O El Niño está a acabar, mas o planeta vai continuar a aquecer

No fim do Verão deve começar a formar-se um episódio La Niña, que tem tendência a descer a temperatura; mas o aquecimento global está já demasiado acelerado, diz Organização Meteorológica Mundial.

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Uma época de furacões mais intensa é um dos possíveis efeitos da chegada da La Niña CARLOS BARRIA / REUTERS
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O fenómeno El Niño, que impulsionou o aumento das temperaturas globais e das condições meteorológicas extremas durante o último ano a nível mundial, está a dar sinais de acabar, avançou nesta segunda-feira a Organização Meteorológica Mundial (OMM). As probabilidades de que entremos no padrão climático oposto, La Niña, aumentam a partir de Julho.

O La Niña corresponde ao arrefecimento anómalo das águas superficiais do oceano Pacífico, formando o que vulgarmente se designa como "piscina de águas frias" neste oceano, de acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Segundo o IPMA, o fenómeno "produz fortes mudanças na dinâmica geral da atmosfera, alternando o comportamento climático". Atinge a intensidade máxima no final de cada ano e dissipa-se, na maioria dos casos, em meados do ano seguinte. O El Niño caracteriza-se pelo aquecimento das águas superficiais das águas do Pacífico e pelos fenómenos atmosféricos que desencadeia, com consequências como secas, cheias e tempestades em diferentes locais do mundo.

As mais recentes previsões da OMM apontam para uma probabilidade de 50% de começar a formar-se a La Niña entre Junho e Agosto, com a percentagem a aumentar para 60% de Julho a Setembro e 70% de Agosto a Novembro.

De acordo com a agência da ONU, os efeitos de cada evento de La Niña variam consoante a intensidade, duração, época do ano em que se desenvolvem e a interacção com outras variáveis climáticas. Um dos possíveis efeitos é uma época de furacões mais intensa no Atlântico.

A OMM salienta, no entanto, que o padrão climático cíclico El Niño Oscilação Sul - que inclui os fenómenos opostos El Niño e La Niña - acontece agora no contexto das alterações climáticas induzidas pelas actividades humanas, que "estão a fazer subir as temperaturas globais, a agravar as condições meteorológicas e climáticas extremas e a afectar os padrões sazonais de chuva e temperatura".

"O nosso clima vai continuar a ser mais extremo por causa do calor e da humidade extras na atmosfera", alertou a subsecretária-geral da OMM, Ko Barrett, citada no comunicado.

Os últimos nove anos foram os mais quentes desde que há registo, mesmo com a influência de um episódio de La Niña de três anos, de 2020 até ao início de 2023, que tende a fazer as temperaturas baixar. O El Niño teve o auge em Dezembro de 2023 e foi um dos cinco mais fortes de que há registo.

"Todos os meses desde Junho de 2023 estabeleceram um recorde de temperatura, 2023 foi o ano mais quente, de longe. O fim do El Niño não significa que haja uma pausa nas alterações climáticas a longo prazo. O nosso planeta vai continuar quente, devido aos gases com efeito de estufa. A água do mar excepcionalmente quente também vai continuar a ter um papel importante durante os próximos meses", adiantou ainda Ko Barrett.

As previsões da OMM sugerem persistência de temperaturas acima do normal em quase todas as áreas terrestres e precipitação acima do normal no extremo norte da América do Sul, na América Central, no Nordeste de África, na região do Sahel e em áreas do sudoeste asiático, devido em parte aos "impactos típicos da fase inicial das condições do La Niña".

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