Os bois e os nomes

Porque é que Irineu Barreto, à semelhança, aliás, do que se tinha passado com o Orçamento do Estado, não impôs a aprovação do Orçamento da Região antes de demitir fosse quem fosse?

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A situação política na Madeira é muito séria.

Há risco de novas eleições? Há! É uma coisa boa? Não! Mas nem sempre se podem evitar coisas más, trabalhando para chegar às boas.

Não vou (o espaço não o permite) dizer muito sobre eleições nesta Região, apenas que estão muito longe de ser um processo democrático, transparente, sério, não viciado; é preciso vivê-las para as perceber.

Do que quero falar é do que mais se ouve nestes últimos dias: são evocações ao bom senso, responsabilidade, entendimento, estabilidade, governabilidade; é o PSD a "prometer" incluir propostas da oposição; é o antigo presidente Jardim a apelar a um partido da oposição para que se abstenha; é o bispo do Funchal numa mal disfarçada campanha para que os partidos da oposição esqueçam quem os elegeu e deixem governar o PSD; são os dirigentes desportivos e exercerem pressão sobre as oposições (claro), chegando a ameaçar com protestos dentro do parlamento! E é o PS a ser responsabilizado pelo que possa vir a acontecer!

A aprovação do programa de Governo está ameaçada porque Albuquerque e todo o PSD atrás dele são prepotentes e malcriados. Não sabem o que é compromisso, respeito, debate político. Vivem de insultos e arrogâncias, todos os processos e meios são bons para alimentar a dependência e o medo. Porque é que, traindo os seus eleitores e as suas esperanças, partidos da oposição hão-de aprovar um programa no rumo dos anteriores que, em 48 anos, fizeram desta Região a que mais alta taxa de risco de pobreza tem, em todo o país? Porquê?

É certo que pode também não haver Orçamento. Vamos ver porquê, vamos às responsabilidades e, sim, também chamar os bois pelos nomes.

São dois os responsáveis: o presidente do Governo e o representante da República.

Quando em Novembro se desencadeou a crise política no país, Albuquerque foi rápido a afirmar que António Costa (que não tinha qualquer acusação) tinha que se demitir; mas quando, na Madeira, Albuquerque foi constituído arguido em 24 de Janeiro, tratou de encontrar outras "regras" para se manter na governação que lhe dá a imunidade de que precisa, para não ser detido. Depois de dois pedidos de demissão, de algumas jogadas e contra-jogadas, de pressões e contra-pressões, o representante da República, Irineu Barreto, acaba por fazer publicar a 5 de Fevereiro, o decreto da exoneração e demissão do governo.

Como era do conhecimento geral, e deles também, não havia Orçamento aprovado – aliás, ainda hoje estão por esclarecer os motivos que levaram a que o Orçamento para 2024 só tivesse entrado na Assembleia a 9 de Janeiro, quando as eleições tinham sido em Setembro e no governo só houve substituição de dois secretários.

Porque é que Irineu Barreto, à semelhança, aliás, do que se tinha passado com o Orçamento do Estado, não impôs a aprovação do Orçamento da Região antes de demitir fosse quem fosse? Teve tempo, exemplo e oportunidade para o fazer – até porque o parlamento regional só poderia ser dissolvido em 27 Março. Porque é que não o fez? Não sabia das inevitáveis consequências? Porque é aceita que Albuquerque retire o Orçamento, cuja discussão começaria precisamente a 6 de Fevereiro??

O que é que explica esta atitude e esta pressa de Irineu Barreto? O que é não sabemos?

A chantagem já está na rua. Mais faltaria que fossem os chantageados a colocar o garrote à volta do pescoço!

Para que uma nebulosa e propositada opacidade não cubra tudo, há que ter a coragem de chamar os bois pelos nomes!

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