Seis compositores brasileiros dão voz em palco às canções que fizeram para outros

Moacyr Luz, Gabriel Moura, Pierre Aderne, Pedro Luís, Edu Krieger e Rodrigo Maranhão cantam, no Coliseu de Lisboa, canções que fizeram para outras vozes. Sexta-feira, às 21h.

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Pedro Luís, Gabriel Moura, Edu Krieger, Moacyr Luz, Rodrigo Maranhão e Pierre Aderne DR
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De Bethânia a Chico Buarque, de Milton Nascimento a Maria Rita, de Adriana Calcanhotto a António Zambujo, muitas são as vozes que deram vida a canções escritas pelos cantores e compositores brasileiros que sobem esta sexta-feira ao palco do Coliseu dos Recreios, em Lisboa (às 21h), para nos mostrarem como soam nas vozes de quem originalmente as criou: Moacyr Luz, Gabriel Moura, Pierre Aderne, Pedro Luís, Edu Krieger e Rodrigo Maranhão.

É um espectáculo que visa, segundo os seus promotores, “dar a conhecer as histórias por trás de uma série de canções intemporais do colectivo popular cantadas em português, revelando ao público a pureza do momento em que foram criadas”. E nele ouvir-se-ão canções como Medalha de São Jorge, gravada por Maria Bethânia; Burguesinha, Amiga da minha mulher e Mina do condomínio, gravadas por Seu Jorge; Caminho das Águas, por Maria Rita; Guia, que deu nome ao álbum de estreia no Brasil de António Zambujo; Cabô, meu pai, sucesso de Zeca Pagodinho; Saudades da Guanabara, eternizada por Beth Carvalho; Deus há de ser, celebrizada por Elza Soares; Noite severina, por Ney Matogrosso, e muitas outras.

Pierre Aderne, cantor, compositor e dinamizador do colectivo Rua das Pretas, explica ao PÚBLICO como nasceu o projecto A Voz dos Compositores: “Eu tive essa ideia há uns quatro, cinco anos, e essa turma toda é da minha geração e são também meus parceiros, de canções que escrevi junto com eles, e a gente tem escrito também para outros artistas que as pessoas conhecem.”

Essas colaborações remontam ao Rio de Janeiro, onde Pierre Aderne vivia antes de se mudar para Portugal, mais concretamente para Lisboa, há 13 anos. “Naquele momento, no Rio, o Rodrigo Maranhão, o Pedro Luís, o Edu Krieger e o Gabriel Moura eram os meus parceiros, que viviam na minha casa, naqueles saraus que eu fazia. E cada um foi, à medida do tempo, escrevendo canções que foram gravadas por outros artistas que as tornaram conhecidas.”

Até que, cada um seguiu o seu caminho, formando grupos ou assentando noutras ocupações ligadas à música, como recorda Pierre: “O Rodrigo Maranhão fez o Bangalafumenga, o Pedro Luís fez o Monobloco e o Pedro Luís e A Parede, o Edu Krieger acabou virando produtor musical da Globo, o Gabriel Moura mergulhou no ofício de escrever canções, principalmente para o Seu Jorge e eu vim para Portugal. Cada um encontrou uma forma de encontrar sustentabilidade dentro da arte, saindo daquela redoma cultural do Rio.”

E o que esteve na cabeça de Pierre, ao reuni-los agora, foi isto: “Como é que é o contrário do ‘cover’, a música antes de chegar ao artista? Então, quando comecei a fazer a Rua das Pretas no Coliseu, já tinha isso na cabeça e pensei que iria ser muito bonito, se a gente pudesse um dia sentar aqui nesse palco e contar as histórias e cantar as canções que a gente escreveu para esse povo todo.” E isso foi possível agora, por compatibilidade de agendas: “Calhou agora, esse ano, conseguimos reunir a agenda, o Coliseu gostou da ideia e foi assim.”

Depois do palco, um disco

Dos seis participantes, só Pierre Aderne vive em Portugal. “O Gabriel Moura vive em São Paulo e os outros todos vivem no Rio de Janeiro”, diz Pierre. Esta união, além do palco, dará também um disco. “A gente vai gravar em áudio e vídeo, estamos até brincando com isso, dizendo que vai dar um ‘audiovisualbum’. De nós todos, quem chegou em último, e veio por conta das minhas parcerias recentes com ele, foi o Moacyr Luz. A gente quis chamá-lo também para celebrar a importância do Samba do Trabalhador, que está há 19 anos todas as segundas-feiras no Andaraí, e também o facto de o Moacyr, tal como nós todos, compor a vida inteira para uma série de cantores. Fazia todo o sentido chamá-lo para o palco. Até porque esta é uma coisa que nunca foi feita, em tempo algum, na música brasileira.”

O preço dos bilhetes oscila entre 15 euros (galeria de pé) e 40 euros (cadeiras de orquestra). Por falar em preços, Pierre diz que o concerto abre com uma divertida história que se conta no Brasil: “Um sujeito foi comprar um canarinho numa feira, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Chegou lá, o canarinho estava cantando bastante bem, e ele perguntou: ‘Quanto custa?’ E o vendedor disse: ‘Esse canarinho custa 15 mil dólares’. ’15 mil dólares! E aquele na outra gaiola, bem caladinho?’ ‘Aquele custa 45 mil dólares. Aquele é o compositor’.”

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