Nova série sobre Lagerfeld: “Aquele não é o tipo pequenito de Adeus, Lenine?”

Kaiser Karl: A Vida de Karl Lagerfeld estreou-se na Disney+ dia 7. São seis episódios sobre o criador de moda antes de ser o kaiser da moda e da Chanel. Daniel Brühl fala ao PÚBLICO.

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Daniel Brühl no primeiro episódio de Kaiser Karl: A Vida de Karl Lagerfeld Disney+
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A ficção televisiva por vezes vem, como numa formação do mar para o surf, em ondas. O “set” é o cenário, como nos desportos marítimos o “set” é o conjunto de vagas que despontam no oceano prontas para ser domadas pelo ser humano. Estamos na fase “séries sobre moda” e dia 7 estreou-se na Disney+ Kaiser Karl: A Vida de Karl Lagerfeld, que se junta a Cristóbal Balenciaga, na mesma plataforma, e a The New Look, da Apple TV+, na maré audiovisual de 2024. “O mundo da moda abre uma caixa glamorosa, é um mundo de extremos, drama e pressão. Isso atrai as pessoas, porque acho que somos todos um pouco vaidosos”, comenta o protagonista de Kaiser Karl, Daniel Brühl.

Baseada no livro Kaiser Karl, do jornalista do diário Le Monde Raphaëlle Bacqué, é um olhar prévio ao Lagerfeld de cabelo branco emproado, de fato e gravata preta que dominou a sua era de alta-costura. Este é o Lagerfeld do pronto-a-vestir, do final dos anos 1970, da rivalidade silenciosa com Yves Saint Laurent, do disco sound e do amor. Daniel Brühl cruzou-se com Lagerfeld há mais de 20 anos em Berlim numa sessão fotográfica e o designer perguntou: “Aquele não é o tipo pequenito de Adeus, Lenine?” Brühl é poliglota, como Lagerfeld, e tem seis episódios (produzidos pela Jour Premier para os estúdios Gaumont) para explorar “a personagem mais icónica e famosa” que alguma vez interpretou, como disse ao PÚBLICO.

A quantidade e a persistência das imagens de Lagerfeld foi uma bênção ou uma maldição para construir a personagem?

Ambas. Claro que estou ciente disso e temos de baixar o volume das vozes na nossa cabeça que nos dizem “vai ser um desastre”. Tive de atirar tudo isso borda fora e atirar-me. Por outro lado, foi muito útil ver todo esse material porque ele era tão bom a promover-se e eu queria estudá-lo na sua versão mais jovem: o homem que ele era antes de se tornar famoso. Estudar as suas atitudes em entrevistas quando tinha, bom, a minha idade [45 anos]. Ele falava e andava de forma diferente. Só conheci pessoalmente a versão mais velha dele e essa é aquela em que pensamos quando pensamos em Lagerfeld.

Hesitou em algum momento em aceitar este papel precisamente por esse Lagerfeld que mais reconhecemos ser um perfeccionista tenaz, até dono de opiniões duras sobre o peso ou as escolhas de vestuário das mulheres?

Bem sei. A humanidade é defeituosa. Todos temos um lado negro, a vida é isso. Alguns escondem-no melhor do que outros e por vezes a vida faz-nos dizer ou pensar certas coisas. Por um lado, eu sabia que este iria ser o jovem Lagerfeld, que não iríamos por esse caminho. Talvez se levantem questões se a série continuar, mas não pensei muito nisso. Abordei a personagem com muito respeito, admiração e empatia. As falhas tornam-no num ser humano completo, mesmo quando é manipulador. Mas de onde vem isso, de onde vêm os comentários ou a ira? Temos de nos questionar sobre isso, sobre o que aquela pessoa passou. E vemos muito sofrimento, distúrbios alimentares, o medo vindo da sua educação. O que me interessa são as contradições, a complexidade de uma personagem.

Interessa-se por moda. Como descreveria o estilo Lagerfeld e, em particular, a forma como ele mudou a moda na época retratada na série e no futuro?

Ele abriu muitas portas e janelas para deixar entrar alguma brisa fresca em Paris, que era um templo da moda tão lapidar com os seus deuses tão admirados. E chegou o alemão, o pequeno mercenário. É graças a ele que as pessoas cool de Nova Iorque vieram a Paris [ver os desfiles] e se começou a questionar o elitismo da velha alta-costura e a valorizar a abordagem do pronto-a-vestir. Tudo isso é graças a Karl Lagerfeld. Na altura, ele era um camaleão. Adaptou-se às ofertas que tinha e criava um desenho incrível para a Chloé e, no dia seguinte, algo completamente diferente e espantoso para a Fendi. Sei que a Chanel é o grande passo e tenho esse arco em mente para a personagem se a série continuar, e aí definir-se-á mais o seu estilo, a sua inspiração pela art déco, pelo rococó. Estou muito curioso para explorar quem era Lagerfeld nessa altura.

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