Altar-palco de Carlos Moedas, a cobertura para casas de banho mais cara do mundo

É como se estivesse sempre em campanha eleitoral e apaixonado pela sua própria figura. Moedas está permanentemente emocionado e comovido consigo mesmo e com o seu percurso político.

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No primeiro dia do Rock in Rio, a TSF fez notícia com uma conversa com Carlos Moedas. Ficámos a saber que o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML) considera que assumiu um “risco político” ao ter mudado a localização do festival da Bela Vista para o parque à beira Tejo. E perguntam os prezados leitores: risco político, em que sentido? Gostava, mas não consigo esclarecer-vos.

Moedas estava, como sempre, entusiasmado: “É uma emoção e uma alegria, porque, na altura, quando houve aqui a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), a grande dúvida que os lisboetas tinham era se este espaço iria ser utilizado. E este espaço são 30 hectares de cidade verde, mas é também para ser utilizado em eventos muito marcantes e este é um desses eventos”, afirmou Carlos Moedas. Chamou-lhe “uma aposta ganha”. Mas porque se sentirá tão orgulhoso da criação daquele parque?

A ideia daquele parque foi de Fernando Medina, Manuel Salgado e José Sá Fernandes. O projeto estrutural é do anterior executivo, que chegou a lançar e realizar o respetivo concurso. Moedas só teve de seguir à risca o que estava concebido. A ideia de Medina, Salgado e Sá Fernandes era fazer um projeto verde a seguir à JMJ. Falo de árvores, bancos de jardim e estruturas básicas. Moedas nunca avançou com esse projeto verde e, por isso, aquele parque não passa de um descampado.

Carlos Moedas nunca é claro quando se trata de distinguir o que foi feito pelo anterior executivo e o que foi feito por si. Não resiste à tentação de receber os louros. Quem acompanhar a comunicação política do presidente da CML pode ser induzido em erro. É uma falha incompreensível porque Moedas acaba por ser corrigido publicamente por pessoas ligadas a outras forças políticas. Mas também aqui Moedas faz de conta. Faz de conta que não está a ser corrigido e que a sua mensagem de obra feita vai passando.

Tudo isto é sempre acompanhado por umas tiradas otimistas de puro marketing, como “Lisboa está a acontecer” ou “Fazer Lisboa.” No discurso de Carlos Moedas é muito difícil distinguir o que é político do que é promocional e propagandístico. É como se estivesse sempre em campanha eleitoral e apaixonado pela sua própria figura. Moedas está permanentemente emocionado e comovido consigo mesmo e com o seu percurso político. Não espera que apareça alguém que lhe faça um elogio, encarrega-se logo disso. Digo sem exagero que os maiores elogios que ouvi a Carlos Moedas foram ditos ou escritos pelo próprio.

O parque à beira Tejo não tem a assinatura de Carlos Moedas, mas existe ali uma estrutura que tem. Falo do famoso altar-palco principal. Teve um orçamento inicial de quase cinco milhões de euros. Moedas anunciou, mais tarde, uma redução desse custo, negociada com a Mota-Engil, de cerca de 30%. A polémica à volta da construção deste palco foi enorme por se afigurar um investimento, ou talvez um gasto, megalómano.

Na altura, Carlos Moedas garantiu que havia “muito interesse” em usar o altar-palco após o evento. Recordo-vos das suas palavras numa entrevista, na TVI, conduzida por José Alberto Carvalho: “Não é o momento agora, José Alberto, de decidir ou de fazer, mas tem havido um interesse enorme, nacional e internacional, de muitos promotores que gostariam de utilizar este palco.”

Onde estarão esses promotores? É que passou quase um ano e o altar-palco não voltou a ser utilizado.

Minto. Está a ser utilizado agora no Rock in Rio, mas não é como palco. A grande obra de Carlos Moedas serve de cobertura a uma bateria de casas de banho. Isto, sim, merecia uma explicação. Em vez de falar da aposta ganha dos 30 hectares de parque do anterior executivo, Moedas deveria explicar aos lisboetas porque se gastou tanto dinheiro num mono que se revela perfeitamente inútil.

Toda a gente se engana e faz más opções. Esta verdade, no caso dos políticos, tem mais consequências e nota-se mais. Não acho indesculpável que Moedas, empenhado como estava em fazer da JMJ um evento histórico, tenha decidido gastar tanto numa estrutura. O que é grave é esta forma de comunicar, e de fazer política, em que nunca assume os erros que comete e em que é evidente a apropriação de créditos alheios. E grave também é ter a ajuda de um jornalismo que não lhe faz perguntas incómodas, perguntas que seriam necessárias.

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