Boston Celtics de Neemias Queta são campeões da NBA

É o 18.º título na história do Boston Celtis um recorde da NBA. Há 16 anos que a equipa onde joga o português Neemias Queta não ganhava o campeonato.

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Os Boston Celtics venceram o 18.º título na história do franchise Brian Fluharty / USA TODAY SPORTS VIA REUTERS CON
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Os Boston Celtics, equipa do português Neemias Queta, conquistaram esta segunda-feira (madrugada de terça-feira em Portugal) a Liga norte-americana de basquetebol (NBA), ao baterem os Dallas Mavericks por 106-88 no jogo 5 das Finais.

Precisamente 16 anos depois da conquista do último título, o conjunto de Boston conquistou o 18º campeonato da história, o máximo da NBA, e terminou a segunda maior travessia no deserto da franquia – apesar dos 18 campeonatos conquistados, este é apenas o segundo triunfo desde 1986.

Os Celtics, comandados por Joe Mazzulla, entraram nos play-offs na condição de favoritos, a par dos campeões Denver Nuggets, depois de passearem na fase regular: melhor registo da liga (64-14), no topo da lista em termos ofensivos e defensivos, com exibições dominadoras dos dois lados do campo construídas sobre basquetebol de qualidade e consistente.

Resolver fantasmas antigos e não complicar o fácil

A fase regular é a fase regular, e os play-offs são um “bicho” diferente, o momento que separa os homens dos miúdos. Até aqui, estes Boston Celtics nunca tinham passado de miúdos na fase a doer. Apesar de terem chegado às finais em 2022 (perdidas para os Golden State Warriors), as campanhas na fase a eliminar destes Celtics foram sempre marcadas por inconsistência e falhas em momentos decisivos. Por isso, a dúvida pairou durante toda a temporada: iria a equipa cumprir tudo o que prometia, ou voltaria a claudicar nas alturas críticas da temporada?

O primeiro teste foi logo na primeira ronda, contra os Miami Heat, a equipa que tinha eliminado Boston nas finais da Conferência Este de 2023, apesar de o conjunto verde e branco ser favorito. As primeiras dúvidas foram dissipadas aí, com uma vitória tranquila na eliminatória (4-1). Ainda que frente a uns Heat que não contavam com a estrela, Jimmy Butler, os sinais foram positivos: a equipa apareceu mais madura, com capacidade de controlar os momentos do jogo e responder aos vários problemas que enfrentava.

A partir daí, foi uma questão de não complicar séries em que os Celtics partiam como claros favoritos – ainda mais depois de ambas as equipas perderem peças importantes. Com Cleveland Cavaliers (4-1) e Indiana Pacers (4-0) despachados, restou a Boston esperar pelo adversário que sairia de uma Conferência Oeste bastante mais competitiva.

Campeonato construído desde 2017

Numa cidade de Boston muito habituada a títulos em todas as principais ligas, 16 anos sem vencer a NBA é uma eternidade. Embora a equipa tenha estado em todos os play-offs desde 2014-15, o verdadeiro começo do projecto agora campeão é 2017, ano em que os Celtics escolheram Jayson Tatum na terceira posição do Draft. Com apenas 19 anos, era uma estrela em potencial, a juntar a Jaylen Brown, outro jovem escolhido no ano anterior. Brad Stevens era nessa altura o treinador, e assim se manteve até 2021, depois de temporadas de bom nível, mas com a equipa incapaz de dar o salto. As suas principais acções nesta história ficaram reservadas para 2023, como director-geral.

Depois da derrota nas finais de Conferência frente aos Heat, Stevens teve o arrojo de trocar Marcus Smart, alma dos Celtics e o Defesa do Ano de 2021, por Kristaps Porzingis, um poste talentoso, mas com um historial extenso de lesões. A poucas semanas do início da época, trocou outras duas peças importantes da temporada anterior por Jrue Holiday, um base muito completo e exímio defensor.

Estas foram as duas movimentações de mercado que fecharam o núcleo duro da equipa campeã, do qual faltam mencionar dois: Al Horford, poste que vai na 17ª temporada (seis em Boston, e campeão pela primeira vez), e Derrick White, um base que faz tudo em campo.

Os “Jays” silenciam os críticos

Para além de um momento de celebração, a conquista do troféu Larry O’Brien é um momento para os Boston Celtics silenciarem muitas das críticas de que o conjunto foi sendo alvo ao longo dos anos. Em particular a dupla dos "Jays", figuras centrais dos Boston Celtics, e a começar por Jayson Tatum, que pôde finalmente respirar de alívio e já chorava na linha lateral nos momentos finais do jogo.

O extremo de 26 anos é visto desde muito cedo na sua carreira como o próximo na linhagem real de superestrelas norte-americanas, numa liga em que os estrangeiros têm vindo a assumir-se protagonistas. O fardo tornou-se mais pesado a cada temporada sem anel, com muita gente a questionar a sua capacidade de fechar jogos e de liderar uma equipa campeã.

Embora seja discutível sobre se terá sido o melhor jogador da equipa nestes play-offs, o anel agora serve para acabar com as dúvidas e permite a Tatum silenciar a crítica. “O que é que vão dizer agora?”, disse na entrevista pós-jogo. E pode ainda acrescentar um dado: é campeão mais novo que nomes como LeBron James, Michael Jordan, Stephen Curry ou Kevin Durant.

Jaylen Brown, eleito o MVP das Finais, também pode ajustar muitas contas com a crítica. A outra metade da dupla que tem sido pilar do projecto dos Celtics assinou no último Verão uma extensão de contrato de 300 milhões de dólares (cerca de 280 milhões de euros) em cinco anos que o tornou no (até agora) jogador mais bem pago da NBA. Números de superestrela para um jogador que não era considerado suficientemente consistente e completo para ser colocado nessa categoria. O extremo de 27 anos, terceira escolha no draft de 2016, melhorou esta temporada quase todos os aspectos do seu jogo e apareceu pujante nos play-offs. Com um título e os troféus de MVP das Finais e da final de Conferência, é justo dizer que justificou a aposta.

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Jaylen Brown foi o MVP das Finais

Não são os únicos a rasgar muito do que foi dito e escrito ao longo dos anos: o letão Kristaps Porzingis, que entrou na liga escolhido pelos Knicks, apelidado de “unicórnio” pelas suas características únicas para um poste, era visto como uma aposta arriscada dos Celtics devido ao historial de lesões. O all-star chegou a Boston depois de ter reabilitado a carreira nos Washington Wizards, mas sempre com incertezas sobre a capacidade de chegar saudável à fase decisiva.

Boston geriu a sua utilização de forma inteligente durante a fase regular e o poste acabou, ainda assim, por falhar boa parte dos play-offs, mas regressou a tempo de contribuir das Finais (onde se voltou a lesionar, falhando os jogos 3 e 4). Frente a Dallas, vingou uma passagem inglória de dois anos e meio, durante a qual não se entendeu bem com Luka Doncic.

Joe Mazzulla, o treinador da equipa, é outro a dissipar dúvidas. Apenas no seu segundo ano como treinador principal, construiu uma equipa com identidade própria, depois de um ano em que o lugar de técnico lhe caiu nas mãos devido a problemas disciplinares do seu antecessor, Ime Udoka. Confesso fã de Pep Guardiola, Mazzulla tem vindo a revelar-se muito metódico e atento aos detalhes – até de uma forma obsessiva, pelo que vai dizendo nas conferências de imprensa e de acordo com os seus atletas. Aos 35 anos, é o treinador campeão mais novo desde Bill Russell, lenda dos Boston Celtics, ter comandado a equipa em 1969 (como treinador-jogador).

Neemias Queta fecha temporada histórica com chave de ouro

O triunfo dos Boston Celtics tem um sabor especial do lado de cá do Atlântico por uma razão óbvia: Neemias Queta, o primeiro jogador português a jogar na NBA, é agora um português campeão da NBA.

O poste de 24 anos cumpre mais um sonho e acrescenta um novo marco histórico a uma carreira única na história do basquetebol masculino português – o único paralelismo possível de traçar é com a carreira de Ticha Penicheiro, base que se sagrou campeã da WNBA pelas Sacramento Monarchs em 2005.

Como era expectável, Neemias Queta não teve muitas oportunidades de jogo durante os play-offs, mas deu para ter minutos nas finais da NBA: marcou dois pontos e fez um desarme de lançamento no jogo 4. Antes, fora utilizado em apenas dois jogos na série contra os Cleveland Cavaliers. Podem considerar-se números modestos, mas são inéditos para um basquetebolista português e mais um capítulo no percurso a pulso de Neemias Queta: do Vale da Amoreira até ao título da NBA.

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