Meio século a degradar, em lugar de preservar!
Há mais de meio século que se assinala este dia criado na sequência da primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, ocorrida em Estocolmo em junho de 1972.
De pouco adiantou! Hoje a natureza e o estado do ambiente estão piores do que em 1972!
A crise ambiental e, agora, a crise climática, alastrou a todo o mundo e, se uns têm calor a mais, a outros falta a água e, outros ainda, têm excesso da mesma com terríveis inundações e derrocadas.
Quanto à natureza, nem se fala; a biodiversidade decaiu assustadoramente nestes 50 anos, e não é o facto de se terem registado êxitos pontuais na conservação de algumas espécies-bandeira (lince-ibérico, bisonte-europeu, abutres, etc.) que nos alegra.
Segundo o relatório Living Planet Report, publicado em 2018, pela WWF e pela Sociedade Zoológica de Londres, entre 1974 e 2014 a biodiversidade caiu 60% ou, dito de outra maneira, desde 1970 até 2014, mais de metade das espécies de animais desapareceram da Terra.
Passámos meio século a degradar, sem contar com o que já vinha de trás, antes de, “oficialmente”, se tomar consciência da crise ambiental; agora, em 2024, o Dia Mundial do Ambiente tem como temas contrariar os efeitos da degradação e, nomeadamente, “acelerar o restauro da terra, a resiliência à seca e à desertificação” e o lema “Nós somos a geração do restauro” – significativo, já não é conservar, é restaurar!
Mas se estes 50 anos de Dia Mundial do Ambiente não tiveram grandes resultados em termos de conservação da Terra, foram habilmente aproveitados pelas empresas para vender mais, e pelos governos para serem laxistas, exatamente o contrário do desejado.
Desenvolveram com grande maestria e enormes investimentos o “greenwashing” que se define, segundo a Wikipedia, como “a injustificada apropriação de virtudes ambientalistas por parte de organizações (empresas, governos, etc.) ou pessoas, mediante o uso de técnicas de marketing e relações públicas. Tal prática tem como objetivo criar uma imagem positiva, diante da opinião pública, acerca do grau de responsabilidade ambiental dessas organizações ou pessoas (bem como das suas atividades e produtos), ocultando ou desviando a atenção dos impactos ambientais negativos por elas gerados”.
É evidente que, por exemplo, que a indústria papeleira nos faz falta, pois, o papel é um artigo insubstituível e de uso quotidiano por todos. Também é verdade que o seu processo industrial, quer antes quer depois da introdução da celulose (meados do séc. XIX), é altamente poluente.
E desde que se recorreu ao eucalipto como matéria-prima para a produção de celulose, e se apostou em grandes plantações monoespecíficas desta árvore, que o território (e referimo-nos especialmente a Portugal) foi profundamente alterado, com prejuízo para a paisagem, a biodiversidade e o bem-estar das populações.
Portanto, seria preferível que a indústria papeleira, em lugar de incentivar o “greenwashing” e a suposta investigação em áreas como a biodiversidade e outras, apostasse na investigação dos processos industriais e florestais, de modo a torná-los menos prejudiciais para o ambiente.
Seria melhor que as celuloses reconhecessem o impacto negativo no ambiente da sua atividade, da mesma maneira que a generalidade dos ambientalistas sensatos reconhece o trabalho positivo na produção e melhoria do insubstituível papel cujo uso, mesmo com o desenvolvimento da informática, não parou de crescer nos últimos anos.
Não vale a pena mistificar as coisas com “lavagens verdes”; o correto é encarar as realidades de frente e, quando são geradoras de problemas ambientais ou sociais, procurar diminuir o seu impacto e encontrar alternativas, de modo a não privar as populações do usufruto do ambiente.
Mas que essas alternativas não sejam como os painéis solares e as eólicas, para a energia que, se emitem menos CO2, dão cabo dos solos e da paisagem!
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico