Hezbollah desafia Israel com imagens de alvos militares capturadas por um drone

Vídeo sugere maior vulnerabilidade à incursão de drones. Enviado de Biden avisou israelitas de que o confronto na fronteira poderia conduzir a um “ataque iraniano em grande escala”.

Foto
O grupo xiita libanês publicou quase dez minutos de imagens de locais sensíveis no Norte de Israel Twitter
Ouça este artigo
00:00
04:35

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

No dia em que um enviado de Joe Biden foi ao Líbano dizer que os Estados Unidos estão a trabalhar para evitar “uma guerra maior” entre Israel e o Hezbollah, o grupo xiita libanês publicou quase dez minutos de imagens do porto de Haifa, de parte de uma base da Marinha israelita e de várias instalações militares no Norte do país, incluindo dos sistemas de defesa aérea Cúpula de Ferro (Iron Dome) e Funda de David (David’s Sling).

As Forças de Defesa de Israel (IDF) não comentaram o vídeo, que o Hezbollah diz ter sido feito por um dos seus drones de reconhecimento (que regressou ao Líbano sem ser detectado). “Se for confirmada como genuína, a gravação deverá alarmar o establishment de segurança de Israel, sugerindo uma vulnerabilidade à incursão de drones ainda maior do que a reconhecida anteriormente, sobretudo com a ameaça implícita de poder sobrevoar Haifa”, a terceira maior cidade de Israel, com 300 mil habitantes, escreve o especialista em conflitos no Médio Oriente Peter Beaumont no diário britânico The Guardian.

Entre as imagens capturadas ao longo da costa de Haifa, 27 quilómetros a sul da fronteira libanesa, surgem vários navios de guerra e infra-estruturas que serão da unidade submarina da Marinha, mas também um bairro residencial. Pouco depois da sua divulgação, através das redes sociais do Hezbollah, as IDF diziam ter abatido vários drones suspeitos no Norte do país.

Tudo isto ocorre quando as sirenes voltaram à região e foi definitivamente interrompida uma rara pausa nos ataques do Hezbollah a Israel, que começou sábado e foi relacionada com os quatro dias do Eid al-Adha (Festa do Sacrifício), um dos momentos mais importantes do calendário islâmico, que assinala o fim da peregrinação anual a Meca. Só que esta terça-feira ainda se celebrava o Eid al-Adha. Outra explicação seria a visita do enviado da Casa Branca, Amos Hochstein, mas os novos ataques apanharam-no precisamente em Beirute, um dia depois de ter estado em Israel.

A verdade é que a pausa tinha sido interrompida já na segunda-feira, e por Israel, com as IDF a matarem um importante membro da unidade de mísseis e rockets do Hezbollah, uma morte confirmada pelo grupo.

“O conflito... entre Israel e o Hezbollah já durou tempo suficiente”, disse o enviado com que Biden tem contado para tentar pôr fim à violência na fronteira que separa o Líbano de Israel – e que desde o ataque do Hamas, a 7 de Outubro, atingiu níveis que não eram vistos desde a guerra de 2006. “É do interesse de todos resolvê-lo rápida e diplomaticamente, o que é possível e urgente”, sublinhou Hochstein. “Assistimos a uma escalada nas últimas semanas. E o que o Presidente Biden quer fazer é evitar uma nova escalada para uma guerra maior”, disse aos jornalistas.

Durante as suas reuniões de segunda-feira, escreve o jornal Haaretz, Hochstein avisou os responsáveis israelitas de que a continuação do confronto entre Israel e o Hezbollah poderia conduzir a um “ataque iraniano em grande escala”. Há um “impulso que avança potencialmente em direcção” à guerra, admitiu esta terça-feira o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken.

Não é claro quando foram captadas as imagens divulgadas agora pelo Hezbollah, mas o grupo tem vindo a lançar cada vez mais drones sobre Israel, incluindo drones carregados de explosivos, faz notar o diário de Times of Israel, lembrando que, em Novembro, o líder do movimento, Hassan Nasrallah, afirmou que havia drones de vigilância a sobrevoar Haifa.

Na semana passada, o Hezbollah disse que já realizou mais de 2100 operações contra Israel desde Outubro, no que descreve como uma demonstração de apoio ao Hamas e à guerra na Faixa de Gaza. A violência na chamada “frente norte” israelita matou dezenas de civis libaneses e, segundo o Hezbollah, 343 dos seus membros, assim como dez civis israelitas e 15 membros das IDF. Mais de 60 mil israelitas abandonaram as suas casas na zona e vivem há oito meses em hotéis e abrigos espalhados por todo o país.

Apesar dos receios de uma guerra aberta, e das dificuldades para impor um cessar-fogo em Gaza, Washington quer aproveitar o actual contexto de violência para tentar forçar o fim deste conflito. “Discutimos a situação política e de segurança no Líbano, bem como o acordo que está em cima da mesa em relação a Gaza, que representa também uma oportunidade para pôr fim ao conflito na Linha Azul”, demarcada pela ONU depois da retirada de Israel do Sul do Líbano, em 2020, afirmou Hochstein, à saída de um encontro com o presidente do Parlamento libanês, Nabih Berri (líder do Amal, um movimento xiita próximo do Hezbollah).

“Seja por via diplomática ou militar, de uma forma ou de outra, garantiremos o regresso seguro dos israelitas às suas casas no Norte de Israel. Isso não é negociável”, disse, em Israel, o porta-voz do Governo de Benjamin Netanyhau, David Mencer. “O dia 7 de Outubro não pode voltar a acontecer em nenhuma parte de Israel nem em nenhuma das suas fronteiras.”

Sugerir correcção
Ler 2 comentários