Claudia Sheinbaum vence eleições presidenciais do México e torna-se a primeira mulher chefe de Estado

Cientista climática e ex-governadora da Cidade do México, Sheinbaum conquistou a presidência com a maioria dos votos e herda o projecto do seu mentor e líder cessante, Andrés Manuel López Obrador.

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Claudia Sheinbaum venceu as eleições presidenciais por ampla margem Alexandre Meneghini / REUTERS
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Candidatos Xochitl Galvez e Alejandro Moreno abraçam-se depois de anunciados os resultados das eleições Luis Cortes / REUTERS
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“Não vou desiludir-vos”, prometeu a Presidente eleita do México, nas primeiras declarações a um canal de televisão Daniel Becerril / REUTERS
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Claudia Sheinbaum é a primeira mulher Presidente do México Daniel Becerril / REUTERS
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Festejos depois de conhecidos os resultados das eleições na Cidade do México, México Daniel Becerril / REUTERS
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Claudia Sheinbaum obteve uma vitória esmagadora e tornou-se a primeira mulher Presidente do México, herdando o projecto do seu mentor e líder cessante, Andrés Manuel López Obrador. Sheinbaum, cientista climática e ex-governadora da Cidade do México, conquistou a presidência com a maioria dos votos — a percentagem deverá estar entre os 58,3% e 60,7%, de acordo com uma contagem rápida feita pela autoridade eleitoral. Esta deverá ser a maior percentagem de votos na história democrática do México.

A candidata da oposição, Xochitl Galvez, ex-senadora de centro-direita, admitiu a derrota depois de os resultados preliminares mostrarem que obteve entre 26,6% e 28,6% dos votos. O centrista Jorge Alvarez Maynez recebeu entre 9% e 10% dos votos. Neste domingo também se escolheram os 628 membros do Congresso, nove governadores e mais de 19 mil dirigentes regionais e municipais.

“Pela primeira vez nos 200 anos da República, serei a primeira mulher Presidente do México”, disse Sheinbaum aos seus apoiantes, sob aplausos e gritos. A vitória de Sheinbaum é um passo importante para o México, um país conhecido pela sua cultura machista e lar da segunda maior população católica romana do mundo, que durante anos impulsionou valores e papéis mais tradicionais para as mulheres. “Nunca imaginei que um dia votaria numa mulher”, disse Edelmira Montiel, de 87 anos, apoiante de Sheinbaum no menor estado do México, Tlaxcala. “Antes não podíamos votar, e quando podíamos, era para votar na pessoa que o marido mandava votar. Graças a Deus que isso mudou e que posso viver este momento”, acrescentou.

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Claudia Sheinbaum venceu as eleições presidenciais por ampla margem neste domingo REUTERS

O partido Morena, de esquerda, também venceu a disputa para o cargo de governador na Cidade do México, um dos mais importantes do país, de acordo com resultados preliminares do Instituto Nacional Eleitoral (INE) mexicano.

Sheinbaum tem um caminho complicado pela frente. Tem de equilibrar as promessas de aumentar as políticas de bem-estar da população, ao mesmo tempo que herda um elevado défice orçamental e um baixo crescimento económico. Após o anúncio dos resultados preliminares, disse aos apoiantes que o seu Governo seria fiscalmente responsável e respeitaria a autonomia do Banco Central.

Prometeu melhorar a segurança, mas deu poucos detalhes sobre este assunto, e as eleições, as mais violentas da história moderna do México, com 38 candidatos assassinados, reforçaram enormes problemas de segurança. Muitos analistas acreditam que os grupos de crime organizado expandiram e aprofundaram a sua influência durante o governo López Obrador.

A votação de domingo também foi prejudicada pelo assassinato de duas pessoas em mesas de voto no estado de Puebla. Mais pessoas foram mortas — mais de 185 mil — durante o mandato de López Obrador do que durante qualquer outro Governo na história moderna do México, embora a taxa de homicídio venha a cair lentamente.

“A menos que se comprometa com um nível de investimento revolucionário na melhoria do policiamento e na redução da impunidade, Sheinbaum provavelmente terá dificuldades para alcançar uma diferença significativa nos níveis gerais de segurança”, disse Nathaniel Parish Flannery, analista independente de risco político na América Latina.

Entre os desafios da nova Presidente também estarão as negociações tensas com os Estados Unidos sobre os enormes fluxos de migrantes que atravessam a fronteira e a cooperação no que toca ao combate ao tráfico de droga, numa altura em que a epidemia de fentanil nos EUA aumenta. As autoridades mexicanas esperam que estas negociações sejam mais difíceis, se a presidência dos EUA for conquistada por Donald Trump em Novembro. Trump prometeu impor tarifas de 100% sobre os carros chineses fabricados no México e disse que mobilizaria forças especiais para combater os cartéis.

A nível interno, Sheinbaum​ terá a tarefa de resolver a escassez de electricidade e de água e decidir o que fazer com a Pemex, a gigante estatal de petróleo, que viu a produção diminuir durante duas décadas e está afogada em dívidas. “Não pode ser apenas um poço sem fim onde colocamos dinheiro público”, disse Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina da Goldman Sachs. “Precisam de repensar o modelo de negócios da Pemex.”

López Obrador duplicou o salário mínimo, reduziu os níveis de pobreza e de desemprego e supervisionou o fortalecimento do peso mexicano – sucessos que o tornaram incrivelmente popular.

Sheinbaum prometeu expandir os programas de assistência social, mas não será fácil com o México no caminho certo para um grande défice este ano e com um crescimento lento do PIB, de apenas 1,5%, esperado pelo Banco Central em 2025.

López Obrador pairou sobre a campanha, procurando transformar a votação num referendo sobre a sua agenda política. Sheinbaum rejeitou as alegações da oposição de que ela seria uma “fantoche” de López Obrador, embora tenha prometido continuar muitas das suas políticas, incluindo aquelas que ajudaram a população mais pobre do México.

No seu discurso de vitória, Sheinbaum agradeceu a López Obrador e elogiou-o: uma “pessoa única que transformou o nosso país para melhor”, disse.

A analista política Viri Rios considera que o sexismo está por trás das críticas a Sheinbaum. “É inacreditável que as pessoas não consigam acreditar que ela tomará as suas próprias decisões e acho que isso tem muito que ver com o facto de ser mulher”, afirmou.

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