João Oliveira eleito: “A voz do povo continuará a fazer-se ouvir” na Europa

A CDU perdeu um dos dois eurodeputados mas, assim que João Oliveira anunciou a sua eleição, a noite foi de festa.

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"A luta continua", frisou João Oliveira, o único eleito da CDU, no discurso de vitória JOAO RELVAS / LUSA
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Na sala do hotel Sana Metropolitan, na rua Soeiro Pereira Gomes — a mesma da sede do PCP — a noite eleitoral foi vivida com muita expectativa. Só perto das 23h30 os militantes comunistas viram a eleição de um eurodeputado confirmada, quando o próprio João Oliveira anunciou que tinha sido eleito. “A voz do povo continuará a fazer-se ouvir no Parlamento Europeu”, declarou. A CDU perdeu um dos representantes na Europa mas a noite, que até aqui tinha sido silenciosa, rapidamente se tornou de festa.

As projecções das televisões foram recebidas em silêncio na sala do hotel que acolheu os militantes da CDU, já que em todas elas, no melhor cenário, a coligação que junta PCP e PEV elegia apenas o cabeça de lista, João Oliveira. A previsão da RTP/Universidade Católica antevia entre 3% e 5%, a do ICS/ISCTE/GfK Metris previa 2,8%-5,8% e a da Intercampus era de 2,3-5,3%.

Uma hora mais tarde, pelas 21h15, João Oliveira — que esteve a acompanhar a noite eleitoral na sede do partido, acompanhado por Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP — reagiu ao cenário pouco favorável.

Recebido com fortes aplausos, bandeiras e cânticos por uma assistência marcadamente jovem mas também composta por personalidades como António Filipe, histórico deputado do PCP, Isabel Camarinha, ex-secretária-geral da CGTP ou Bernardino Soares, antigo presidente da Câmara Municipal de Loures, o cabeça de lista da CDU nunca utilizou a palavra derrota.

O cabeça de lista da CDU lançou ataques às “manobras abjectas”, numa referência ao artigo do jornal Politico, que incluía os dois eurodeputados comunistas na lista dos “melhores amigos” do Kremlin, que acusou de “fabricar rankings para condicionar o posicionamento coerente de quem defende a paz”.

“Se julgam que nos condicionam, podem continuar a gastar dinheiro que nós continuaremos a defender a paz”, frisou, elogiando quem não se deixou "condicionar pelo medo" e quem conseguiu "ver para lá das cortinas de fumo e das manipulações".

Seja quando apontou para “a batalha que a partir de amanhã” começa para a “construção de um futuro melhor”, ou quando referiu que a CDU não “baixa os braços”, o discurso do candidato foi sempre optimista e atingiu mesmo o ponto alto no final da intervenção. “A luta continua”, atirou.

"Para o que der e vier"

Horas mais tarde, já perto das 23h30, João Oliveira voltou a entrar na sala, desta vez, para anunciar a sua eleição. “A voz do povo continuará a fazer-se ouvir no Parlamento Europeu”, afirmou o cabeça de lista da CDU, num curto discurso, em que reassumiu o "compromisso político” com o povo “para o que der e vier”.

Paulo Raimundo reforçou as "circunstâncias adversas" da campanha, em que a comitiva lutou "contra ventos e marés". “Nem outros tiveram resultados extraordinários, nem a CDU desapareceu”, respondeu o secretário-geral do PCP, em referência às sondagens que previam que a CDU não elegesse e que davam o Chega a crescer.

“Hoje festejemos para amanhã voltar ao combate”, frisou Paulo Raimundo, notoriamente feliz com o resultado alcançado por João Oliveira, que conseguiu 4,12% dos votos (162. 625 votos).

Em queda livre no Parlamento Europeu desde 2014, quando recolheu 416.446 votos, o que em percentagem representou 12,68% e se traduziu em 3 mandatos, as últimas eleições europeias não foram um mar de rosas para os comunistas.

Em 2019, a CDU desceu de três eurodeputados para dois e conquistou 228.157 votos (6,88%), número que só por pouco não significou a perda de metade dos votos face às europeias passadas. Ainda assim, João Ferreira — mais tarde substituído por João Pimenta Lopes, para candidatar-se às autárquicas de 2021, em que foi eleito vereador da Câmara Municipal de Lisboa — e Sandra Pereira rumaram a Bruxelas.

Também as sondagens da última semana não foram animadoras para a CDU, sendo que só no barómetro da Universidade Católica, para PÚBLICO, RTP e Antena 1, a coligação chegava aos 4%. Em nenhuma das sondagens era dado como certo que João Oliveira fosse eleito, já que, normalmente, a percentagem necessária para um candidato integrar o Parlamento Europeu é, precisamente, a dos 4%.

Depois de não ter conseguido eleger na Assembleia Legislativa dos Açores em 2020 e de ter visto esse mesmo cenário repetido em 2024, a votação na CDU tem caído sempre que os portugueses vão às urnas.

Nas recentes eleições antecipadas na Madeira de 2024, os comunistas ficaram de fora do parlamento madeirense e nas legislativas de 10 de Março deste ano a CDU desceu de 6 deputados (em 2022) para apenas quatro.

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