Israel diz que acordo de cessar-fogo “é mau”, mas vai aceitá-lo

Conselheiro de Benjamin Netanyahu reafirma que não haverá paz na Faixa de Gaza sem a “destruição” do Hamas.

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O plano apresentado pelos EUA foi bem recebido pelo Hamas HAITHAM IMAD / EPA
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Um dos principais conselheiros do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, confirmou neste domingo que o Governo israelita vai respeitar os princípios da proposta de acordo anunciada pelo Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na sexta-feira.

Numa entrevista ao jornal britânico Sunday Times, Ophir Falk, o principal conselheiro de Netanyahu para questões de política externa, disse que o plano com vista a um cessar-fogo definitivo em Gaza "não é bom", mas foi formulado "porque Israel deseja muito a libertação dos reféns".

"Há muitos pormenores que têm de ser trabalhados, incluindo a libertação dos reféns e a destruição do Hamas enquanto organização terrorista genocida", disse o responsável.

Na entrevista, Falk reafirmou que a "destruição" do Hamas é inegociável — o que pode ser um obstáculo a qualquer plano de paz na região — e reiterou que "não haverá cessar-fogo sem a concretização de todos os objectivos".

Três fases

O plano anunciado por Biden, sob proposta de Israel, consiste em três fases.

A primeira inclui a libertação de alguns dos reféns israelitas e de outras nacionalidades que foram capturados pelo Hamas nos ataques de 7 de Outubro de 2023, em troca da libertação de prisioneiros palestinianos em Israel. Ao mesmo tempo, as tropas israelitas abandonariam as áreas povoadas da Faixa de Gaza.

Numa segunda fase, os restantes reféns seriam libertados e o Exército de Israel abandonaria totalmente o território palestiniano.

Por fim, se o Hamas cumprisse os dois primeiros pontos, arrancaria um processo de pacificação e reconstrução do território.

Extremistas irredutíveis

Os parceiros ultranacionalistas do Governo israelita ameaçaram abandonar Netanyahu se este concretizar o acordo com vista a um cessar-fogo permanente em Gaza, mesmo que isso garanta a libertação dos reféns.

Numa mensagem publicada na rede social X, Itamar Ben Gvir, ministro da Segurança Nacional de Israel, disse que o seu partido iria "dissolver o Governo" se o acordo não fosse descartado; e Bezalel Smotrich, ministro das Finanças, afirmou que "não participará num Governo que aceite o plano proposto" na sexta-feira.

Por outro lado, o antigo general Benny Gantz, membro do gabinete de guerra israelita, veio pedir a Netanyahu que aceite o plano de Biden, e o líder da oposição, Yair Lapid, garantiu que sustentará o Governo caso os membros mais extremistas decidam abandoná-lo.

Biden tentou promover várias propostas de cessar-fogo nos últimos meses, cada uma delas com estruturas semelhantes à que foi apresentada na sexta-feira.

Em Fevereiro, o Presidente dos EUA disse que Israel tinha concordado em suspender os combates durante o mês do Ramadão, que começou a 10 de Março, o que não se concretizou.

O principal ponto de discórdia tem sido a insistência de Israel em discutir apenas pausas temporárias nos combates até que o Hamas seja destruído. Por seu lado, o Hamas afirma que só libertará os reféns no âmbito de um acordo para o fim da guerra.

No seu discurso, na sexta-feira, Biden disse que a proposta em cima da mesa "cria um 'dia seguinte' melhor em Gaza, sem o Hamas no poder", sem detalhar de que forma isso seria alcançado.

Do lado do Hamas, a iniciativa apresentada por Biden foi recebida com sinais positivos.

"O discurso de Biden incluiu ideias positivas, mas nós queremos que o plano seja materializado no âmbito de um acordo abrangente que vá ao encontro das nossas exigências", disse Osama Hamdan, um alto responsável do Hamas, ao canal Al-Jazeera.