Metade dos inquiridos em novo estudo mudou de dieta para proteger o ambiente

Mais de metade dos inquiridos em novo relatório mudou a dieta pelo ambiente. Comem menos carne vermelha e mais peixe. Preocupação com o oceano aumentou, mas menos gente acredita que pode ser salvo.

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Entre os inquiridos, 35% admitiu que consumiria mais peixe e marisco de uma determinada marca se soubesse que não estava a prejudicar os oceanos Guillermo Vidal
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Os consumidores portugueses estão cada vez mais preocupados com o estado dos oceanos. Mais de metade diz estar a mudar a dieta por questões ambientais, além das razões de saúde e do preço dos produtos.

Os dados fazem parte do relatório Consumer Insights, composto pelos resultados de um inquérito global que é feito de dois em dois anos pela organização internacional Marine Stewardship Council (MSC) e que espelha as respostas de 27 mil pessoas em 23 países (601 dos inquiridos são consumidores de produtos do mar português).

Segundo o relatório, publicado por ocasião do Dia Mundial dos Oceanos, que se assinala neste sábado, os consumidores estão cada vez mais conscientes do impacto que as suas escolhas alimentares têm no planeta.

Dos portugueses inquiridos, 55% admitiram estar a mudar a dieta. A maior alteração verificou-se na carne vermelha, com 52% dos inquiridos a dizer que reduziu o consumo nos últimos dois anos. Ao mesmo tempo, 40% disseram estar a consumir mais legumes e 12% mais peixe. Uma percentagem de 35% admitiu que consumiria mais peixe e marisco de uma determinada marca se soubesse que não estava a prejudicar os oceanos.

Laura Rodríguez, directora do programa MSC para Portugal e Espanha, em entrevista à Agência Lusa, considerou, a propósito do estudo, que a mudança dos hábitos de consumo é essencial para uma vida mais sustentável, "não só a nível alimentar, mas também a nível da utilização dos recursos naturais do planeta".

Segundo a responsável, o caso português ilustra essa preocupação crescente, sendo os 55% o valor mais elevado dos últimos três estudos. O que transparece também do estudo, considerou, é que o foco dos inquiridos está em recuperar o que já se perdeu. E acrescentou: "Não podemos apenas olhar para a mudança de hábitos alimentares como a solução para todos os problemas causados por anos de negligência, mas como o início de um longo caminho que tem de ser percorrido", juntando responsabilidades individuais e colectivas.

Segundo o estudo, o topo das preocupações ambientais dos consumidores relaciona-se com as alterações climáticas, mas também com a perda e destruição das florestas, a saúde dos oceanos e a poluição dos rios e ribeiros. A preocupação quanto ao estado dos oceanos aumentou, mas "caiu a pique" o número dos que acreditam que ainda é possível salvar os oceanos de danos irreversíveis — apenas 35%.

Nas declarações à Lusa, Laura Rodríguez considerou o número preocupante, mostrando que "existe um desânimo generalizado quanto ao tempo que será necessário para recuperar a saúde" dos oceanos e às medidas adoptadas para o fazer. Mas, frisou, existe capacidade para inverter a realidade actual dos oceanos, sendo para tal necessário "um compromisso duradouro e uma maior educação ambiental para as gerações futuras".

No inquérito Consumer Insights, feito pela empresa GlobeScan (consultoria e análise de dados), também foram pedidas aos consumidores soluções para os problemas dos ecossistemas marinhos, mas só uma percentagem pequena (27%) mostrou saber bem o que é a pesca sustentável.

A este propósito a responsável do MSC para a Península Ibérica assinalou que a sobrepesca é uma preocupação mundial e salientou que a prática aumentou três vezes desde os anos 1970. "E a tendência é preocupante", disse.

Mas é uma prática essencialmente na Ásia? Laura Rodríguez afiançou que não: falou do oceano Atlântico, deu os exemplos da sobrepesca do atum-patudo e de "alguns pequenos pelágicos". No entanto, "as medidas de gestão positivas que a UE e outros países aplicaram melhoraram a situação de algumas das unidades populacionais do Atlântico, como o biqueirão-da-cantábria, o atum-rabilho ou o atum-voador-do-atlântico-norte, os três certificados ao abrigo da norma MSC", ressalvou.

O MSC estabelece padrões reconhecidos mundialmente para a pesca sustentável e a cadeia de abastecimento de produtos do mar. A marca MSC em produtos do mar à venda nos supermercados quer dizer que se trata do resultado de pesca sustentável. Segundo a directora do programa, actualmente o mercado português tem mais de 420 produtos com o selo azul MSC, mais 133% do que em 2019.

Apesar da recessão e da inflação dos últimos dois anos, acrescentou, o mercado português "manteve-se activo na transformação azul dos produtos do mar sustentáveis", registando um aumento de 60,2% do volume de negócios de produtos sustentáveis em relação a 2019.

Em Portugal, os produtos certificados com o Selo Azul do MSC representam actualmente 3% do pescado consumido em Portugal. As pescarias certificadas com o selo azul efectuaram mais de 400 melhorias nas práticas de pesca nos últimos três anos, para proteger espécies marinhas ameaçadas e habitats vulneráveis.

O Dia Mundial dos Oceanos destina-se a sensibilizar para o impacto das acções humanas nos oceanos e apoiar acções que protejam e restaurem os oceanos, sendo reconhecido pela ONU desde 2008.

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