teatros municipais. Se, por um lado, a programação do novo circo é desenhada apenas para as ruas, obrigando os artistas a seguir esse caminho, por outro, quem cria –​ e por “não existir grande mercado”, como recorda o também director do Teatro da Didascália – não concebe as suas obras para lugares fechados. “Há um desencontro entre pares.”

No mesmo debate, realizar-se-á uma retrospectiva sobre os dez anos do festival e o advento do novo circo em Portugal. “No início deste século, os programadores de espaços como o Centro Cultural de Belém, o Teatro Rivoli ou o Teatro Aveirense trouxeram as primeiras abordagens daquilo a que no centro da Europa já se chamava novo circo”, disse Bruno Martins, acrescentando que o ciclo do circo contemporâneo no país foi interrompido e só retomou com “o Vaudeville, outros festivais, e com escolas que, entretanto, se formaram”.

Uma dessas escolas foi o Instituto Nacional de Artes do Circo (INAC), sediado desde 2016 em Famalicão, cidade que é também a sede do Didascália. A influência na formação de artistas circenses é também, assinalou o director artístico, um dos lastros deixados pelo festival. “[O festival] iniciou-se antes de existirem escolas a Norte, porque a nível nacional só existia o Chapitô [em Lisboa]. No INAC, programámos projectos de final de curso, demos bolsas a finalistas, fizemos co-produções, e agora acompanhamos os artistas que passam pelo instituto e que entram no mercado de trabalho”.

Entre o popular e o experimental

A efeméride dos dez anos será celebrada entre uma programação característica do circo “mais popular e espectacular” e que terá lugar nas ruas, e obras “mais experimentais e disruptivas” que ocuparão as salas fechadas. O arranque do festival dá-se no dia 16 de Julho (21h30) com Cá Entre Nós, da companhia DoisAcordes, uma co-produção brasileira, chilena e espanhola que se apresentará no Theatro Gil Vicente. No dia seguinte, à mesma hora, o gnration recebe Masha, da dupla espanhola Palimsesta, a Casa das Artes acolhe BLUE, da portuguesa Margarida Monteny, e o CCVF recebe Le Repos du Guerrier, do francês Edouard Peurichard, um espectáculo a que Cláudia Berkeley, do Teatro da Didascália, se referiu como “autobiográfico, em que o artista leva a cena “fragmentos de criações passadas”.

C'est pas là, C'est par là, da companhia Galmae, é um espectáculo em grande escala que desafia os espectadores a desmontar uma instalação a meias com o artista sul-coreano Juhyung Lee. A criação será apenas apresentada no Largo do Pópulo, em Braga, no dia 18 de Julho.

Com L’Avis Bidon, da Cirque da Compagnie, Lemniscate, da Bivouac Compagnie, e Gregarious, da Soon Circus, o público confrontar-se-á com criações “extremamente visuais, cujo mote é a acrobacia”. Já Idiòfona, espectáculo interactivo, marca o regresso do artista plástico espanhol Joan Català ao festival. Apresentar-se-á no dia 18 em Guimarães e dois dias depois em Barcelos. Entre outros espectáculos, destaca-se a presença das companhias nacionais AbsurdA, Circo Caótico, e da artista Inês Pinho.

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