Alterações climáticas tornaram cheias do Brasil duas vezes mais prováveis, dizem cientistas

“O clima no Brasil já mudou”, diz investigador. Combinando dados meteorológicos com modelos climáticos, as alterações climáticas tornaram cheias no sul do Brasil cerca de 6% a 9% mais intensas.

inundacoes,meteorologia,ambiente,brasil,clima,alteracoes-climaticas,
Fotogaleria
Destruição causada pelas cheias em Eldorado do Sul, no estado brasileiro do Rio Grande do Sul Amanda Perobelli / REUTERS
inundacoes,meteorologia,ambiente,brasil,clima,alteracoes-climaticas,
Fotogaleria
Amanda Perobelli / REUTERS
inundacoes,meteorologia,ambiente,brasil,clima,alteracoes-climaticas,
Fotogaleria
Amanda Perobelli / REUTERS
inundacoes,meteorologia,ambiente,brasil,clima,alteracoes-climaticas,
Fotogaleria
Adriano Machado / REUTERS
Fotogaleria
Amanda Perobelli / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
02:11

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

As alterações climáticas tornaram duas vezes mais prováveis as recentes inundações que devastaram o sul do Brasil, afirmou na segunda-feira uma equipa de cientistas internacionais, acrescentando que as fortes chuvas foram também intensificadas pelo fenómeno natural El Niño.

Mais de 170 pessoas morreram e cerca de 580 mil ficaram desalojadas depois das tempestades e inundações que assolaram o estado do Rio Grande do Sul no mês passado, tendo as autoridades locais descrito esta catástrofe como a pior na história da região.

Mesmo no clima actual, segundo os especialistas do grupo World Weather Attribution, as fortes chuvas que submergiram cidades inteiras e destruíram infra-estruturas críticas foram um acontecimento “extremamente raro”, que se espera que ocorra apenas uma vez em cada 100 a 250 anos. Mas teria sido ainda mais raro sem os efeitos da queima de combustíveis fósseis, afirmou o grupo.

Foto
Voluntários resgatam um cão das cheias em Canoas, a norte de Porto Alegre, no Brasil Sebastiao Moreira/EPA

Combinando observações meteorológicas com resultados de modelos climáticos, os cientistas estimaram que as alterações climáticas tornaram o evento no sul do Brasil duas vezes mais provável e cerca de 6% a 9% mais intenso.

“O clima no Brasil já mudou”, disse Lincoln Alves, investigador do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). “Esse estudo de atribuição confirma que as actividades humanas têm contribuído para eventos extremos mais intensos e frequentes, destacando a vulnerabilidade do país às mudanças climáticas.”

O fenómeno El Niño, que contribui para o aumento das temperaturas em muitas partes do mundo e aumenta a pluviosidade e o risco de inundações em algumas regiões das Américas, também desempenhou um papel na recente catástrofe, observaram os cientistas.

Segundo o estudo, o fenómeno El Niño aumentou a probabilidade do acontecimento por um factor de 2 a 5, tornando a precipitação 3% a 10% mais intensa.

A falha de infra-estruturas críticas, a desflorestação e a rápida urbanização de cidades como a capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, com 1,3 milhões de habitantes, ajudaram a amplificar os efeitos da catástrofe, acrescentaram os cientistas.

Regina Rodrigues, investigadora da Universidade Federal de Santa Catarina, disse que uma infra-estrutura de protecção contra inundações bem mantida e um planeamento urbano adequado são necessários para minimizar o impacto de “tais eventos extremos”.