Fed mantém taxas e antecipa apenas um corte até ao final do ano

O resultado mais positivo que o esperado na inflação de Maio não foi suficiente para convencer os responsáveis da Reserva Federal a iniciaram uma descida mais rápida das taxas de juro.

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Jerome Powell, presidente da Reserva Federal norte-americana MICHAEL REYNOLDS / LUSA
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Apesar das notícias de descida da inflação recebidas algumas horas antes, a Reserva Federal norte-americana (Fed) decidiu manter as taxas de juro e passou a antever realizar apenas um corte até ao final do ano, quando em Março a expectativa era de que fizesse três.

Não havia, entre os analistas e os investidores, grandes dúvidas sobre a que nível ficariam as taxas de juro nos EUA no final da reunião da Fed iniciada na terça-feira e finalizada esta quarta. E as expectativas confirmaram-se. A taxa de referência da autoridade monetária manteve-se no intervalo entre 5,25% e 5,5%, em que se tem situado desde Julho do ano passado.

Aquilo que todos estavam à espera era dos sinais que os responsáveis da Fed iriam dar em relação à evolução das taxas de juro nos próximos meses. A forma como a inflação, nos primeiros meses deste ano, tinha deixado de caminhar para a meta dos 2%, mantendo-se claramente acima dos 3%, tinha vindo a criar nos mercados e dentro do próprio banco central dos EUA – a ideia de que a Fed não iria ter pressa em começar a descer as taxas, fazendo com que a perspectiva inicial de vários cortes de juro ao longo de 2024 não se concretizasse.

E de facto, esta quarta-feira, a Fed confirmou que não está pronta para pôr em prática uma descida rápida dos custos de financiamento na economia e que continua preocupada com o nível alto da inflação. Não só não desceu nesta reunião as taxas de juro, como os seus responsáveis passaram a prever, em média, que ocorrerá apenas um corte de 0,25 pontos percentuais nas taxas de juro de referência até ao final do ano. Em Março, a previsão era de três cortes de taxas de juro.

Ao início da tarde desta quarta-feira, a divulgação dos dados da inflação de Maio tinham trazido alguma esperança aos mercados.

A taxa de inflação homóloga, que em Abril se tinha cifrado em 3,4%, desceu para os 3,3% em Maio, com a variação mensal dos preços a ser nula. Um resultado melhor do que o esperado, já que as previsões eram, em média, de uma subida dos preços mensal de 0,1%, com a inflação homóloga a permanecer nos 3,4%.

Os indicadores de mercado passaram, nos minutos a seguir à divulgação dos dados da inflação, a apontar para a realização de um corte de taxas de juro em Setembro e de outro em Dezembro.

No entanto, dentro da Fed, o entusiasmo com os números da inflação de Maio não foi tão grande. No comunicado publicado esta quarta-feira no final da reunião, a instituição diz que se registou um “novo progresso modesto” em direcção à meta de 2% na inflação e reviu em alta a sua previsão para este indicador no final do ano de 2,4% para 2,6%.

Ao mesmo tempo, a entidade liderada por Jerome Powell continuou a projectar um ritmo relativamente elevado da actividade económica, que mostra que as taxas de juro altas não estão a atirar a economia norte-americana para uma recessão. “Os indicadores mais recentes sugerem que a actividade económica continuou a expandir-se a um ritmo sólido. Os ganhos de empregos continuaram fortes e a taxa de desemprego baixa”, afirma o comunicado que aponta para uma taxa de crescimento do PIB de 2,1% este ano, com a taxa de desemprego estável nos 4%.

“A inflação ainda está muito alta”

Na conferência de imprensa realizada meia hora depois, o presidente da Fed reforçou estas ideias. Para além de destacar “o ritmo sólido” de crescimento económico, afirmou que “a inflação ainda está muito alta”, explicando que, apesar das descidas registadas, “até este momento do ano, ainda não há confiança suficiente em relação à evolução da inflação que permita começar a cortar as taxas de juro”.

Jerome Powell, contudo, manteve as portas abertas a todas as possibilidades, garantindo que “as decisões serão tomadas reunião a reunião” e assinalando que as previsões que têm para a inflação são “conservadoras”. “Se obtivemos mais bons resultados [como os de Maio], penso que vamos poder baixar as nossas previsões”, afirmou o presidente da Reserva Federal.

O ritmo lento de descidas de taxas agora projectado pela Fed para o que resta do ano tem um impacto que vai bem além dos Estados Unidos. Para a zona euro, a reticência de Jerome Powell em cortar taxas faz com que o Banco Central Europeu, que começou a descer as suas taxas na semana passada, fique mais limitado nas suas intenções de aliviar os custos de financiamento na economia. É que, se o fizer sem que a Fed faça o mesmo, corre o risco de ver o valor do euro cair face ao dólar, fazendo com que os preços dos produtos importados fiquem imediatamente mais altos e provoquem mais inflação.

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