Soldados na Ucrânia? “Temos de admitir a possibilidade”

Ana Martins é a nº 2 da lista da IL às europeias. Apoia a decisão do Governo de permitir que armas ocidentais atinjam alvos russos e admite a possibilidade de Portugal enviar soldados para a Ucrânia.

Ana Martins, a candidata número 2 da Iniciativa Liberal, admite que uma guerra Ocidente-Rússia "é uma possibilidade" que não se pode "descartar" e que "preocupa todos". Afirma que "a Europa é um projecto liberal", mas já o foi mais no passado.

Este é um resumo da entrevista dada ao podcast A minha família é melhor do que a tua, onde não se entrevistam cabeças-de-lista. A primeira entrevistada foi Ana Miguel Pedro, da AD, e o segundo Francisco Assis, do PS.

Leia a transcrição editada da entrevista:

Quem é a Ana Martins? Faça-me o seu auto-retrato.
Nasci nos Açores, na Terceira.

Angra do Heroísmo?
Angra do Heroísmo. Saí de lá muito nova. Fiz parte da diáspora, que foi para os Estados Unidos, mas também voltei nova. Portanto, vivo em Lisboa desde os 7 anos. Mas mantive uma ligação muito forte, a maior parte da minha família está lá e passei sempre longas temporadas. É uma grande parte das minhas memórias e identidade, de certa forma.

Sente-se meio açoriana?
Sinto-me completamente açoriana. Formei-me em Direito, depois resolvi não seguir para advocacia.

E fez o quê?
Especializei-me em ciência política, o que me levou a ir para a Inglaterra. Fui solidificando as minhas convicções liberais enquanto lá estava. Isto foi sendo reforçado até em certos projectos em que trabalhei. Trabalhei num que estudava as diferentes perspectivas de diferentes gerações europeias relação à Europa. Preocupou-me ver resultado de um inquérito que fizemos em que a maioria dos jovens europeus acreditava que Estado autoritário seria mais competente a resolver a crise das alterações climáticas do que Estado liberal.

Eu sentia que havia uma necessidade de não darmos o liberalismo por garantido. Nessa altura, ainda a Iniciativa Liberal estava a surgir Portugal, sob a liderança de Carlos Guimarães Pinto e senti-me obrigada a dar apoio ao projecto. Achava que no meu país o liberalismo não tinha tido ainda uma voz activa. Obviamente estava representado em algumas casas políticas, mas não por inteiro. Não estava com intenções de me juntar ao partido, nem de seguir a vida política, mas comecei por mostrar o meu apoio e encorajamento e acabei por ser desafiada e assumir funções no partido. E aqui estou.

A IL defende que armas ocidentais sejam usadas para atingir alvos russos?
Tem de haver uma forte dissuasão aos avanços da Rússia. A Rússia está sistematicamente a testar a Europa e a NATO e os países que integram a NATO. A Europa não pode estar a sinalizar à Rússia que tem limites na sua intenção de assegurar a defesa da Ucrânia, não é? Há uma ameaça a um país, mas tem implicações para a segurança da Europa como um todo.

Acha aceitável que Portugal acabe a mandar soldados para a Ucrânia?
Essa possibilidade existe. Portugal é membro da NATO. Não podemos retirar essa hipótese. Obviamente que a queremos evitar a todo o custo e queremos, no fundo, assegurar que todas as alternativas são esgotadas na defesa da Ucrânia. Agora, também convenhamos que a situação está a evoluir...Todos, nesta altura, temos que admitir essa possibilidade, queremos evitá-la e ser o mais prudentes possíveis na condução desta situação.

Uma guerra Ocidente-Rússia pode estar no horizonte.
É uma hipótese que não podemos descartar, é uma hipótese que nos preocupa a todos. Temos insistido muito na nota de que a Europa precisa de voltar a ser a força competitiva que já foi, a força de inovação que já foi, até para ter capacidade de investimento na sua própria defesa, inovação tecnológica na sua capacidade de defesa, que depois passa por uma série de áreas, inclusivamente a nossa soberania energética, por exemplo. Os governos deviam aumentar os orçamentos nacionais em defesa. O investimento de 2 % do PIB de cada estado que faz parte da NATO deve ser um objectivo cumprido. Vamos mais longe, achamos que deve haver um pilar europeu dentro da NATO. Ele já existe de certa forma informalmente, mas faz sentido formalizar esse pilar e ter, por exemplo, uma cimeira regular entre a União Europeia e a representação da NATO para assegurarmos esta agenda que é comum. Isto é do interesse comum.

Ana, a Europa não é já suficientemente liberal para o seu gosto?
Eu acho que a Europa já foi mais liberal. A Europa sem dúvida é um projecto liberal. Muito do seu sucesso se deve aos seus alicerces liberais. Acho que o período mais bem sucedido foi quando foi mais liberal, quando esteve mais focado no aprofundamento do mercado único. Achamos que o potencial do mercado único está muito aquém daquilo que poderia ser.

A IL revê-se no pacto das migrações?
Somos favoráveis à imigração e independentemente da condição social. Da parte de alguns partidos de esquerda houve algumas propostas no sentido de limitar, por exemplo, a aquisição de habitação Portugal de pessoas de nacionalidade estrangeira. E depois temos, obviamente, o discurso de extrema-direita que é altamente discriminatório de imigrantes. Somos abertos a todo o tipo de imigrantes. Agora, também somos defensores do Estado de direito, de que as regras não sejam letra morta, até porque quando são letra morta podem incentivar organizações criminosas que abusam, ou que violam direitos fundamentais, independentemente da origem das pessoas. A Europa já tem uma crise há muito tempo, que se começou a acentuar, sobretudo, a partir de 2013 a 2015, e que não tem conseguido resolver. Não tem conseguido ser suficientemente dissuasora destas organizações [de tráfico] que parecem aumentar. Este pacto é um passo importante, mas há muitas melhorias a fazer. Acho que isso é bastante reconhecido entre as partes que negociaram o acordo. Tínhamos de ter ponto de partida e era importante fazê-lo antes destas eleições europeias porque havia o risco de agora nos apresentarmos a eleições e, basicamente dizer aos europeus de cada Estado-membro que não conseguimos fazer nada quanto a este assunto.


A Minha Família É Melhor Que a Tua está disponível na Apple Podcasts, no Spotify e em todas as restantes aplicações para podcast e YouTube.

Sugerir correcção
Ler 24 comentários