Macron pede pacto eleitoral contra Le Pen: “Não quero entregar as chaves à extrema-direita”

O Presidente francês reagiu ao anúncio dos Repúblicanos se juntarem à União Nacional, considerando tratar-se de um “pacto com o diabo” e confirmou que não se demite ainda que o seu partido perca.

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Emmanuel Macron escolheu a palavra "Juntos" para encenar a conferência de imprensa de lançamento da campanha eleitoral TERESA SUAREZ / EPA
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O Presidente francês, Emmanuel Macron, pede aos partidos rivais de ambos os lados do centro político que se juntem a ele na formação de uma aliança democrática contra o União Nacional (UN), de Marine Le Pen, nas próximas eleições legislativas que marcou de surpresa para 3o de Junho após a derrota nas eleições europeias de domingo por quase 17 pontos percentuais de diferença.

Para tentar contrariar as sondagens e os anúncios de coligações, à direita e à esquerda, que se vêm desenhando desde domingo, Macron lançou um apelo aos "muitos dos nossos compatriotas e líderes políticos que não se reconhecem na febre extremista" para "construir um novo projecto... uma coligação para governar, uma coligação para agir ao serviço dos franceses e da república".

"Espero que, no momento oportuno, antes ou depois (das eleições), os homens e mulheres de boa vontade que, em conjunto, souberam dizer 'não' aos extremos, se juntem", disse Emmanuel Macron numa conferência de imprensa no Pavilhão Cambon Capucines, em Paris.

Nesse sentido, deu instruções aos partidos que fazem parte da sua coligação para dialogarem com as outras formações políticas como os sociais-democratas, verdes e democratas-cristãos para afastar a extrema-direita, que acusa de defender a exclusão, e a extrema-esquerda, que acusou de anti-semitismo e anti-parlamentarismo.

Num discurso que serviu para lançar a campanha, Macron reconheceu ter cometido erros, dizendo que as pessoas expressaram a sua indignação porque sentiram que não estavam a ser ouvidas. E justificou a decisão de convocar eleições com a necessidade de clarificar a política francesa e combater a extrema-direita.

"Todo o mundo vê as águas da enchente da extrema-direita a subir. Eu não quero dar as chaves do poder à extrema-direita em 2027, por isso admito perfeitamente ter desencadeado um movimento de esclarecimento", disse. "O regresso ao povo soberano é, na minha opinião, a única decisão republicana neste contexto", sublinhou.

Macron esclareceu também que não se demitirá mesmo que a UN tenha a maioria nas eleições, cuja primeira volta se realiza a 30 de Junho e a segunda uma semana depois, a 7 de Julho.

No sistema presidencialista francês, o mandato do Presidente não é colocado em causa pelas maiorias no Parlamento, pelo que Macron permanecerá no cargo por mais três anos e continuará a ser responsável pela defesa e pela política externa. No entanto, se o seu partido Renascimento não tiver a maioria, o chefe de Estado perde o controlo sobre a agenda interna, incluindo a política económica, a segurança, a imigração e as finanças.

Pela sua parte, comprometeu-se a ser mais firme nas questões da imigração, da segurança e da justiça, argumentando que uma extrema-esquerda propensa ao anti-semitismo seria demasiado "laxista", enquanto as resoluções da extrema-direita não resolveriam os problemas e apenas destruiriam o Estado de direito constitucional francês, afirmou.

Macron também criticou a manipulação política dos últimos dias, dizendo que "a máscara caiu" de alguns partidos que procuram forjar "alianças não naturais". Referindo-se ao facto do chefe do Partido Republicanos, Eric Ciotti, ter apelado a uma aliança eleitoral entre os candidatos do seu partido e a UN, considerou que se trata de "um pacto com o diabo" e um "virar de costas à herança dos [ex-presidentes] De Gaulle, Chirac e Sarkozy".

Risco de cisão nos Republicanos

O partido anti-imigração e eurocéptico UN, de Marine Le Pen, deverá emergir como a força mais forte após as eleições, mas poderá ficar aquém de uma maioria absoluta, segundo uma sondagem realizada esta semana.

O pacto proposto por Ciotti, que põe em causa um consenso de décadas entre os principais partidos políticos franceses para impedir a extrema-direita de chegar ao poder, abalou os Republicanos. Os dirigentes do partido convocaram uma reunião de emergência para quarta-feira, tendo alguns afirmado que o tempo de Ciotti tinha acabado. "Ele não será mais o presidente dos republicanos", disse a senadora republicana Agnes Evren à BFM TV. "Vai ser despedido... não tem legitimidade".

A convocação de Macron para as eleições foi recebida com tristeza pelas fileiras da Renascença, com pouca apetência para uma campanha contundente.

Edouard Philippe, antigo primeiro-ministro de Macron e potencial sucessor nas eleições presidenciais de 2027, deu a entender o desânimo da coligação centrista e as dúvidas sobre o papel proeminente que Macron deverá desempenhar na campanha. "Não tenho a certeza de que seja inteiramente saudável para o Presidente da República fazer uma campanha legislativa", disse na BFM TV na terça-feira à noite.