Aquacultura ultrapassa pesca e torna-se a principal fonte mundial de peixe, diz ONU

A produção em aquacultura atingiu um valor sem precedentes de 130,9 milhões de toneladas em 2022.

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Um peixe pregado criado num viveiro em aquacultura Adriano Miranda/ARQUIVO
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Pela primeira vez, a produção aquática em viveiros ultrapassou as capturas através de pesca tradicional, afirmou nesta sexta-feira a agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), sublinhando a esperança de que a aquacultura possa satisfazer a crescente procura mundial de produtos do mar.

No seu último relatório bienal sobre o estado da pesca mundial, a FAO, sediada em Roma, afirmou que a produção mundial de pesca e aquacultura em 2022 atingiu um recorde de 223,2 milhões de toneladas.

A aquacultura corresponde à criação de organismos aquáticos como peixes, crustáceos, moluscos, plantas aquáticas e algas em ambientes controlados.

A FAO afirmou que a produção em aquacultura atingiu um valor sem precedentes de 130,9 milhões de toneladas em 2022, das quais 94,4 milhões de toneladas eram animais aquáticos – o que corresponde a 51% da produção total de animais aquáticos. O restante corresponde a plantas aquáticas e algas.

“Estes números demonstram o potencial da aquacultura para alimentar a crescente população mundial”, disse o director-geral adjunto da FAO, Manuel Barange, aos jornalistas. “Tem sido o sistema de produção alimentar que mais cresce (no mundo) nas últimas cinco décadas”, afirmou.

No entanto, uns meros dez países – China, Indonésia, Índia, Vietname, Bangladesh, Filipinas, Coreia do Sul, Noruega, Egipto e Chile – são responsáveis por quase 90% de toda a produção aquícola, e a FAO disse que era importante desenvolver a indústria noutros locais, especialmente em África, que é actualmente um importador líquido de peixe.

Há quem critique que a aquacultura pode prejudicar o ambiente e introduzir doenças e espécies invasoras na natureza, mas a FAO diz que tal pode ser evitado através de uma regulamentação e monitorização adequadas.

O relatório desta sexta-feira refere que o consumo anual per capita de alimentos de origem animal aquática, uma fonte fundamental de proteínas para milhões de pessoas em todo o mundo, totalizou 20,7 kg em 2022, contra 9,1 kg em 1961, e deverá aumentar ainda mais nos próximos anos.

As capturas da pesca mantiveram-se estáveis desde o final da década de 1980, atingindo 92,3 milhões de toneladas em 2022.

No entanto, os dados mais recentes mostram que 37,7% das unidades populacionais de peixes na pesca marinha mundial foram classificadas como sobreexploradas em 2021 – uma tendência contínua e crescente desde 1974, quando esse valor era de apenas 10%, disse a FAO.

“A questão da sustentabilidade é uma grande preocupação para nós”, disse Barange, acrescentando, no entanto, que muita pesca comercial de maior dimensão estava a ser bem gerida, incluindo as unidades populacionais de atum, que se aproximam agora de níveis de sustentabilidade de 90%.

“Esta é uma melhoria notável na última década”, afirmou, acrescentando que 80% das dez espécies marinhas mais consumidas pelos seres humanos estão a ser exploradas de forma sustentável.