Ventura manipula vídeo com imigrante para fugir a críticas e imita Trump com ataque a jornalistas

O Chega manipulou o vídeo do imigrante que interpelou André Ventura para atacar e descredibilizar o trabalho dos jornalistas que estão a acompanhar a campanha eleitoral.

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André Ventura usa técnicas de Trump no último dia de campanha e foge a perguntas de jornalistas HUGO DELGADO / LUSA
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O Chega está a partilhar um vídeo manipulado para atacar o trabalho dos jornalistas que estão a acompanhar a campanha do partido de direita radical populista. A história começou na quinta-feira, quando o líder do Chega, André Ventura, foi interpelado por um imigrante durante a passagem da comitiva do Chega pela Póvoa de Varzim. O homem aproximou-se de Ventura e queixou-se de ser alvo de discriminação apesar de trabalhar de forma legal no país. Esta sexta-feira, os principais dirigentes e deputados do Chega, incluindo Ventura, estão a partilhar um vídeo manipulado que atribuem à SIC para descredibilizar o imigrante que foi conversar com o líder do Chega e, ao mesmo tempo, atacar os jornalistas. Pelo meio, André Ventura copiou o ex-Presidente norte-americano, Donald Trump, para atacar a comunicação social: "Vocês ontem [quinta-feira] foram os inimigos do povo, os inimigos das pessoas."

André Ventura defendeu que a peça jornalística era "mentirosa" e "falsa" e acusou a SIC de estar a "manipular as pessoas". Antes, o líder do Chega já tinha afirmado, sem apresentar qualquer tipo de fundamento, que o imigrante tinha sido instrumentalizado “pela esquerda política". "Que é quem mete estas pessoas todas à minha frente durante o tempo todo”, afirmou.

Porém, como testemunharam os jornalistas no local, o imigrante foi levado até André Ventura por um elemento da comitiva do Chega. E o único vídeo manipulado é, precisamente, o que está a ser usado pelos membros do Chega para desviar as críticas recebidas pelo partido.

Na conversa de quinta-feira, o imigrante disse ao líder do Chega que sempre que fala "é racista". Ao imigrante, que lhe dizia estar documentado, Ventura respondeu: "Cumpra as regras."

O imigrante contou também que decidiu que a sua filha fosse para a Indonésia (de onde é natural a sua esposa e mãe da criança). Segundo o relato do trabalhador, embora tenha nascido em Portugal, a criança era alvo de comentários racistas.

Já depois de André Ventura ter virado as costas e saído do local, os comentários contra a presença do imigrante continuaram a ouvir-se do lado dos simpatizantes do Chega: "Não lhes dêem palco"; "Viva Portugal, pá" ou "Ainda existem portugueses neste país", gritaram enquanto o homem falava com os jornalistas.

No vídeo original transmitido pelos meios de comunicação social, o imigrante conta, em português, que tratou do visto e tem "tudo direitinho". Diz também que "pescadores da Indonésia são 85%" e que é um "trabalho muito duro". Quando Ventura lhe pergunta se trabalha na pesca, o imigrante responde que trabalha na estufa. Pode ver em baixo o vídeo original e também a versão manipulada partilhada pela deputada do Chega Rita Matias.

Nas imagens manipuladas que estão a ser partilhadas pelo Chega, o diálogo é misturado, de forma a fazer parecer que o homem responde que é pescador e que trabalha nas estufas, e misturam a sua naturalidade (Bangladesh) com a nacionalidade dos pescadores imigrantes que trabalham na região (naturais da Indonésia), numa tentativa de colar a imagem de "mentiroso" e de acusar os jornalistas de estarem a atacar o partido.

Não é a primeira vez que o Chega faz afirmações falsas e manipula informação em plena campanha. Nas eleições legislativas de 10 de Março, o partido afirmou que a sua comitiva tinha sido alvo de "tiros" quando chegou a Famalicão, e que reportara o caso às autoridades. A PSP de Braga esclareceria depois que não se ter tratado de tiros, mas de rateres produzidos por uma mota que seguia na caravana do partido.

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