Colaboração jogável e o futuro dos orçamentos participativos

Dar aos cidadãos a possibilidade de apresentar propostas, pensando no interesse público e das comunidades, é valiosíssimo. Mas é apenas um dos degraus da participação

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Megafone P3: Colaboração jogável e o futuro dos orçamentos participativos Getty Images
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A ideia dos orçamentos participativos tem méritos inegáveis e contribuiu, em muitos casos, para o reforço da democracia participativa. Apesar de ser uma redundância, pois se não for participada não existe democracia, importa reforçar esta dimensão activa e a falta que nos faz.

Dar aos cidadãos a possibilidade de apresentar propostas que outros cidadãos podem sufragar, pensando no interesse público e das comunidades, é valiosíssimo. No entanto, este é apenas um dos degraus da participação. Podemos subir mais na escada. Podemos elevar a prática participativa democrática até aos degraus da colaboração. Ou seja, os cidadãos desenham em conjunto de propostas, partindo de princípios de co-criação, evitando a competição destrutiva. As propostas podem ganhar mais maturação, profundidade e qualidade quanto mais pessoas estiverem envolvidas — munidas de espírito crítico construtivo.

Hoje podemos aspirar a implementar estes processos colaborativos, em que várias pessoas expressam vontades, congregam esforços e desenham em conjunto ideias, com base na deliberação e ciclos de melhoria e aprimoramento. Estas abordagens são comuns nas áreas do empreendedorismo e nos projectos onde a sustentabilidade (numa vertente holística e integrada) é a prioridade. Por isso, está na altura de poder usar estes métodos e processos criativos na cidadania activa, para desenvolver propostas colectivas que podem então ser submetidas aos orçamentos participativos, podendo ser implementadas através de assembleias participativas de trabalho contínuo.

Podemos também recorrer às metodologias de construção e desenvolvimento de ideias baseadas em processos e dinâmicas interactivas — que é com o quem diz jogos. Podemos colocar o design de jogos ao serviço dos processos participativos, criando um sistema progressivo de incentivos, respostas (feedback) e motivação orientado por objectivos: mais participação e melhores propostas. Estes jogos podem ser construtivos e colaborativos, reforçar a resiliência das comunidades que os utilizam com o apoio de facilitadores e especialistas. Será um jogar estruturado ou, como se diz na literatura da especialidade, um jogo sério.

Podemos fazer tudo isso com métodos analógicos menos dispendiosos, que reforçam a empatia entre participantes, ou então usar plataformas digitais que permite a participação em massa. Os modelos híbridos são igualmente viáveis. Ao utilizarmos os princípios dos jogos, motivamos e cativamos os participantes ao longo de todo o processo, mesmo que seja longo e complexo. Mas, para além disso, criamos arenas de experimentação, de simulação e teste de cenários, propostas e soluções que desencadeiam reacções complexas sem desperdiçarmos recursos em ambientes seguros e mediados. A realidade tende a ser muito mais complexa que o mais complicado dos jogos, mas fica assim mais clara para todos os envolvidos que jogam.

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