Marcha contra o racismo lembra vítimas e pede justiça no Carmo onde a ditadura caiu

Já no fim do protesto houve um confronto entre manifestantes antifascistas e nacionalistas.

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Já em Janeiro houve um arraial multicultural contra o racismo e a islamofobia Nuno Ferreira Santos
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O círculo com 14 nomes de alegadas vítimas do racismo em Portugal foi esta segunda-feira colocado no Largo do Carmo, em Lisboa, no final de uma marcha anti-racista repleta de palavras de ordem, cor e música, que surpreendeu os turistas. Quando tudo estava a terminar, houve confronto com manifestantes da extrema-direita.

Há 29 anos, no Dia de Portugal, foi assassinado Alcindo Monteiro, em Lisboa. O crime ocorreu perto de onde esta segunda-feira os manifestantes de reuniram e começaram o protesto. Há uma placa alusiva na Rua Garrett, colocada pela Câmara de Lisboa há quatro anos.

Alcindo Monteiro, cidadão cabo-verdiano assassinado por um grupo neonazi, em 1995, foi uma referência presente na marcha. O seu nome estava bem visível em vários dos cartazes com que os participantes desfilaram pela Rua Garrett, seguindo depois pela Rua Serpa Pinto, Travessa do Carmo e, finalmente, o Largo do Carmo. É, aliás, um dos 14 evocados em pequenos posters vermelhos que foram colocados, em círculo, no chão do Largo do Carmo, onde há 50 anos caiu a ditadura.

"Racistas, fascistas, chegou a vossa hora, os imigrantes ficam e vocês vão embora", gritavam os manifestantes com a ajuda de megafones e ao som dos tambores que estiveram sempre presentes ao longo da marcha, tal como vários elementos da PSP, apoiados em viaturas.

Para Flávio Almeida, porta-voz do movimento Vida Justa, esta iniciativa tem como objectivo fazer com que "não caia no esquecimento o que aconteceu no 10 de unho, com a morte de Alcindo Monteiro". Mas também mostrar que "o combate anti-racista não pode ser dissociado da questão material e que não é o combate de um dia, é um combate de todos os dias".

Para José Falcão, da organização SOS Racismo, o Governo devia avançar já com a legalização de todos os imigrantes e dar-lhes o direito de voto, além de aprovar a criminalização do racismo. O dirigente associativo congratulou-se por a questão anti-racista mobilizar cada vez mais pessoas e associações, mas deixou um lamento: "Infelizmente quem está no Governo não faz isso".

Seyne Torres, da Frente Anti-racista (FAR), uma das organizações promotoras desta marcha, mostrava-se convencido de que esta jornada faz ainda mais sentido um dia depois do Parlamento Europeu ficar "cada vez mais de direita, de extrema-direita". Por reconhecer que "as políticas da União Europeia influenciam as políticas nacionais", considerou ser determinante "marcar este dia de luta contra o racismo, contra todas as políticas neoliberais, para uma maior democracia e um país mais igualitário".

O colorido dos participantes e a música, a que se sobrepunham as palavras de ordem, apanharam de surpresa os turistas que aproveitaram para registar o momento com as câmaras dos telemóveis, com alguns a sair mesmo dos cafés e restaurantes para verem passar a marcha.

Além da FAR, organizaram esta marcha a Associação Desportiva e Recreativa "O Relâmpago", o Conselho Português para a Paz e Cooperação, a União de Sindicatos de Lisboa e o movimento Vida Justa.

Confrontos

Já por volta das 18h, junto ao Padrão dos Descobrimentos, houve um confronto entre manifestantes antifascistas e nacionalistas. A PSP teve de intervir para pôr fim à situação.

A Unidade Especial da Polícia teve de separar manifestantes de ambos os lados, constatou a Lusa no local. Depois de separar os dois grupos, a PSP usou bastões sobre estes manifestantes.

Os enfrentamentos ocorreram após cerca de meia hora de provocações mútuas entre os dois movimentos que se encontravam separados por poucos metros. Além de cânticos, houve arremesso de balões com tinta, tochas e potes de fumo. Na sequência dos incidentes, a PSP alargou o perímetro de segurança, afastando também turistas que se encontravam no local.