Morreu William Anders, o astronauta que tirou a fotografia do nascer da Terra
O astronauta que fotografou Earthrise morreu, esta sexta-feira, num acidente de avião. William Anders foi um dos primeiros homens a orbitar a lua.
O astronauta reformado William Anders, um dos três primeiros humanos a orbitar a Lua, morreu esta sexta-feira na queda de um pequeno avião no estado de Washington. Anders tinha 90 anos e foi quem tirou a famosa fotografia Earthrise durante a missão Apolo 8 da NASA, em 1968.
Foi o Heritage Flight Museum, perto de Burlington, Washington, que Anders co-fundou, que confirmou a sua morte num acidente de aviação.
O chefe da NASA, Bill Nelson, prestou homenagem a Anders nas redes sociais com uma publicação da imagem icónica da Terra a surgir no horizonte lunar, dizendo que o antigo piloto da Força Aérea "ofereceu à humanidade um dos presentes mais profundos que um astronauta pode dar".
Anders pilotava o avião sozinho quando este se despenhou na costa da ilha Jones, parte do arquipélago das ilhas San Juan, a norte de Seattle, entre Washington e a ilha de Vancouver, na Colúmbia Britânica, informou o Seattle Times, citando o seu filho, Greg.
De acordo com a estação de televisão KCPQ-TV, afiliada da Fox, Anders, residente no condado de San Juan, estava aos comandos de um monomotor T-34 Mentor antigo da Força Aérea, de que era proprietário. As imagens de vídeo transmitidas pela KCPQ mostram um avião a mergulhar dos céus de forma acentuada antes de embater na água junto à costa.
Formado na Academia Naval dos EUA e piloto da Força Aérea, Anders juntou-se à NASA em 1963 como membro do terceiro grupo de astronautas. Só foi para o espaço a 21 de Dezembro de 1968, quando a Apolo 8 descolou na primeira missão tripulada a sair da órbita terrestre e a viajar 240.000 milhas (386.000 km) até à Lua.
Anders era o "novato" da tripulação, ao lado de Frank Borman, o comandante da missão que faleceu em Novembro passado, e James Lovell, que tinha voado com Borman na Gemini 7 em 1965 e, mais tarde, comandou a malfadada Apolo 13.
A Apolo 8, originalmente prevista para 1969, foi impulsionada face à preocupação de que os russos estivessem a acelerar os seus próprios planos para uma viagem à volta da Lua até ao final de 1968. Isto deu à tripulação apenas alguns meses para treinar para a missão histórica mas altamente arriscada.
Transportada por um foguetão Saturno V nunca antes utilizado num voo tripulado e testado apenas duas vezes, a nave espacial enfrentou a delicada e assustadora tarefa de entrar e sair da órbita lunar com segurança. Falhar significava despenhar-se na Lua ou ficar para sempre retido em órbita.
Recordando a missão 40 anos mais tarde, Anders reconheceu que, embora confiante no sucesso, pensava que "havia um terço de hipóteses" de a tripulação "não regressar".
A trepidação transformou-se em triunfo quando a Apolo 8 chegou à lua na véspera de Natal e, durante as suas dez órbitas, cativou uma audiência televisiva mundial de mais de mil milhões de pessoas ao transmitir as primeiras imagens da superfície lunar a poucos quilómetros de distância.
Uma parte importante da missão era fotografar a lua, mas "depois da terceira revolução, a lua era claramente um sítio aborrecido. Não havia nada para além de buracos e buracos sobre buracos", disse Anders num simpósio em 2009.
A atenção dos astronautas mudou abruptamente quando a Terra começou a erguer-se sobre a superfície lunar. "De repente, eu, o Lovell e o Bormans focamo-nos naquilo, este nosso planeta lindo, colorido e belo a surgir no horizonte lunar", disse Anders à revista Forbes em 2015.
Usando uma lente longa e filme a cores, Anders acabou por tirar a fotografia agora conhecida como Earthrise. A imagem, que capta vividamente tanto a beleza como a fragilidade da Terra na vastidão do espaço, é considerada uma das fotografias mais influentes da história, sendo-lhe atribuída a responsabilidade de ajudar a inspirar o movimento ambientalista.
"Viemos até à Lua para descobrir a Terra", disse Anders mais tarde.
A sua missão preparou o caminho para a primeira aterragem na Lua pela Apolo 11, sete meses depois, assegurando a vitória dos EUA na "corrida espacial" da Guerra Fria com os soviéticos. Mas também foi aclamada por ter levantado o ânimo nacional no final de um dos anos mais traumáticos dos EUA, abalados pela guerra no Vietname e por motins e assassinatos.