Milhares para receber Mourinho no Fenerbahçe: “Os vossos sonhos são os meus”

Treinador vai comandar o gigante turco, o 10.º clube da carreira no quinto país diferente. Chega a Istambul para reconduzir o Fenerbahçe aos títulos.

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Mourinho foi ovacionado pela multidão e rodeado por fotojornalistas Dilara Senkaya / REUTERS
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O presidente do Fenerbahçe, Ali Koç, tinha avisado os adeptos no sábado: “Não marquem nada na agenda para amanhã à noite”. Ao final do dia, percebia-se porquê. José Mourinho era oficializado como novo treinador do gigante de Istambul e a cerimónia de apresentação estava agendada para o final de tarde (menos duas horas em Portugal) deste domingo. Com pompa e circunstância: milhares de adeptos nas bancadas, um palco gigantesco montado sobre o relvado, um tapete azul para o treinador pisar desde o túnel até à cadeira e cânticos, muitos, de incentivo. Uma recepção digna de uma figura de Estado: "Os vossos sonhos são agora os meus sonhos".

Esta foi a frase mais forte que se pôde extrair de um discurso breve, permanentemente interrompido pela euforia que caía das bancadas do Estádio Şükrü Saracoğlu. As primeiras palavras custaram a sair, porque o entusiasmo dos adeptos abafava qualquer sistema de som, mas à terceira tentativa José Mourinho conseguiu expressar-se. “Normalmente um treinador é adorado quando ganha títulos, mas neste caso eu sinto-me adorado antes de ganhar”.

Tem sido assim com muitas figuras do futebol na Turquia, brindadas com grandes recepções no aeroporto, com "escolta" até ao estádio e uma corrida às cadeiras para a apresentação oficial. José Mourinho, treinador com um currículo invejável, está nesse patamar e encarna a esperança dos adeptos e do presidente do Fenerbahçe, clube que não festeja o título na Turquia há uma década e que tem perdido relevância a nível internacional.

“Desde que me encontrei com o presidente Ali Koç que quis trabalhar convosco. Vocês são a paixão do futebol e que quero ser o treinador de todos vós”, enunciou, devidamente enquadrado no centro de um ecrã gigante com fundo amarelo em que podia ler-se: “Special One, bem-vindo ao Fenerbahçe, o maior clube desportivo do mundo”

O título, auto-atribuído, é discutível, claro, mas o impacto que o técnico português está a ter na Turquia não. Um batalhão de fotógrafos perfilou-se em frente ao palanque e não o largou assim que deixou o palco. “Isto para mim é uma grande responsabilidade. A partir deste momento pertenço à vossa família e esta camisola é a minha pele”, atirou, erguendo uma das camisolas do Fenerbahçe que tinha à mão.

“Quero ajudar a desenvolver o futebol turco, a Liga turca, mas o mais importante para mim é o Fenerbahçe”, acrescentou, como que a justificar uma escolha que, há uns anos, seria encarada como altamente improvável, face ao cartel de ofertas que teria em carteira. Uma passagem atribulada pela Roma, onde registou a mais baixa percentagem de vitórias do currículo (ainda assim, conquistou a Liga Conferência em 2021-22), e a ausência de sucesso no Tottenham, imediatamente antes, terão estreitado o naipe de propostas, porém.

Aos 61 anos, José Mourinho assinou um contrato válido por duas temporadas, até 2026. Um vínculo que ficou selado na final da Liga dos Campeões, em Wembley, na qual o técnico português e Ali Koç marcaram presença. “Este acordo é uma grande notícia, a prova do nível a que queremos conduzir o Fenerbahçe”, assinalou o dirigente.

Foi ele quem, de resto, lançou as bases para o discurso de Mourinho na apresentação, enquadrando a contratação como um feito improvável. “Ele está, sem dúvida, entre os melhores treinadores da história. É seguramente um dos cinco melhores treinadores. Ele escolheu-nos pela visão de futuro do Fenerbahçe. Temos agora um treinador que ganhou troféus 27 vezes em competições internacionais e que é actualmente o único a ter levantado três Taças UEFA/Liga Europa”.

O que Ali Koç pretendia sublinhar é que o clube de Istambul não só contratou um treinador com palmarés, mas uma figura que é, ao mesmo tempo, uma marca a nível internacional. E de quem se espera que seja capaz de inverter a perda de competitividade do Fenerbahçe nos últimos largos anos — na Europa, o melhor que conseguiu nos últimos 15 anos foi uma meia-final da Liga Europa, mesmo que, nesta época, tenha terminado a Liga turca na segunda posição, com 99 pontos, a três do campeão, o rival Galatasaray.

José Mourinho vai substituir no cargo o turco Ismail Kartal e vai tornar-se no terceiro treinador português a assumir os destinos do Fenerbahçe, depois de Vítor Pereira (entre 2015 e 2016, e em 2021-22) e de Jorge Jesus (2022-23). Nestes períodos, o clube conquistou somente uma Taça da Turquia, precisamente no ano passado, antes de Jesus rumar ao Al Hilal, da Arábia Saudita.

O director desportivo do Fenerbaçe, o português Mário Branco, também terá sido importante na missão de convencer o compatriota a assumir um novo desafio. E o que respondeu Mourinho quando Ali Koç lhe perguntou por que razão tinha escolhido o clube para prosseguir a carreira: “Ele disse: ‘O meu objectivo é não só ser campeão da Turquia, mas também ser bem-sucedido na Europa”.

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