Raimundo avisa PS: “Quem enfiar a cabeça na areia não está a servir o país”

Sobre a viabilização do Orçamento, Paulo Raimundo lança o aviso ao PS: “Quem enfiar a cabeça na areia (...) não está a servir o país”. O resultado da CDU “ficou aquém” mas foi “construído a pulso”.

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A eleição de João Oliveira é “a garantia de intervenção da voz de coragem e insubstituível”, defendeu Paulo Raimundo MANUEL DE ALMEIDA / LUSA
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O resultado da CDU nas eleições europeias “assume um enorme significado político”, mas “ficou aquém das necessidades”, admitiu Paulo Raimundo, em conferência de imprensa, depois da reunião do Comité Central do partido, dedicada a analisar a eleição do eurodeputado João Oliveira. O secretário-geral do PCP não exclui a possibilidade de o país ter eleições legislativas antecipadas e avisou o PS: “Quem enfiar a cabeça na areia e tomar as suas decisões com base em cálculos eleitorais, não está a servir o país”.

Sobre a viabilização do Orçamento do Estado para 2025, Raimundo vincou que era preciso acontecer “uma reviravolta muito grande” para o PCP “acompanhar qualquer Orçamento” vindo da Aliança Democrática, já que o Governo tem uma “política clarinha” a favor dos interesses económicos, e deixou uma garantia: “Aquilo que determina a nossa opção, não tem nada que ver com resultados eleitorais.”

O líder dos comunistas reforçou que o partido está preparado “para qualquer desafio” eleitoral que se siga, “seja para fins de 2025 ou para início de 2025”, apontou, numa referência à possibilidade de o Governo cair.

“Pouco me importa a estabilidade política. O que me importa é a instabilidade na vida das pessoas”, atirou, defendendo que a “única estabilidade garantida é a dos interesses económicos”.

Paulo Raimundo disse ainda esperar que na cabeça dos partidos “não estejam presentes só cálculos eleitorais mas a vida das pessoas”. Considerando que o Orçamento “vai responder a tudo” menos às pessoas, o líder do PCP sublinhou, em resposta a uma pergunta sobre a aprovação do Orçamento por parte do PS, que “quem enfiar a cabeça na areia”, e tomar as suas decisões baseadas em “cálculos eleitorais, não está a servir o país”.

Em relação aos apelos de estabilidade vindos de Marcelo Rebelo de Sousa, Raimundo argumentou que não se podem confundir “desejos com apelos”: “Admito que o Presidente da República tenha o desejo de que o Governo continue” mas a “realidade da vida das pessoas tende a piorar”, independentemente da “máquina de propaganda bem oleada” do Governo.

Resultado "construído a pulso"

A eleição de João Oliveira é “a garantia de intervenção da voz de coragem e insubstituível”, insistiu Raimundo, saudando todos aqueles que não se deixaram “limitar pelo medo, pela chantagem, pelos dogmas do neoliberalismo” e votaram na CDU, congratulando ainda quem viu “para lá das cortinas de fumo, das manipulações e da promoção do preconceito”.

O resultado “ficou aquém”, mas “foi construído a pulso”, depois de a coligação que junta PCP e PEV ter enfrentado a “menorização, a deturpação dos seus posicionamentos, os vaticínios recorrentes sobre o seu desaparecimento”, justificou o líder dos comunistas, acrescentando que a campanha permitiu alargar o espaço dos que “recusam a guerra” e não “desistem da defesa da paz”.

Sobre as sondagens que previam que a CDU não elegesse nenhum eurodeputado, Paulo Raimundo ironizou, dizendo que parecia que “estava escrito nas estrelas [que a CDU não ia eleger], deve ter sido do meteorito que passou”. “Para azia de uns poucos”, não foi isso que se verificou, atirou.

Assumindo que o PCP não tem a “pretensão de fazer as coisas sempre bem”, Paulo Raimundo disse que é preciso ter em conta “o quadro” em que a eleição aconteceu, lamentando que o trabalho dos eurodeputados no Parlamento Europeu não tenha sido difundido.

“Não é transformar derrotas em vitórias”, defendeu o secretário-geral do PCP, que sublinhou o “avanço ligeiro” em termos percentuais, face às eleições legislativas. “Nestas alturas, agarramo-nos a tudo”, admitiu.

Já em relação à possibilidade de a guerra na Ucrânia ter influenciado a quebra no número de votos da CDU, Paulo Raimundo argumentou ter dificuldades em perceber que “o único partido que desde 2024” luta pela paz “seja prejudicado eleitoralmente”.

Numa análise lata dos resultados eleitorais, o secretário-geral do PCP lamentou que estes tenham acentuado o “caminho da Europa nas mãos das multinacionais e onde tudo é negócio”.

Questionado sobre uma eventual candidatura de António Costa ao Conselho Europeu, Paulo Raimundo afirmou que a posição do PCP não está relacionada “com a pessoa concreta” mas insistiu que as “grandes famílias europeias estão em sintonia nas questões fundamentais”.

O problema não são as pessoas mas as políticas, vincou, lembrando quando Durão Barroso presidiu a Comissão Europeia: “Sentimos na pele o que é que isso significou.”

António Costa vai negociar no quadro em que está inserido”, o da “União Europeia sequestrada pelas multinacionais”, frisou Raimundo, dizendo, no entanto, que a eleição do ex-primeiro-ministro para o Conselho, por agora, é “mera especulação”.

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