Urgência Azul: proteger os oceanos para combater as alterações climáticas

Estamos num momento-limite em que mudar já não é uma escolha. É necessário alterar a nossa forma de agir no mundo e sobre ele, pelo bem de todos. E esse esforço é tanto coletivo como individual.

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Cobrem mais de 70% da superfície da Terra e desempenham um papel essencial no equilíbrio da biosfera. Os oceanos são fonte de vida e um aliado essencial no combate às alterações climáticas, mas estão em risco, e nunca como hoje a necessidade de os proteger foi tão urgente.

As alterações climáticas são um fenómeno cientificamente comprovado, causado pela atividade humana, e em rápida aceleração. À medida que eventos climáticos extremos fazem cada vez mais headlines em todo o mundo, é fácil compreender porque falamos hoje em emergência climática. O planeta está a aquecer. E os oceanos também, de uma forma alarmante.

Segundo o mais recente relatório State of the Ocean Report 2024 da UNESCO, o ritmo de aquecimento dos oceanos duplicou em 20 anos, e a taxa de subida do nível do mar em 30 anos. No âmbito do mesmo relatório, Audrey Azoulay, diretora-geral da UNESCO, evidencia que as perturbações climáticas estão a ter um impacto cada vez mais forte e transversal – desde a temperatura à acidificação e ao nível do mar –, instando os Estados-membros a investirem na recuperação e conservação das suas zonas marinhas protegidas, além da aplicação do Acordo de Paris.

Isto deve-se ao facto de, apesar de os oceanos se manterem, em média, dentro do limite máximo de aumento de temperatura definido pelo Acordo de Paris (até 2°C acima dos níveis pré- industriais), em alguns pontos críticos no Mediterrâneo, no oceano Atlântico Tropical e no oceano austral a temperatura já ultrapassou esse valor. O ritmo de aumento de temperatura do maior pulmão do planeta tem sido, ao contrário do da atmosfera, constante.

Os oceanos têm a capacidade de absorver um quarto de todas as emissões de dióxido de carbono e de captar 90% do excesso de calor gerado por essas emissões, geram 50% do oxigénio de que necessitamos e são fonte de energias renováveis. A sua grande capacidade de absorção de carbono, em particular, faz deles aliados inestimáveis na luta contra as alterações climáticas. No entanto, a ação humana pode comprometer essa capacidade, com consequências devastadoras.

Hoje, entre as principais ameaças aos oceanos e às suas espécies estão, por exemplo, a poluição, sobretudo por plástico, por resíduos tóxicos, por excesso de nutrientes oriundos de fertilizantes e derrames de petróleo, a sobrepesca, a destruição de habitats, a introdução de espécies invasoras, mas também as emissões de gases de efeitos de estufa, responsáveis pelo branqueamento de corais (em 2023 registou-se o segundo episódio de branqueamento de corais em massa em dez anos), pela subida do nível do mar, pela ocorrência de eventos climáticos extremos cada vez mais intensos e frequentes, e pela acidificação da água dos oceanos.

Estamos num momento-limite em que mudar já não é uma escolha. É necessário alterar a nossa forma de agir no mundo e sobre ele, pelo bem de todos. E esse esforço é tanto coletivo como individual. O secretário-geral da ONU, António Guterres, defendeu, no passado dia 8 de junho, Dia Mundial dos Oceanos, que o alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável e dos objetivos do Acordo de Paris depende de uma ação coletiva para revitalizar os oceanos. Para o líder da ONU, o novo acordo ao abrigo da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar sobre a Conservação e Utilização Sustentável da Biodiversidade Marinha em áreas fora da jurisdição nacional, que vem consolidar o quadro legal para a conservação e proteção da biodiversidade marinha, representa uma esperança de mudança. Mas se a legislação e os incentivos à transição verde são um passo fundamental, a educação e a consciência ambiental são essenciais para o sucesso da sua implementação.

É importante dar a conhecer, sobretudo aos nossos jovens e crianças, os mais afetados por este flagelo, qual é o papel vital que os oceanos desempenham não só a nível ambiental, mas também económico, cultural e social. Dar-lhes a conhecer as causas, humanas, deste problema, e com base nesse conhecimento apontar soluções de mitigação para o presente e para o futuro, de um futuro que será deles.

E essa consciência de que estamos a moldar o futuro que as nossas crianças vão, um dia, herdar leva a um último, e muito importante, ponto: o exemplo. Com base nos dados de que dispomos atualmente, nos grandes avanços tecnológicos e nas soluções inovadoras que surgem constantemente, é nosso dever liderar pelo exemplo e concretizar as necessárias – e urgentes – mudanças.

E aqui, também as empresas, pelo amplo impacto que a sua atividade tem na vida de pessoas, comunidades e ecossistemas, assumem uma grande responsabilidade. Nesta fase, a sustentabilidade ambiental deve necessariamente ser uma prioridade dos negócios, tanto a nível interno como externo, com foco na redução da sua pegada ecológica e na transição para soluções cada vez mais limpas e sustentáveis.

O tema do Dia Mundial dos Oceanos, que se assinalou recentemente, teve como tema “Incentivar a ação para o nosso oceano e o clima”. E, aqui, a palavra-chave é “ação”, para que um dia toda a imensidão dos oceanos seja uma área protegida, fértil e respeitada, e para que consigamos reverter a situação atual e trabalhar ativamente para a construção de um futuro verdadeiramente melhor.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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