APAV lança campanha para combater violência contra as pessoas idosas
Associação Portuguesa de Apoio à Vítima apoiou 1671 pessoas idosas vítimas de crime e de violência, no ano passado. A maior parte eram mulheres.
Para combater a violência contra os idosos numa altura em que as queixas e as denúncias estão a aumentar, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) lançou uma nova campanha de sensibilização com o mote “Afinal, o papel principal é meu. É seu. É de todos”. No ano passado, a APAV apoiou quatro pessoas idosas por dia, em média.
Desenvolvida pela agência de comunicação Creative Minds, esta campanha surge numa altura em que “os dados revelam um aumento preocupante no número de casos de violência contra pessoas idosas”, justifica a APAV, em comunicado.
A associação lembra que, no ano passado, apoiou 1671 pessoas idosas vítimas de crime e de violência, três quartos das quais eram mulheres, um aumento de 9,4% em relação a 2022, o que reflecte, portanto, “a crescente incidência deste fenómeno”.
"Em 2023, a APAV apoiou, em média, quatro pessoas idosas por dia, e tem vindo a alertar para o fenómeno da violência contra pessoas idosas que é crescente, e não se limita àquelas formas de violência que possam ser mais visíveis ou facilmente identificáveis”, refere a associação.
As queixas que chegam à APAV incluem também “comportamentos muitas vezes não considerados violentos, mas que retiram às pessoas idosas poder de decisão, autonomia, liberdade e dignidade”, explica Marta Carmo, responsável pelo projecto Portugal mais Velho, citada no comunicado.
Estes actos são “violações de direitos humanos”, além de abrirem “caminho para formas mais graves de violência” e chegarem, eventualmente, a “constituir ou levar à prática de crimes”, sublinha, acrescentando que esta campanha visa “aumentar a consciencialização sobre todas as formas de violência contra os idosos e mobilizar a sociedade para actuar na protecção” dos seus direitos.
Pôr o idoso num lar contra a sua vontade, retirar-lhe a gestão do seu próprio património, ou impedi-lo de ir votar são alguns dos exemplos referidos nesta campanha.
Marta Carmo lamentou, em declarações à Lusa, que a sociedade actual olhe para o envelhecimento como sinónimo de perda de capacidades e maior dependência e que por isso se encare muitas vezes as pessoas idosas "não como cidadãos e cidadãs de pleno direito, mas já quase como pessoas que não têm plena capacidade de exercício dos seus direitos".
"Esta campanha no fundo visa alertar os idosos para se queixarem", mas também "alertar os próprios familiares de que esses comportamentos são uma forma de violência", algo de que, se calhar, eles não têm consciência.
Na maior parte dos casos, a vitimação é continuada. Segundo Marta Carmo, as vítimas não denunciam o crime por vários motivos, que podem ter a ver com o medo de sofrer represálias, de uma escalada na violência ou de que não acreditem no que ela diz. A vítima pode também ter vergonha de admitir que está a ser vítima do seu próprio filho ou da sua própria filha, "aquela pessoa que à partida foi a vítima que ajudou a criar e a formar".
Estes números da APAV referem-se apenas ao trabalho desta associação e representarão apenas uma parte ínfima da realidade, uma vez que as estimativas da Organização Mundial de Saúde indicam que cerca de 80% das pessoas não apresentam queixa às autoridades.
A APAV apela a todas as pessoas "que assumam um papel activo na denúncia e combate a estes crimes” e lembra que a Linha de Apoio à Vítima (116 006) funciona de segunda a sexta-feira, entre as 8h00 e as 23h00, e está disponível através do email lav@apav.pt.
com Lusa