Iniciativa Liberal elege dois e proclama-se a grande “vencedora” da noite
João Cotrim de Figueiredo e Ana Martins eleitos. “Somos os grandes vencedores da noite. Somos os vecedores do futuro”, proclamou Rui Rocha. “Viemos para ficar”, disse Cotrim, ante audiência eufórica.
Nos carris existentes sob a nave central das antigas Oficinas II do Metropolitano de Lisboa, em Calvanas, no Campo Grande, onde a Iniciativa Liberal (IL) instalou o seu quartel-general para a noite eleitoral deste domingo, existia apenas uma composição estacionada, lá ao fundo, na linha mais afastada. Do lado de fora, ao ar livre, havia outras tantas. De igual modo, a entrada do primeiro posicionado nas listas da IL às eleições europeias de 2024 no hemiciclo de Estrasburgo era, à partida, dada como um cenário quase certo. E existia também a expectativa dos liberais de fazerem entrar, pelo menos, mais um elemento no Parlamento Europeu. E ela confirmou-se.
Os liberais contavam ser já um dos vencedores da noite, uma vez que não tinham nenhum eurodeputado e a generalidade das sondagens, feitas nas últimas semanas, apontavam como quase certa a eleição de João Cotrim de Figueiredo. As mesmas projecções indiciavam ainda uma possibilidade de a IL eleger a “número 2” da lista, Ana Martins.
Isso mesmo fora expresso meia-hora antes do anúncio das primeiras projecções pelo deputado Bernardo Blanco, quando disse aos jornalistas que esperava “um bom resultado” e que isso se deveria equiparar à eleição do cabeça-de-lista João Cotrim de Figueiredo. “O objectivo é a eleição de um eurodeputado, mas podemos eleger um segundo”, disse. Mas, hora e meia depois, já aparecia em toada jubilatória a agradecer a quem havia contribuído para o que qualificou com uma “vitória” e a admitir a luta pelo terceiro eurodeputado.
Foi ao som de “People Have The Power”, de Patti Smith, que João Cotrim de Figueiredo e Ana Martins, os dois primeiros da lista da Iniciativa Liberal a estas eleições europeias, entraram na sala das antigas oficinas do Metropolitano de Lisboa, no Campo Grande. Apesar de, a esta hora, não se ter confirmado a eleição do “número três”, António Costa Amaral, como havia sido admitido ao início da noite, os liberais têm bastantes motivos para sorrir. A começar pelo facto de terem obtido o melhor resultado eleitoral de sempre.
Isso mesmo foi sublinhado por Cotrim de Figueiredo no seu muito emotivo discurso, perante uma eufórica falange de apoiantes, na qual predominavam os rostos mais novos. “Vou medir bem as minhas palavras. Que grande vitória da IL!”, proclamou, suscitando o júbilo generalizado. “Vou para Bruxelas, mas não vou sozinho. Levo a Ana Martins também”, anunciou, rodeado por dirigentes liberais. Ana Martins, ao lado, tinha a felicidade estampada no rosto.
Assinalando o facto de mais de 350 mil portugueses “terem confiado na Iniciativa Liberal”, Cotrim de Figueiredo agradeceu-lhes o melhor resultado eleitoral de sempre desta força política surgida há pouco mais de meia-década. “Desmentimos os velhos do Restelo que diziam que o liberalismo não tinha hipóteses. Tem sim!”, afirmou, emocionado. E fez uma promessa: “Viemos para ficar. Estamos qui para não dar tréguas nem ao socialismo nem aos populismos”.
Depois de agradecer a Rui Rocha, o líder do partido, Cotrim disse que a IL “é a única força política a ir buscar os votos dos descontentes, a única força capaz de combater os oportunistas que se aproveitam do medo”. E apontou baterias aos “extremos”. “É possível combater a desesperança e o voto estéril”.
Rui Rocha retribuiu os elogios de Cotrim em duplicado e agradeceu-lhe o papel que desempenhou não apenas nesta campanha, mas na história do partido. Mas, antes disso, proclamou: “Somos mesmo os vencedores desta noite! Somos os vencedores do futuro”.
As celebrações, na verdade, começaram logo pelas 20h, quando as televisões avançaram as primeiras projecções de possíveis resultados, com base em sondagens feitas à boca das urnas. E elas colocavam a IL com um resultado a oscilar entre os 8% e os 12%. Muito acima, portanto, do que seria expectável, já que as sondagens dos últimos dias davam aos liberais no máximo 8%.
É verdade que haveria sempre motivos para celebrar. Nas europeias de 2019, quando o partido contava ainda pouco tempo de existência, os liberais conseguiram apenas 0,88% dos votos contados, correspondentes a 29.120 cruzes nos boletins de voto.
Passados cinco anos, porém, e com o partido a assumir-se como o quarto em termos de representação na Assembleia da República, consequência dos quase 320 mil votos conseguidos nas legislativas de 10 Março passado, que confirmaram os oito assentos ganhos em 2022, as expectativas estavam muito mais elevadas. Isso mesmo havia sido admitido, nas últimas semanas, com o decorrer da campanha eleitoral, tanto por João Cotrim de Figueiredo, como pelo presidente do partido, Rui Rocha.
Uma “fezada” alimentada pelos cenários virtuais resultantes das sondagens, que apontavam para uma votação a oscilar entre os 5% e os 8%. O que dava a certeza de uma prestação acima da conseguida, há três meses, para as legislativas, nas quais os liberais haviam arrebatado 319.685 votos, correspondentes a 4,94% do total. Um resultado que foi superado neste domingo.