China não facilita nas exigências à Rússia e o acordo sobre o novo gasoduto está bloqueado
Financial Times cita fontes próximas das negociações do Power of Siberia 2 e sublinha dependência económica de Moscovo no aliado. “É normal que cada país defenda os seus interesses”, diz o Kremlin.
Xi Jinping e Vladimir Putin já se encontraram quatro vezes desde a invasão russa da Ucrânia e as trocas comerciais entre a República Popular da China e a Federação Russa atingiram um valor recorde em 2023 (cerca de 222 mil milhões de euros, mais 26,3% que em 2022), mas o reforço contínuo da parceria “sem limites” entre Pequim e Moscovo ainda não foi capaz de encontrar um compromisso sobre o Power of Siberia 2, o megaprojecto para um novo gasoduto que pretende ligar os dois vizinhos e que é considerado fundamental para a Rússia tentar compensar a quebra de fornecimento de gás natural à Europa.
O Financial Times cita três fontes com conhecimento sobre as negociações entre chineses e russos que dão conta de uma postura de inflexibilidade assumida por Pequim sobre os termos do acordo, que, sublinha o jornal económico britânico, enfatizam a posição de dependência económica da Rússia na China, particularmente desde a invasão do território ucraniano.
A China só está disposta a adquirir uma fracção reduzida dos 50 mil milhões de metros cúbicos de gás natural que se estima que o gasoduto venha a fornecer por ano e exige pagar um preço próximo daqueles que se praticam dentro da Rússia e que são altamente subsidiados pelo Estado.
Ora, a petrolífera estatal Gazprom, responsável pelo Power of Siberia 2, que pretende ligar a península russa de Iamal até ao território chinês, através da Mongólia, dependia dos lucros que recebia da exportação de gás para a Europa para poder financiar o mercado interno russo.
Segundo as contas elaboradas pelo Center on Global Energy Policy, da Universidade de Columbia (EUA), a China precisará de cerca de 250 mil milhões de metros cúbicos de gás natural liquefeito por ano em 2030 para satisfazer as suas necessidades energéticas – actualmente precisa de 170 mil milhões.
No entanto, os contratos que a China tem actualmente em vigor, com diversos países e entidades, entre os quais a Rússia, que até é o seu principal fornecedor de combustíveis fósseis, chegam-lhe para suprir as necessidades de 2030.
“A China pode vir a precisar estrategicamente de gás russo como uma fonte segura de abastecimento que não seja baseada em rotas marítimas, que podem ser afectadas num cenário de conflito marítimo em redor de Taiwan ou do mar do Sul da China, mas para que isso valha a pena (…) precisa de um preço muito baixo e de obrigações flexíveis”, explica Alexander Gabuev, director do Carnegie Russia Eurasia Center, citado pelo Financial Times.
De acordo com o jornal britânico, no último encontro entre Putin e Xi, em Maio, na capital chinesa, o Presidente russo pediu ao seu homólogo chinês para mover esforços tendo em vista a assinatura de um acordo sobre o Power of Siberia 2. Mas o facto de Alexei Miller, chefe-executivo da Gazprom, não ter feito parte da comitiva russa que viajou até à China, é demonstrativo da situação de impasse, nota o FT.
Em declarações aos jornalistas nesta segunda-feira, citado pela Reuters, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que a vontade política de Xi e de Putin vai permitir um compromisso final sobre o gasoduto, mas admitiu: “É perfeitamente normal que cada país defenda os seus próprios interesses”. Um responsável do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês afirmou apenas que a China e a Rússia vão continuar a “aprofundar a convergência de interesses” entre si.