Europeias: ainda não é o fim

Uma nota final para o sucesso, preparado pelo anterior executivo, dos mecanismos de votação, que terão contribuído significativamente para a redução da abstenção.

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“Ainda não é o fim nem o princípio do mundo/calma é apenas um pouco tarde.” Na frase do poeta Manuel António Pina ecoa o resultado das eleições europeias. E ela é, felizmente, verdadeira tanto para Portugal como para a Europa no seu conjunto.

O fim de uma Europa humanista, solidária, cumpridora dos desígnios daqueles que a fundaram como um espaço de paz e de respeito pela democracia e pelos Direitos Humanos está ainda longe ou, pelo menos, esta Europa ganhou mais cinco anos de validade.

É verdade que a extrema-direita continua a subir, mas não é menos verdade que o centro mostrou capacidade para aguentar e que o destino da União Europeia continuará a ser determinado pelas forças reunidas no Partido Popular Europeu e no grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas. Em Portugal, os sociais-democratas e os socialistas continuam, em conjunto, a ter muito mais lugares que as restantes forças partidárias e, mesmo que a direita radical populista tenha conseguido, pela primeira vez, eleger eurodeputados, eles continuam a ser uma minoria, ruidosa, é certo, mas claramente uma minoria.

Para os democratas, a melhor notícia da noite foi mesmo a quebra estrondosa do Chega em comparação com as eleições legislativas. Uma diminuição para a qual terá contribuído certamente a subida da Iniciativa Liberal, o grande vencedor da noite, que com um excelente cabeça de lista mostrou que, com inteligência, o combate à subida das forças radicais de direita se pode, e deve, fazer prioritariamente à direita.

Sem uma substancial diferença nos resultados do PS e do PSD, a grande derrota foi da estratégia do Governo de anunciar sofregamente, nas últimas semanas, uma série de medidas simpáticas para os portugueses, que mostraram mais maturidade democrática que alguns dos seus governantes. Exige-se menos power points e mais governação.

O país que sai das europeias continua empatado, mas desta vez a vitória foi mesmo para Pedro Nuno Santos, que obteve um resultado importante, que reforça a sua liderança à frente dos socialistas, mas que também não chega para embandeirar em arco. Exige-se mais visão estratégica e menos arroubos entusiásticos.

Uma nota final para o sucesso, preparado pelo anterior executivo, dos mecanismos de votação, que terão contribuído significativamente para a redução da abstenção. O país moderno mostrou-se, em absoluto contraste com o arcaísmo da Comissão Nacional de Eleições, que, neste domingo, não resistiu a confirmar que ainda vive no século passado.

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