Mais de 800 centrais a carvão no mundo poderiam ser desactivadas de forma rentável

Centrais mais antigas são mais fáceis de desmantelar, por não estarem vinculadas a contratos de aquisição de energia de longo-prazo. Subsídios a combustíveis fósseis são outro obstáculo.

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Central Termoeléctrica da EDP em Sines era a maior produtora de electricidade a carvão em Portugal Diego Nery
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Mais de 800 centrais eléctricas alimentadas a carvão em economias de mercado emergentes poderiam ser desactivadas e substituídas de forma rentável por energia renovável a partir do final da década, de acordo com um estudo divulgado nesta segunda-feira.

Embora apenas 10% das actuais centrais a carvão estejam programadas para encerrar até 2030, muitas mais poderiam encerrar se fossem feitos esforços para identificar oportunidades, mostra uma análise do Institute for Energy Economics and Financial Analysis (IEEFA).

Cerca de 15,5 mil milhões de toneladas métricas de dióxido de carbono são emitidas todos os anos na geração de 2082 gigawatts de energia a carvão em 75 países, cruzando dados do Global Energy Monitor com as estimativas da Agência Internacional de Energia. De acordo com a AIE, as emissões devem ser reduzidas a zero até 2040 para que o aumento da temperatura não ultrapasse o limite de 1,5 graus Celsius.

Mas o desmantelamento das centrais é um processo dispendioso, especialmente se ainda estiverem a saldar dívidas ou se estiverem vinculadas a contratos de aquisição de energia (PPA) que as comprometem a fornecer electricidade durante décadas. "O principal problema é a falta de um fluxo de transacções bem definidas, contratadas e financiáveis de carvão para energia limpa", explica Paul Jacobson, autor principal do relatório do IEEFA.

Os governos têm procurado soluções para financiar essa transição, como é o caso do Mecanismo de Transição Energética do Banco Asiático de Desenvolvimento, mas apenas um pequeno número de projectos tem avançado.

Os 800 planos de transição viáveis identificados pela IEEFA incluem cerca de 600 construídos há trinta anos ou mais, muitos dos quais já pagaram as dívidas e já não estão vinculados a longos PPA.

Com as margens de lucro das energias renováveis a serem agora suficientes para cobrir o custo da substituição das centrais a carvão, o desmantelamento das restantes 200 centrais construídas entre 15 e 30 anos atrás poderá também ser acessível, embora persistam obstáculos, incluindo os subsídios aos combustíveis fósseis que inflacionam o valor dos activos.

O desmantelamento das centrais mais recentes constitui um desafio financeiro ainda maior, sobretudo nos países que ainda estão a construir novas instalações, como o Vietname.

Os grupos ambientalistas têm criticado o sistema de financiamento da transição por estar a pagar aos poluidores para não poluírem. Paul Jacobson defende que são necessárias "barreiras de protecção" para evitar a criação de incentivos perversos. "As empresas que continuam a construir novas centrais eléctricas a carvão e que procuram obter concessões para a construção de energias renováveis não devem ser autorizadas a utilizar esse facto para beneficiarem da transição", sublinha.

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