Um quarto das empresas portuguesas já recorre a mão-de-obra estrangeira

Banco de Portugal revela que, em 2023, 22,2% das empresas com sede em Portugal empregavam trabalhadores estrangeiros. Trata-se de um aumento significativo face à fatia de 7,9% identificada em 2014.

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Mais de 76% dos trabalhadores do concelho de Odemira são estrangeiros José Fernandes
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No final de 2023, o número de estrangeiros a trabalhar por conta de outrem em Portugal ascendia a 495 mil, um aumento de 35,5% face ao ano anterior e um número nove vezes superior ao verificado no início da década. Esse aumento também se reflectiu na proporção de empresas que tiveram de recorrer a mão-de-obra imigrante para conseguir responder às suas necessidades.

Enquanto em 2014 apenas 7,9% das empresas com sede em Portugal tinham trabalhadores de nacionalidade estrangeira, passada uma década essa percentagem subiu para 22,2%. Ou seja, para cerca de um quarto das empresas.

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Estas são algumas das conclusões do estudo do Banco de Portugal (BdP) divulgado nesta segunda-feira, que traçou um retrato dos estrangeiros a trabalhar em Portugal a partir dos contratos por conta de outrem registados na Segurança Social.

A evolução verificada nos últimos dez anos, refere o BdP, é o resultado da redução da população em idade activa e da falta de mão-de-obra em sectores específicos, o que “tem potenciado a necessidade de contratação de trabalhadores estrangeiros” por parte das empresas portuguesas. E, ao mesmo tempo, fez com que o país se aproximasse da situação da generalidade dos países da União Europeia quanto ao peso dos estrangeiros no total dos trabalhadores.

Os 495 mil imigrantes com registo de remunerações na Segurança Social no ano passado representavam 13,4% do total de trabalhadores por conta de outrem (em 2014, eram 55,6 mil e representavam 2,1% do total). Mas, quando se olha mais em detalhe para os dados, conclui-se que essa percentagem é bem mais elevada em concelhos “com significativa actividade agrícola, sobretudo da região Sul”. É o caso de Odemira, onde 76,1% dos trabalhadores por conta de outrem são estrangeiros, e de Ferreira do Alentejo, onde esta proporção é de 48,9%.

No Norte, destaca-se Cinfães, que apresenta a terceira percentagem mais elevada: 37,4% dos empregados por conta de outrem deste concelho são imigrantes.

É no sector da agricultura e pescas que os estrangeiros têm mais prevalência: quatro em cada dez trabalhadores tinham nacionalidade estrangeira, quando antes da pandemia a proporção era de dois em cada dez.

O BdP destaca que o peso dos estrangeiros é também muito importante no alojamento e restauração (31,1%), nas actividades administrativas (28,1%) e na construção (23,2%).

Os trabalhadores brasileiros são o grupo com maior dimensão, representando 42,3% do total de estrangeiros, e dominam em todos os sectores, excepto na agricultura e pescas. Neste sector, sobressaem as nacionalidades indiana (34,6%), nepalesa (15,3%) e bengali (13,8%).

Já nas actividades financeiras, de informação e comunicação e de consultoria e científicas, o peso dos trabalhadores com nacionalidades europeias (que representam 12,6% do total de estrangeiros) é superior a 30%.

A “Caracterização dos trabalhadores estrangeiros por conta de outrem em Portugal” permite ainda concluir que os imigrantes são mais jovens (33 anos) do que os portugueses (42 anos) e os que trabalham são maioritariamente homens.

As mulheres representavam apenas 36,7% dos trabalhadores imigrantes, com diferenças assinaláveis entre nacionalidades: enquanto nos trabalhadores de nacionalidade brasileira e cabo-verdiana o peso das mulheres foi superior a 40%, no caso dos trabalhadores oriundos da Índia e do Bangladesh situou-se em apenas 7,5% e 2,6%, respectivamente.

O BdP também olhou para as remunerações declaradas, concluindo que os imigrantes ganhavam menos do que os portugueses e tinham remunerações muito próximas do salário mínimo nacional (760 euros em 2023). No caso dos trabalhadores mais jovens, o salário médio era de 769 euros, 133 euros abaixo dos salários declarados pelos portugueses, enquanto os mais velhos tinham uma remuneração média de 781 euros, menos 164 euros do que os valores pagos aos nacionais.

Na análise por sector, os estrangeiros mais jovens a trabalhar nas actividades de informação e comunicação tinham salários acima do dos portugueses.

O BdP nota que, entre 2019 e 2023, o número de trabalhadores por conta de outrem registados na Segurança Social cresceu 13% em Portugal, tendo os estrangeiros sido responsáveis por 9,3 pontos percentuais deste aumento.

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