Cobras, macacos e jacarés incinerados com incêndios que devastam o pantanal do Brasil

A falta de chuva fez com que a época de incêndios florestais começasse mais cedo e se tornasse mais intensa do que em anos anteriores. A vida selvagem e das populações está a ser seriamente afectada.

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Um macaco queimado entre a vegetação devastada pelo fogo no pantanal, a maior área úmida do mundo, em Corumbá, Mato Grosso do Sul, Brasil Ueslei Marcelino / REUTERS
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Uma vista de drone mostra o fumo de um incêndio no pantanal, a maior zona húmida do mundo, em Corumbá, no estado de Mato Grosso do Sul, Brasil, a 12 de Junho de 2024 Ueslei Marcelino / REUTERS
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Uma vista de drone mostra o fumo a subir de um incêndio no pantanal, a maior zona húmida do mundo Ueslei Marcelino / REUTERS
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Uma cobra queimada encontra-se entre a vegetação devorada pelo fogo no pantanal, no estado de Mato Grosso do Sul, Brasil Ueslei Marcelino / REUTERS
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Uma vista de drone mostra o fumo do fogo em cima das árvores que ardem entre a vegetação do pantanal Ueslei Marcelino / REUTERS
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O agricultor Cleiton José frente ao fumo qe sobe para o ar devido ao incêndio no pantanal, em Corumbá, no estado de Mato Grosso do Sul, Brasil, a 12 de Junho de 2024 Ueslei Marcelino / REUTERS
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Fogo que se reflecte no rio Paraguai no pantanal, em Corumbá, estado de Mato Grosso do Sul, Brasil Ueslei Marcelino / REUTERS
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Vista de um crânio de jacaré queimado entre a vegetação queimada no pantanal, a maior área húmida do mundo Ueslei Marcelino / REUTERS
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O guia de pesca Amilton Brandão navega pelo rio Paraguai enquanto o fumo do incêndio no pantanal, a maior zona húmida do mundo, sobe no ar Ueslei Marcelino / REUTERS
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Fogo que se reflecte no rio Paraguai no pantanal, a maior zona húmida do mundo, em Corumbá, estado de Mato Grosso do Sul, Brasil Ueslei Marcelino / REUTERS
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O agricultor Donizete Silva é fotografado em frente à sua casa enquanto se levanta fumo do incêndio no pantanal, a 12 de Junho de 2024 Ueslei Marcelino / REUTERS
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Uma vista de drone mostra o fumo do fogo a subir no ar enquanto as árvores ardem entre a vegetação do pantanal Ueslei Marcelino / REUTERS
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O agricultor Cleiton José monta o seu cavalo para afastar o gado de um incêndio no pantanal Ueslei Marcelino / REUTERS
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O agricultor Cleiton José monta o seu cavalo para afastar o gado de um incêndio no pantanal Ueslei Marcelino / REUTERS
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As carcaças queimadas de macacos, cobras e jacarés pontuam as extensões carbonizadas do outrora verdejante pantanal brasileiro, o maior pântano tropical do mundo. Ao cair da noite, uma torre de fumo âmbar ilumina o céu. Não há descanso para o fogo ou para os animais que tentam fugir.

“O fogo é de grandes proporções, não há tempo para eles fugirem”, diz Delcio Rodrigues, director do Instituto ClimaInfo. “Às vezes, eles nem têm para onde fugir.”

O padrão climático El Nino, sobrecarregado pelas alterações climáticas, secou os rios da região e interrompeu as habituais inundações sazonais, deixando o ecossistema vulnerável aos incêndios. Este ano ameaça ultrapassar 2020 como o pior ano de incêndios florestais registados no pantanal, quando as chamas mataram cerca de 17 milhões de vertebrados, de acordo com um estudo publicado na Scientific Reports.

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Uma vista de drone mostra o fumo no ar enquanto as árvores ardem entre a vegetação no Pantanal, a maior zona húmida do mundo, em Corumbá, Mato Grosso do Sul, Brasil REUTERS/Ueslei Marcelino

O Património Mundial da UNESCO, que cobre uma área mais de duas vezes superior à de Portugal, alberga a maior espécie de onça-pintada do mundo, bem como espécies como a anta e o tamanduá-bandeira, em vias de extinção.

Os especialistas alertam para os riscos que correm estas populações, numa altura em que a região entra na época mais arriscada para os incêndios florestais, que normalmente atingem o seu pico em Setembro. As alterações climáticas e os incêndios acabam por alterar completamente o ambiente. A longo prazo, há uma redução da biodiversidade e perda de habitat”, disse Rodrigues.

Os animais selvagens não têm para onde ir.

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Fátima Brandão, de 59 anos, observa o fumo do incêndio no Pantanal, a maior zona húmida do mundo, em Corumbá, no estado de Mato Grosso do Sul, Brasil REUTERS/Ueslei Marcelino

Fátima procura galinhas numa nuvem de fumo

Os incêndios não afectam apenas a vida selvagem. Fátima Brandão vai à procura das suas galinhas no quintal, no meio de um véu de fumo dos incêndios que estão a alastrar mais rapidamente do que nunca na maior zona húmida tropical do mundo. Aqui nunca houve fumo. O sol brilhava claramente e o céu era sempre azul. Agora, toda a colina está a arder e o fumo encobriu toda a área, disse ela.

A falta de chuva este ano fez com que a época de incêndios florestais começasse mais cedo e se tornasse mais intensa do que em anos anteriores. Dados de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostraram que as queimadas no pantanal aumentaram quase dez vezes este ano. Os números alarmam a região, que entra na estação mais arriscada para incêndios florestais, que geralmente começa em Julho e atinge o pico em Agosto e Setembro.

Desolada, Fátima Brandão, que nasceu e cresceu aqui, garante que nunca tinha visto nada assim. Os habitantes do pantanal são, em sua maioria, fazendeiros, caçadores e pescadores, e estão cada vez mais a voltar-se para o ecoturismo para aproveitar a rica biodiversidade das áreas húmidas.

As alterações climáticas ameaçaram esse meio de subsistência, aumentando a incidência de incêndios que assolam a região, matando a flora e a fauna. Estamos a respirar este fumo. Quem é que vai trabalhar nestas condições?, constata Brandão, queixando-se de que o cheiro era acre e que havia pó por todo o lado na sua casa.