EUA levantam embargo de armas à brigada ucraniana Azov

Unidade da Guarda Nacional da Ucrânia, formada há dez anos por voluntários com ligações à extrema-direita, teve um papel de destaque durante o cerco russo a Mariupol e à siderurgia Azovstal.

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Elementos da Brigada Azov em combate na região de Bakhmut, em Fevereiro de 2023 MARKO DJURICA / REUTERS
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A Administração Biden pôs fim a um embargo de quase dez anos ao envio de armas para a Brigada Azov, uma unidade da Guarda Nacional ucraniana que ficou célebre durante o cerco russo à siderurgia Azovstal, em 2022, e cuja ligação inicial a elementos neonazis foi usada pela Rússia como parte da sua justificação para a invasão da Ucrânia.

Segundo os media norte-americanos, que citam declarações de responsáveis militares ucranianos e de altos funcionários do Departamento de Estado dos EUA, a Brigada Azov vai passar a receber o mesmo armamento que tem sido distribuído pelas restantes unidades de combate da Guarda Nacional da Ucrânia, algo que nunca aconteceu desde que as tropas russas invadiram a península da Crimeia, em 2014.

Nessa altura, a unidade que viria a ser integrada na Guarda Nacional da Ucrânia — e que é hoje, segundo os responsáveis ucranianos, uma força profissional e livre de influências extremistas — era conhecida como Batalhão Azov, um grupo de voluntários formado por elementos ligados à extrema-direita ultranacionalista, que se juntou para colmatar as deficiências militares ucranianas nos combates contra os separatistas pró-russos na região do Donbass.

Essa ligação inicial do Batalhão Azov a elementos neonazis foi explorada pelo Presidente da Rússia, Vladimir Putin, em 2022, para apresentar a invasão da Ucrânia como uma operação de protecção das comunidades russófonas nas províncias do Leste ucraniano e de "desnazificação" da liderança política do país — apesar de a maioria dos primeiros voluntários do Batalhão Azov serem falantes de russo e de o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ser um judeu criado numa família russófona.

Os combatentes do Batalhão Azov — então já sob a designação Regimento Azov — destacaram-se no terreno em 2022, durante o cerco russo a Mariupol e à siderurgia Azovstal, tendo conquistado estatuto de heróis na Ucrânia.

Rússia acusa EUA

Segundo o Departamento de Estado norte-americano, o fim do embargo de armas à Brigada Azov — que tinha sido adoptado em 2014, devido a denúncias de violações dos direitos humanos pelos combatentes originais — foi decretado pela Casa Branca após uma investigação que culminou com a saída do grupo da lista negra dos EUA.

Em causa está uma lei de 1997, aprovada sob proposta do senador Patrick Leahy, do Partido Democrata, que proíbe o envio de armas a organizações acusadas de cometerem graves violações dos direitos humanos.

"As mentiras sobre o Azov, que o regime do Kremlin espalha no Ocidente há anos, sofreram um golpe devastador", lê-se num comunicado da Brigada Azov, citado pela BBC. "Receber armas ocidentais e treino dos EUA vai aumentar a nossa capacidade de combate e contribuir para a preservação das vidas e da saúde dos nossos combatentes."

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, reiterou as acusações de que a Brigada Azov continua a ser constituída por "unidades armadas ultranacionalistas" e acusou os EUA de "usarem o povo ucraniano como uma ferramenta na suas tentativas para reprimir a Rússia".

"Eles estão preparados para namoriscar com neonazis", acusou Peskov.

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