Para Portugal, ainda bem que o jogo com a Croácia foi “a brincar”

Se fosse um jogo oficial, Roberto Martínez teria motivos fortes de preocupação. Sendo de preparação para o Euro 2024, pode respirar de alívio – mas não muito, que o que se viu não foi bonito.

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Portugal e Croácia em duelo no Jamor Pedro Nunes / REUTERS
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No jogo frente à Finlândia, o desempenho da selecção portuguesa foi definido nestas páginas como “um bom treino, mas um mau jogo”. Neste sábado, frente à Croácia, em novo particular de preparação para o Euro 2024, o que se passou não foi bom em qualquer prisma de análise.

Portugal perdeu (2-1) frente aos croatas, no Estádio do Jamor, e só o parco engenho adversário na definição das jogadas impediu um resultado bem mais avolumado, sobretudo na primeira parte, período no qual Portugal foi exposto vezes sem conta.

Este voltou a não ser um bom teste e expôs um receio antigo sobre esta equipa: o de que sem adversários muito fortes na caminhada até ao Europeu ainda não era possível aferir o comportamento da equipa em vertentes como a reacção à perda da bola ou a coordenação do bloco e das zonas de pressão.

Sendo a Croácia uma equipa capaz de ter a bola e construir desde trás, este jogo poderia ajudar a definir isto, pelo menos em parte. E se assim é, então há motivos para reflectir.

Simetria

Para este jogo, Roberto Martínez criou um desenho até aqui pouco visto. Portugal tem apresentado quase sempre um sistema assimétrico, com um dos alas por dentro, com lateral aberto, e o outro por fora, com o lateral em zonas interiores.

Desta vez, não havendo jogadores como Leão, Neto ou Conceição, a ideia foi ter Félix e Bernardo por zonas interiores, onde são mais fortes, e Dalot e Nuno Mendes projectados em largura.

Aquilo que beneficiaria, em teoria, os dois criativos portugueses acabou por prejudicar a equipa no sentido em que faltou alguém mais capaz de fazer alargar a defesa croata – porque Dalot e Mendes optavam quase sempre pelo cruzamento, o que permitia aos croatas não se preocuparem em saírem numa marcação mais forte, como fariam com um extremo desequilibrador.

Isto permitia à Croácia ter um bloco muito sobrepovoado na zona central, podendo ter os laterais bem fechados, e, por consequência, criar muito “trânsito” na zona na qual Félix, Bernardo e Fernandes precisavam de mais espaço.

Se a isto juntarmos uma total inércia posicional, sem jogadores a aparecerem fora das suas zonas, para baralhar marcações, então não havia como fugir a um marasmo ofensivo, sem soluções criativas além dos cruzamentos sem nexo.

Era mau? Era. Mas pior era o processo defensivo. A pressão portuguesa era feita de forma totalmente descoordenada, com uma primeira linha bem alta e a defesa a não acompanhar em bloco. Resultado: aos 10’, aos 12’, aos 21’, aos 27’, aos 36’ e aos 37’ a Croácia criou sempre perigo ao bater a primeira pressão portuguesa.

A estes podemos somar desenhos aos 33’, com transição não parada com falta, e aos 42’, numa jogada na qual Portugal foi facilmente atraído a um corredor com um passe longo e depois incapaz de rodar com nova bola longa, deixando muito espaço fora para perigo criado na zona de Dalot. Foram oito lances muito semelhantes, sempre com espaço depois da primeira pressão portuguesa ser batida e por má definição das zonas e dos momentos de pressão. E ia valendo Diogo Costa.

O resultado não era o que mais importava, mas tudo isto se passou já depois do 1-0 marcado por Modric, aos 8’, de penálti. O importante era mesmo a falta de sagacidade portuguesa para analisar que o perigo era sempre pela mesma via – sempre. Fosse pela menor audácia da primeira linha de pressão, pelo recuo de um dos médios para junto de Palhinha ou pela subida de toda a equipa em bloco na pressão alta, havia formas de contornar o problema evidente. Em suma, a solução era os momentos e as zonas de pressão estarem bem treinadas, coisa que claramente não acontece por estes dias.

Leão mexeu

Para a segunda parte, Portugal voltou à tal ideia mais trabalhada, com Leão, um ala puro, e Bernardo, mais interior. O efeito foi imediato, com um lance no qual Bernardo arrastou a marcação de Semedo, seduzindo o adversário a fechar por dentro, para depois a bola entrar por fora no lateral, que cruzou para a finalização de Diogo Jota.

O que aconteceu não foi mais do que obrigar a Croácia a esticar mais a linha defensiva, com Semedo por fora de um lado e Leão por fora no lado oposto, e promover trocas posicionais, como fez Bernardo à direita.

A Croácia voltou à vantagem aos 56’, com cabeceamento de Budimir, isolado, tendo sido o único a reagir ao remate à trave de Pasalic.

A selecção nacional foi criando algumas oportunidades de golo, sobretudo em remates de longe, mas nada de consistente. Leão não estava mal no jogo e promovia “esticões” individuais, mas o jogo português não passava muito disso ou de remates de longe.

Como curiosidade, Portugal teve, na primeira parte, dois alas interiores. Depois teve um interior e um mais aberto. Nos últimos 20 minutos, teve dois extremos mais puros. A segunda versão, que é a mais trabalhada, terá sido a mais interessante. De resto, nada de interessante há para contar do que se passou no Jamor.

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