O basquetebol português continua a ser um pelouro do Benfica
O FC Porto melhorou no terceiro jogo da final, mas não o suficiente para impedir o Benfica de ser tricampeão nacional nesta segunda-feira. Norberto Alves é um homem com “toque de Midas”.
Três títulos nas últimas três temporadas e um palmarés que vai nos 30 campeonatos, mais 18 do que a equipa que vem a seguir. É isto que tem feito – e continua a fazer – o Benfica, que conquistou, nesta segunda-feira, o campeonato nacional de basquetebol 2023-24.
Frente ao FC Porto, que tem 12 títulos, a final ficou fechada com um 83-76, no pavilhão da Luz, encerrando em 3-0 a série à melhor de cinco jogos. A equipa portista até foi mais consistente durante a época regular, mas o Benfica, que nem arrancou bem, acabou por encarrilar para uma ponta final de temporada tremenda, mantendo o jejum do rival que já dura desde 2016.
Tudo isto foi possível pela qualidade individual dos atletas “encarnados”, que é superior à do FC Porto a nível de profundidade do plantel, mas não pode ser dissociado do “toque de Midas” do treinador Norberto Alves.
Cinco dos últimos seis campeões nacionais tiveram Norberto Alves no banco – três vezes o Benfica, duas a Oliveirense. Só o Sporting, pelo meio, interrompeu o domínio do treinador de 56 anos, que continua a “tomar conta” da Liga portuguesa.
Nesta segunda-feira, porém, o terceiro jogo foi de estirpe diferente dos dois primeiros. O FC Porto subiu bastante de rendimento e houve uma grande propaganda ao basquetebol, com uma partida rica no plano individual e colectivo – além do equilíbrio e da emoção até ao final.
Nessa fase do jogo, foram os "velhotes" Betinho, de 39 anos, e Douglas, de 38 (e experiência de NBA), a segurarem o campeonato ao Benfica.
Superioridade alternada
Num pavilhão da Luz lotado por 2400 pessoas, o jogo começou com algum acerto do FC Porto nos lançamentos longos, sobretudo pela parca réplica dada ao homem livre. A equipa portista estava a fazer bons bloqueios indirectos fora da bola e o Benfica demorou a adaptar-se a isso.
Do lado “encarnado” havia um excesso de aposta em isolamentos, algo que o FC Porto estava a controlar ao medir bem os momentos de dois contra um, além de obrigar jogadores menos capazes tecnicamente a colocarem o drible no chão.
A equipa portista foi para a primeira paragem a vencer por cinco pontos, mas a boa entrada de Douglas no segundo quarto deu ao Benfica uma energia diferente a defender.
Douglas entrou forte e a defesa começou a “apertar” o base portista Miguel Maria e isso não só pressionou o “dono da bola” como empenou os momentos em que o base conseguia soltar a bola, porque o fazia sempre sob pressão. Isto levou o FC Porto a somar turnovers e a dar ao Benfica lances de transição e superioridades numéricas.
O Benfica teve também mais momentos em que conseguiu activar Carter em zonas interiores, depois de uma fase inicial na qual não conseguia trocas defensivas para o poste com adversários mais frágeis fisicamente – e quando conseguia, o FC Porto fazia bem o dois contra um.
A equipa “encarnada” foi para o intervalo a vencer por 41-35, vantagem que seria facilmente anulada por duas boas posses de bola – algo que aconteceu.
O FC Porto, com boa defesa e três ataques consecutivos de sucesso, virou a partida e Norberto Alves começou a ir ao banco testar soluções – e pode fazê-lo, porque a profundidade do plantel dá para isso, sobretudo quando do lado do FC Porto se registavam as ausências neste jogo de Anthony Barber e Cleveland Melvin, dois jogadores de muita utilização.
Betinho e Douglas seguraram
Alguns dos jogadores mais proeminentes do Benfica não estavam em “dia sim” e isso manifestou-se em algo mais fácil de explicar do que complexas variantes tácticas: nesta fase tratava-se, pura e simplesmente, de acerto no lançamento.
A equipa do Benfica não estava necessariamente a criar más situações de tiro, mas o FC Porto estava com um aproveitamento bem maior. O jogo estava equilibrado e a diferença de cinco pontos, a favor do FC Porto, arrastava-se até ao último quarto.
O Benfica veio para os minutos finais com Broussard e Douglas em campo em simultâneo e a conseguirem prender jogadores do FC Porto nos bloqueios directos. Isto criou situações de lançamento favoráveis e em zonas mais próximas do cesto.
O experiente Douglas, com tarimba de NBA, já estava a ser importante na defesa e veio para o último quarto a tomar conta da partida no ataque, ora em jogadas de isolamento individual, ora em penetrações pós-bloqueio.
Com o Benfica a vencer por cinco – e o pavilhão a ferver –, Douglas e Carter fizeram um dois contra um à saída do meio-campo e forçaram o FC Porto a uma violação de campo, tirando alento aos "dragões".
Com quatro pontos de diferença, o FC Porto poderia reduzir para dois numa transição, mas Carter, com quatro faltas, veio “do nada” para um grande “abafo”. Este momento poderia ter sido fundamental para impedir o tricampeonato e não só não foi como Betinho "acabou com a partida" logo a seguir, com um triplo.
Betinho e Douglas usaram a vasta experiência de quase 40 anos cada um para ajudarem a equipa na parte final, na defesa e no ataque.
No plano individual, Douglas e Carter, com três roubos de bola cada um, foram essenciais na defesa, enquanto no ataque os mais profícuos foram Broussard, com 21 pontos, e Drechsel, com 23, tendo ambos somado seis ressaltos. No FC Porto, Omlid, com 24 pontos e sete ressaltos, foi o que mais contribuiu.