À quarta temporada, The Boys prepara o fim

Os novos episódios da da série criada por Eric Kripke a partir da banda desenhada homónima de Garth Ennis e Darick Robertson chegaram ao Prime Video na passada quinta-feira.

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Homelander e os seus super-heróis em The Boys Jasper Savage
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The Boys nunca foi subtil. Nem nunca quis ser. Esta abordagem satírica ao universo dos super-heróis criada por Eric Kripke a partir da banda desenhada homónima de Garth Ennis e Darick Robertson sempre se gabou de reflectir os tempos em que vivemos e o panorama político e mediático dos Estados Unidos, mesmo que haja um grande desfasamento temporal entre o momento da escrita dos episódios e a altura em que finalmente vão para o ar. Depois de um interregno de dois anos, a série, um enorme sucesso que conta com a produção executiva de Seth Rogen e Evan Goldberg, chegou à quarta temporada. Os três primeiros episódios desta nova leva estrearam-se na quinta-feira passada no Prime Video da Amazon, tendo sete de um total de oito sido mostrados antes à imprensa. É a penúltima época da série e está claramente a preparar o fim.

Mantém-se essa vontade de comentar a actualidade, e nomeadamente as eleições que estão a caminho, sempre com uma grande auto-satisfação, entre acção, drama, humor, sangue, mortes, nudez explícita e sexo – muito, quase sempre da forma mais absurda possível. No segundo destes novos episódios dá-se uma carnificina e uma centopeia humana de anilíngua de um super-herói transforma-se em várias réplicas durante uma convenção de teorias de conspiração de extrema-direita. Enquanto acontece, a luta invade um bat mitzvah temático de The Marvelous Mrs. Maisel – outra série Prime Video que seguramente nunca tinha sido associada a nada do género.

Neste universo, há uma empresa – próxima da Amazon –, a Vought, que gere os super-heróis, faz filmes e séries de televisão com eles e injecta substâncias para criar novas personagens (tem também o seu próprio canal de notícias de extrema-direita). São pessoas com superpoderes que, embora vistas como heróis, se revelam frequentemente amorais, egocêntricas e propensas a causar inúmeros danos colaterais quando praticam a sua actividade, isto quando não estão activamente a matar pessoas. À moda de Watchmen, a banda desenhada de Alan Moore, The Boys também comenta o fascismo inerente a este tipo de histórias de gente com poderes que está acima de tudo e todos, mas aprecia-as muito mais do que Moore. E está também muito preocupada em falar do culto das celebridades. Não o leva porém tão longe quanto I'm a Virgo, a muito mais radical série anti-super-heróis do Prime Video criada por Boots Riley.

À quarta temporada, continua a luta do anti-herói Billy Butcher (Karl Urban) contra Homelander (Antony Starr), o vilão mais poderoso do mundo. Butcher já não está à frente dos seus The Boys, a unidade apoiada pela CIA para combater a ameaça dos heróis que abusam dos seus poderes. Numa corrida contra o tempo, Butcher tenta resgatar a alma de Ryan, o filho da sua defunta esposa e de Homelander (a série dá a entender que se tratou de uma violação, mas nunca o diz explicitamente), que também tem poderes e agora está nas mãos do pai de sangue.

Há duas novas super-heróinas no grupo dos sete principais heróis (é raro serem mesmo sete) da Vought, liderado por Homelander. Uma é Sister Sage (Susan Heyward), a pessoa mais inteligente do mundo, uma mulher negra que preferia que a empresa não lhe chamasse "Sister" só por ser negra, e que por misantropia e falta de fé na humanidade acaba a ajudar Homelander (cujos paralelos com Donald Trump são demasiado óbvios para os podermos ignorar...) num plano que envolve dividir o povo para reinar e instaurar um sistema fascista nos Estados Unidos. A outra é Firecracker (Valorie Curry), que fez sucesso com vídeos de conspirações e notícias falsas.

Juntam-se-lhes ainda, entre outros, um super-herói milionário e sádico tipo Batman, Tek Knight (Derek Wilson), que já tinha aparecido em Gen V, o spin-off universitário da série; um cameo de Will Ferrell a fazer de si próprio; Tilda Swinton a dar voz a um polvo (segundo Kripke, Judi Dench não estava disponível); e muitas das coisas mais estranhas que já aconteceram em televisão, ou em streaming.

Sempre com vontade de se meter no meio de guerras culturais, esta etapa de The Boys acaba por parecer um pouco mais domesticada do que as anteriores. A mensagem geral costuma ser a de que se deve duvidar do poder e de quem disser que vem salvar o mundo. Só que soa a pouco, especialmente quando, à frente, há conversas sobre "genocídio" sem que se tracem paralelos com eventos da realidade actual apoiados tanto pelo lado democrata (que parece representado pelos pouco virtuosos membros dos The Boys) quanto pelo republicano (claramente representado pela Vought e por Homelander). Continua, contudo, a ser hilariante saber que há espectadores (aos quais terá passado ao lado tudo o que é tão explícito na série desde sempre) ofendidos com o facto de uma personagem revelar ser pelo menos bissexual. Ao Hollywood Reporter, o criador Eric Kripke disse: "Eu claramente tenho uma perspectiva e não me esquivo a pô-la na série. Quem quer que queira chamar-lhe woke ou por aí fora, OK: vão ver outra coisa."

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