Buraco no ozono: desde 2021 que gases HCFC começaram a diminuir na atmosfera

Redução da concentração dos hidroclorofluorocarbonetos na atmosfera ocorreu antes do previsto. Além do impacto na camada do ozono, estes gases também alimentam o efeito de estufa.

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Estação de Jungfraujoch na Suíça, onde se fizeram medições usadas no estudo Jungfrau.ch
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A concentração dos gases hidroclorofluorocarbonetos (HCFC) na atmosfera começou a diminuir desde 2021, de acordo com um pequeno artigo publicado esta terça-feira na revista Nature Climate Change. Esta é uma novidade importante por duas razões: por um lado, os HCF são gases que provocam a destruição das moléculas de ozono (O3) na estratosfera, ou seja, alimentam o buraco na camada de ozono; por outro, muitas moléculas desta classe de gases têm um potente efeito de estufa, em certos casos milhares de vezes superior ao dióxido de carbono (CO2).

“Os resultados são muito encorajadores”, defendeu Luke Western, primeiro autor do artigo, da Faculdade de Química da Universidade de Bristol, no Reino Unido, citado num comunicado daquela universidade. “As nossas conclusões sublinham a enorme importância de estabelecer protocolos internacionais e em cumpri-los”, adiantou, referindo-se ao Protocolo de Montreal. Aquele tratado internacional para a protecção da camada de ozono foi adoptado em 1987, após se ter descoberto que os gases clorofluorocarbonetos (CFC) lançados na atmosfera causavam a destruição da camada de ozono existente na estratosfera, que protege a superfície terrestres dos perigosos raios ultravioleta.

Originalmente, os CFC eram usados em sistemas como os fluidos para a refrigeração e a parte propelente de aerossóis. Em 1974, os químicos Frank Sherwood Rowland e Mario Molina, da Universidade da Califórnia, descobriram que, na estratosfera, a radiação ultravioleta transformava os CFC, libertando-se átomos de cloro. “O cloro libertado dos CFC destrói o ozono em reacções catalíticas onde 100.000 moléculas de ozono podem ser destruídas por cada átomo de cloro”, lê-se no site do Laboratório de Monitorização Global da Administração para o Oceano e a Atmosfera (NOAA) dos Estados Unidos.

Em 1985, quando a perda de ozono foi descrita pela primeira vez, a luta para travar aquele processo tornou-se urgente. Nesse sentido, o Protocolo de Quioto “introduziu controlos na produção e uso de CFC”, adianta o comunicado.

Os HCFC serviram como substitutos em algumas das funções que os CFC cumpriam e que não havia outras moléculas para o fazer. Embora também destruam as moléculas de ozono, o dano causado pelos HCFC é, no máximo, um décimo do causado pelos CFC. Por volta da passagem do milénio, ao mesmo tempo que a concentração de CFC na atmosfera começou a baixar, a concentração dos HCFC continuava a crescer.

Assim, um dos passos seguintes dados nas várias revisões do Protocolo de Montreal foi o controlo do uso dos HCFC. A diminuição de concentração das várias moléculas de HCFC agora observada por Western e pelos seus colegas parece revelar o resultado dessa decisão. A equipa de investigação observou esta pequena diminuição – menos de 1% entre 2021 e 2023 – através dos dados obtidos pela Experiência Avançada Global de Gases Atmosféricos, que há décadas analisa os gases com impacto no O3, e pela NOAA.

Espera-se que os HCFC deixem de ser produzidos até 2040, à medida que o seu uso vá sendo substituído por outras moléculas. Ao mesmo tempo, as projecções mais recentes diziam que só em 2026 é que o resultado daquelas medidas faria inverter o crescimento da acumulação dos HCFC na atmosfera. Mas o novo estudo mostrou que as medidas produziram resultados meia década mais cedo.

“Sem o Protocolo de Montreal, este sucesso não teria sido possível, por isso isto é uma validação retumbante dos compromissos multilaterais para combater a redução do ozono estratosférico, com benefícios adicionais no combate às alterações climáticas induzidas pelos humanos”, reflectiu Luke Western.

Uma molécula de HCFC-22, um dos hidroclorofluorocarbonetos mais comuns, tem um efeito equivalente a 1760 moléculas de CO2. No entanto, como as concentrações dos HCFC na atmosfera são muito mais pequenas do que a dos gases emitidos pela queima de combustíveis fósseis, como o CO2 e o metano, o seu impacto nas alterações climáticas é muito menor.

“Este estudo destaca a necessidade crítica de se ser vigilante e proactivo na monitorização ambiental, assegurando que outros gases de efeito de estufa e que reduzam o ozono seguem uma tendência similar [da dos HCFC], a qual vai ajudar a proteger o planeta para as futuras gerações”, disse, por sua vez, Isaac Vimont, co-autor do artigo e cientista da NOAA.

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