Cinco corais celebram num concerto em Lisboa a arte pioneira de Francisco d’Orey

O Auditório da Reitoria da Universidade Nova de Lisboa recebe este domingo (17h) um concerto em louvor de um maestro pioneiro na música a vozes, Francisco d’Orey.

Foto
Francisco d’Orey: “uma vida a semear músicos” DR
Ouça este artigo
00:00
03:45

Dedicou mais de 50 anos ao canto a vozes, em coro, e o seu trabalho marcou de forma indelével “várias gerações no último terço do século XX”, como escreveu Manuel Pedro Ferreira no PÚBLICO por ocasião da sua morte. Francisco d’Orey (1931-2020), maestro, regente coral, professor e animador cultural é recordado este domingo num concerto que lembra a sua vida e obra, através da actuação de cinco grupos corais a que esteve ligado.

O concerto decorre na Auditório da Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, às 17h, promovido por um grupo criado por três Institutos da Universidade Nova de Lisboa (CESEM, IELT e INET-md) “a que se juntaram Carlos Moreira, coralista em vários grupos dirigidos por Francisco d’Orey e Pedro d’Orey, músico, em representação da família”, como se escreve no texto que o anuncia.

Participam na homenagem, em “louvor de um maestro pioneiro na introdução de novas formas de trabalhar a música a vozes, desde a recriação da tradição oral à experimentação vocal”, o Coro Da Universidade De Lisboa (que Francisco d’Orey dirigiu entre 1966 e 1970 e, mais tarde, entre 1975 e 1981), Coro Do Círculo Cultural Scalabitano (dirigido por ele de 1972 a 1977), o Grupo Vocal Arsis (fundado por Francisco d’Orey em 1978 e por ele dirigido até 1986), o Eborae Musica (que d’Orey dirigiu entre 1997 e 2013) e o Cramol, do qual Francisco d’Orey produziu e realizou o primeiro registo, em 1981, na série Inventário Musical (RTP). A dirigir estes grupos corais estarão, respectivamente, os maestros Eduardo Martins, António Matias, Paulo Brandão, Emanuel Vieira e Eduardo Paes Mamede.

Foto
Francisco d’Orey a dirigir um ensaio YOUTUBE

A folha de sala do concerto abre com um texto biográfico de Francisco d’ Orey, assinado por Manuel Pedro Ferreira, onde se recorda que Fernando Lopes-Graça o considerou “um dos mais bem-dotados directores de coro portugueses” e João de Freitas Branco realçou “as suas excepcionais capacidades como organizador de actividades musicais para jovens”, para nos recordar: “Ficou conhecido pela experimentação de novas abordagens cénicas, por vezes multimédia, explorando as potencialidades do espaço e de colocação de cantores e público, no que desafiou a hierarquização vigente; acolheu no repertório música de todos os géneros e épocas a par da tradicional, a que deu uma atenção inédita, tendo organizado recolhas directas da tradição oral na Beira Litoral (Travassô), Beira Alta (Ferreirim, Lamegal), Beira Baixa (Monsanto e Lousa) e Alentejo (Aljustrel).”

O seu papel nos meios televisivos é igualmente lembrado: “Também na televisão teve um papel determinante: foi ele quem convidou Michel Giacometti a criar a série Povo que canta (1970-1972), de que foi co-produtor e assistente musical; foi igualmente co-responsável, com Manuel Jorge Veloso, pelos Concertos em diálogo na RTP (1971). Foi pioneiro no estudo documental da música informal (em associações populares, grupos musicais de jovens e escolas informais de música) e de organização popular (coros e bandas), que registou parcialmente em cerca de quarenta filmes que produziu e realizou no Continente e nos Açores: série Inventário musical (RTP,1970-1975).”

Na folha de sala, entre várias citações que sublinham a importância do trabalho de Francisco d’Orey, há esta, dele próprio, retirada de um Currículo para uma exposição de pintura, em 2000: Dediquei-me ao canto em coro durante mais de cinquenta anos. Se os nossos governantes cantassem em coro, o Mundo de hoje não andaria tão desgovernado”. O concerto deste domingo, na sua multiplicidade de cozes, encarregar-se-á, entre outras coisas, de nos mostrar que essa frase permanece verdadeira, 24 anos depois.

Sugerir correcção
Comentar