Museu Nacional de Arte Antiga entra em obras em Julho à boleia do PRR

Primeiras intervenções incidem sobre o sistema de ar condicionado, as fachadas e o telhado. A renovação do piso intermédio, diz Joaquim Caetano, “está um pouco mais demorada”.

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A conclusão do restauro na Capela das Albertas também está incluída no pacote de intervenções que o PRR destinou ao Museu Nacional de Arte Antiga Daniel Rocha
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O Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) vai iniciar em Julho obras no sistema de ar condicionado e, em seguida, nas fachadas e no telhado, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), disse o director da instituição, Joaquim Caetano, à agência Lusa.

Contactado sobre o ponto da situação das intervenções previstas no quadro do PRR para este museu nacional sediado em Lisboa, Joaquim Caetano revelou que ao longo deste mês uma reorganização interna no MNAA preparará o início das obras. "Depois há uma primeira obra a começar já em Julho, que diz respeito ao ar condicionado, e, a seguir, o processo mais avançado é o da envolvente externa, de fachadas e telhado", descreveu.

De acordo com informação do portal Mais Transparência, foi atribuído ao MNAA um financiamento de 4,97 milhões de euros para intervenções inscritas no PRR a realizar de 18 de Janeiro de 2022 a 31 de Março de 2026, dos quais já foram pagos 1,06 milhões.

As obras inscritas no projecto, indica o mesmo portal, abrangem a conservação/beneficiação da fachada norte, a reabilitação/remodelação das coberturas (ala do antigo Palácio Alvor) e a conclusão do restauro da Capela das Albertas.

Joaquim Caetano referiu que os concursos para as obras serão lançados pela Associação de Turismo de Lisboa: "Por isso temos um conhecimento indirecto dos processos", explicou.

"Estamos à espera que entrem os novos dirigentes para o Património Cultural — Instituto Público e a empresa Museus e Monumentos de Portugal para fazer um ponto da situação", acrescentou o director do MNAA, instituição que acolhe um acervo de mais de 40 mil peças de pintura portuguesa, escultura, artes decorativas e mobiliário dos séculos XII a XIX.

De acordo com Joaquim Caetano, "outro projecto que estava consignado era o da renovação do piso intermédio, onde estão sobretudo as artes decorativas, mas [esse] está um pouco mais demorado porque a orçamentação era bastante superior ao disponível, e trata-se agora de o adequar".

A direcção do museu aguarda actualmente reuniões com a tutela, e depois com os projectistas, para a definição de um calendário, "e só então se poderá saber se o museu fechará na totalidade ou em parte".

Entre 12 de Julho e 29 de Setembro, o MNAA irá apresentar, na Sala do Tecto Pintado, a exposição Épico e Trágico – Camões e os Românticos, com os desenhos preparatórios da pintura A Morte de Camões, de Domingos Sequeira (1768-1837).

A mostra irá evocar o contexto em que o poeta do século XVI se transformou em figura mítica para o Romantismo português, e realiza-se no quadro das comemorações dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões (1524-1580), autor de Os Lusíadas.

Em Janeiro deste ano, João Carlos Santos, então presidente do instituto Património Cultural, e antigo director-geral do Património Cultural, anunciou o montante destinado a alguns monumentos no âmbito do aumento do orçamento do PRR para o Património Cultural de 150 para 216,2 milhões de euros.

De acordo com o então responsável pelo património cultural, 165,8 milhões seriam destinados à requalificação de museus, monumentos e castelos, e 48,4 milhões à requalificação dos teatros nacionais.

O PRR é um programa europeu de aplicação nacional, com um período de execução até 2026, que visa implementar um conjunto de reformas e investimentos destinados a repor o crescimento económico sustentado, após a pandemia.

Expansão à vista?

Noutra frente, este museu nacional que incorporou mais cinco mil peças no seu acervo nos últimos 60 anos continua a aguardar pelas anunciadas obras de expansão que lhe permitirão estender-se aos edifícios já adquiridos na Avenida 24 de Julho.

As últimas grandes obras de expansão do MNAA datam de 1937, "portanto quase há um século", diz Joaquim Caetano.

Em Janeiro, o então primeiro-ministro, António Costa, e o seu ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, anunciaram a aprovação, em Conselho de Ministros, de uma verba de dez milhões de euros para a aquisição de três edifícios destinados à ampliação do museu. Um quarto edifício fora já adquirido para o mesmo efeito pela Câmara Municipal de Lisboa, em 2016.

Os três edifícios cuja compra foi anunciada em Janeiro já foram adquiridos pela empresa de capitais públicos Estamo Participações Imobiliárias, confirmou o director do MNAA à Lusa.

Para o prosseguimento do projecto "tem de haver um plano prévio do museu, um plano de arquitectura e um concurso para as obras, que terão de ser internacionais porque será uma obra grande", observou. "Nós já temos um estudo de volumetria e de ocupação global dos espaços, mas só com os projectistas é que se trabalhará no acerto concreto da museografia", acrescentou Joaquim Caetano.

Para Joaquim Caetano, este alargamento "é absolutamente fundamental, porque nestes últimos 60 anos, o museu recebeu mais de cinco mil novas peças, em aquisições, doações, algumas de grande volume, em escultura e ourivesaria".

"Por outro lado, todos os museus desta dimensão, nacionais, se renovaram nos últimos 20 ou 30 anos devido às novas necessidades nas áreas técnicas, de conservação e restauro, de reservas, de análise e circulação de peças, que se compadecem muito pouco com edifícios antigos", descreveu, sustentando que actualmente se realizam muito mais exposições do que há cem anos, e, por isso, "as peças circulam de forma intensa".

A acessibilidade é outra das questões em jogo: "Levar o museu à Avenida 24 de Julho é para nós essencial porque temos um problema enorme para receber camionetas de visitantes de escolas e turismo. O transporte público também é mais regular e com maior oferta daquele lado do que do lado da Rua das Janelas Verdes".

"Por todas estas razões é imprescindível [avançar com o projecto de expansão]. Agora resta saber se há vontade política para o fazer", sublinhou Joaquim Caetano.

A concretização do projecto deverá permitir a expansão da área expositiva e das reservas do museu criado em 1884, que alberga tesouros como os Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves, obra-prima da pintura europeia do século XV, e a Custódia de Belém, de Gil Vicente, mandada lavrar por Manuel I e datada de 1506.