La Niña com 65% de probabilidade de se desenvolver entre Julho a Setembro, dizem cientistas

O ciclo entre El Niño, La Niña e uma fase neutra dura normalmente dois a sete anos e pode provocar incêndios, ciclones, inundações e secas prolongadas, com impacto nos agricultores de todo o mundo.

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Uma ave bebe água de uma poça na lagoa Navarro, na Argentina, que secou devido ao fenómeno climático La Niña, em Dezembro de 2022 Agustin Marcarian / REUTERS
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Há 65% de chance de o padrão climático La Niña, caracterizado por temperaturas frias no Oceano Pacífico, se desenvolver entre Julho e Setembro, disse um meteorologista do governo dos EUA na quinta-feira.

Prevê-se que esta mudança da actual fase neutra entre os padrões meteorológicos El Niño e La Niña persista no Inverno de 2024-25 no Hemisfério Norte, com 85% de probabilidades entre Novembro e Janeiro, afirmou o Centro de Previsão Climática (CPC) do Serviço Meteorológico Nacional na sua previsão mensal.

O ciclo entre El Niña, La Niña e uma fase neutra dura normalmente dois a sete anos e pode provocar incêndios florestais, ciclones tropicais, inundações e secas prolongadas, com impacto nos agricultores de todo o mundo.

As culturas geograficamente concentradas são mais susceptíveis a aumentos de preços durante as más condições climatéricas. Isto faz com que os preços globais do trigo e do milho sejam menos susceptíveis de serem afectados pelo La Niña ou pelo El Niño, disse Bill Weatherburn, economista sénior em clima e produtos de base da Capital Economics.

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Depois da influência do El Niño, o padrão de La Niña deverá instalar-se a partir do fim do Verão no Hemisfério Norte Administração Atmosférica e Oceânica dos Estados Unidos (NOOA)

O El Niño é um aquecimento natural das temperaturas à superfície do Oceano Pacífico oriental e central, enquanto o La Niña se caracteriza por temperaturas mais baixas na região do Pacífico equatorial.

"O La Niña está correlacionado com tempo quente e seco na América do Norte (Midwest U.S.), Ásia Oriental (China) e partes da América do Sul (Argentina e partes do Brasil) durante a época de cultivo", disse o meteorologista da Maxar Chris Hyde.

No entanto, para as culturas da África do Sul (milho), do Sul e Sudeste Asiático (cana-de-açúcar e trigo da Índia) e da Austrália, o La Niña é favorável devido à elevada pluviosidade e pode contribuir para um bom desempenho das culturas, para além dos riscos de inundação, disse Isaac Hankes, analista meteorológico sénior do London Stock Exchange Group.

O que La Ninã pode trazer?

La Niña - que é oposto ao El Niño, e daí o paralelismo nos nomes - ocorre quando ventos fortes “empurram” água quente na superfície do Oceano Pacífico perto da costa da América do Sul. Esta movimentação faz com que a água mais fria se desloque para a superfície do Oceano Pacífico, o que desencadeia fortes mudanças na dinâmica geral da atmosfera e possui uma forte influência nas tendências climáticas globais. O fenómeno causa, entre outros eventos extremos, o aumento das chuvas na Austrália e na Indonésia ou o agravamento das secas na região do Corno de África

Os peritos em meteorologia observam que estas correlações são influenciadas pelo momento e pela intensidade do La Niña.

Outras agências, como a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o gabinete meteorológico do Japão, constataram igualmente o fim do fenómeno El Niño e previram a formação do La Niña para este ano.

Para a Índia, a mudança de El Niño para La Niña provavelmente trará uma monção melhor, mas um outro fenómeno chamado IOD (Indian Oscillation Dipole) pode influenciar a intensidade da precipitação, disse Jason Nicholls, o principal meteorologista internacional da AccuWeather.

Um evento IOD positivo conduz a uma monção de verão mais húmida, enquanto um evento IOD negativo conduz a menos humidade e a condições mais secas, acrescentou Nicholls.