Os governos precisam de plantar mais árvores e implementar tecnologias que quadrupliquem a quantidade de dióxido de carbono removido anualmente da atmosfera, de modo a cumprir os objectivos climáticos globais, afirmou uma equipa de investigadores num relatório publicado esta quarta-feira.
A “remoção de dióxido de carbono” (CDR, na sigla em inglês) refere-se a uma série de intervenções que sequestram o CO2 já presente no ar. Inclui métodos convencionais, como a reflorestação, bem como soluções potencialmente em grande escala, como os biocombustíveis, o cultivo de algas nos oceanos e a utilização de filtros que captam directamente o CO2 atmosférico.
Actualmente, através da CDR remove-se cerca de 2 mil milhões de toneladas métricas de CO2 da atmosfera todos os anos, mas é necessário um aumento para cerca de 7-9 mil milhões de toneladas se quisermos manter o aumento da temperatura abaixo do limiar-chave de 1,5 graus Celsius, de acordo com um relatório de investigação elaborado por mais de 50 peritos internacionais.
“As emissões líquidas globais de gases com efeito de estufa foram de cerca de 55 mil milhões de toneladas por ano em 2022, e as emissões acumulam-se na atmosfera, pelo que todos os anos e todas as acções contam”, afirmou Gregory Nemet, professor da Universidade de Wisconsin-Madison e um dos co-autores do relatório anual State of Carbon Dioxide Removal.
Segundo os autores, são necessárias novas políticas para aumentar a procura de CDR, com o financiamento de novas tecnologias a diminuir desde 2020. Os 787 milhões de euros investidos em novas startups no ano passado representaram cerca de 1% do total de gastos com tecnologia climática.
“Vemos algumas políticas que apoiam a tecnologia directamente”, disse Nemet. “Mas o que realmente está a faltar até agora são os mercados induzidos pelos governos e a procura de remoção de dióxido de carbono.”
São ainda necessários protocolos partilhados sobre a forma de medir, comunicar e verificar as quantidades de CO2 sequestradas em projectos de recuperação de dióxido de carbono, em especial se estes dependerem de financiamento dos mercados de carbono, refere o relatório.
A última avaliação do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas afirma que o CDR pode desempenhar um papel importante na concretização dos objectivos climáticos, mas alerta para os riscos da utilização em grande escala de métodos novos e não testados, que podem ter impacto na biodiversidade e na segurança alimentar e hídrica.
Nemet afirmou que “nada vem de graça” e que o CDR não é uma panaceia.“Independentemente da quantidade de remoção de dióxido de carbono que fizermos, continuaremos a ter de reduzir rapidamente as emissões de combustíveis fósseis e travar a desflorestação”, afirmou.