Sunak pede desculpa por ter saído mais cedo das cerimónias do Dia D para voltar à campanha

Primeiro-ministro britânico esteve na Normandia, mas regressou a Londres para gravar uma entrevista e não participou num encontro com Biden, Macron e Scholz na praia de Omaha. “Foi um erro”, admitiu.

Foto
David Cameron (à esquerda), ministro dos Negócios Estrangeiros e antigo primeiro-ministro britânico, assumiu o lugar de Sunak numa fotografia com os líderes dos França, Alemanha e EUA Benoit Tessier / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
03:58

As comemorações do 80.º aniversário do desembarque das forças aliadas nas praias francesas da Normandia, operação militar decisiva para a vitória sobre a Alemanha Nazi na Segunda Guerra Mundial, tiveram como um dos pontos altos uma cerimónia na praia de Omaha, que culminou com um momento fotográfico com Joe Biden, Emmanuel Macron, Olaf Scholz e David Cameron.

Os mais distraídos poderão não ter notado nada de estranho, porque Cameron já foi primeiro-ministro do Reino Unido (2010-2016), mas a presença do agora ministro dos Negócios Estrangeiros britânico ao lado dos presidentes dos Estados Unidos e de França e do chanceler da Alemanha, numa iniciativa de grande simbolismo e significado histórico, levantou a pergunta: onde estava Rishi Sunak, o primeiro-ministro do Reino Unido?

O chefe do executivo britânico esteve, de facto, numa cerimónia com veteranos de guerra em Ver-sur-Mer na quinta-feira de manhã, com o rei Carlos III e com o próprio Macron; mas optou por regressar mais cedo a Londres para gravar uma entrevista com a ITV News. E, com isso, “permitiu que um antigo primeiro-ministro tirasse fotografias no seu lugar ao lado de Biden”, lamentou uma fonte do Partido Conservador, em declarações ao Guardian.

Numa altura em que os tories surgem a mais de 20 pontos percentuais do Partido Trabalhista na maioria das sondagens sobre as intenções de voto para as eleições legislativas de 4 de Julho, e em que a campanha não parece estar a correr de feição a Sunak, o primeiro-ministro tory e a sua equipa entenderam que era prioritário regressar rapidamente à missão eleitoral.

A opção foi, no entanto, criticada por toda a oposição e por gente do próprio Partido Conservador, na quinta-feira. No universo conservador, também não caíram bem as fotografias de Keir Starmer, líder trabalhista e candidato a primeiro-ministro, à conversa com Volodymyr Zelensky, Presidente da Ucrânia.

“Porque é que nos havemos de dar ao trabalho de continuar a fazer campanha, de bater a centenas de portas, quando Sunak parece estar a fazer tudo o que pode para arruinar completamente as nossas hipóteses?”, questionou a fonte tory que falou com o Guardian.

Paul Brand, jornalista da ITV, que conduziu a entrevista, disse que a data e a hora da mesma foram sugeridas pela própria equipa de Sunak, após convite da televisão.

Perante a pressão interna e as críticas vindas do Partido Trabalhista, dos Liberais Democratas, do Partido Nacional Escocês ou do Reform UK, o primeiro-ministro viu-se obrigado a recorrer ao X (antigo Twitter), nesta sexta-feira de manhã, para pedir desculpa e assumir que foi um “erro” ter saído mais cedo da Normandia.

“O aniversário [do Dia D] deve ser dedicado àqueles que fizeram o derradeiro sacrifício pelo nosso país. A última coisa que eu quero é que as comemorações sejam ofuscadas pela política”, sublinhou, lembrando os eventos em que participou, tanto em França como em Inglaterra, no dia anterior, e os encontros que teve com “os homens e mulheres corajosos que arriscaram a vida para proteger os nossos valores, a nossa liberdade e a nossa democracia”.

“Após a conclusão da cerimónia britânica na Normandia, regressei ao Reino Unido. Pensando melhor, foi um erro não ter ficado mais tempo em França — e peço desculpa”, admitiu.

A oposição não deixou de assinalar o que considera ser uma enorme incongruência entre o discurso securitário que Sunak tem trazido para a campanha — argumentando que só o Partido Conservador pode “proteger” os britânicos “quando o mundo está mais perigoso do que alguma vez esteve desde o final da Guerra Fria”, e prometendo introduzir um novo tipo de serviço militar ou comunitário se for reeleito — e a opção de abdicar de participar num evento militar e diplomático de grande importância, ao lado dos principais líderes políticos do mundo ocidental.

“Ao escolher dar prioridade às aparições televisivas, por vaidade, em detrimento dos nossos veteranos, Rishi Sunak demonstrou o que é mais importante para ele. É mais desespero, mais caos e mais uma decisão terrível deste primeiro-ministro desligado da realidade”, criticou o deputado trabalhista Jonathan Ashworth.

“Um dos maiores privilégios do cargo de primeiro-ministro é estar presente para honrar aqueles que serviram, mas Rishi Sunak abandonou-os nas praias da Normandia. Envergonhou o cargo e desiludiu o nosso país”, disse, por sua vez, Ed Davey, líder dos Liberais Democratas.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários