Women in Tech quer mostrar que mulheres “também têm lugar na tecnologia”

Women in Tech Porto Summit começa na sexta-feira e reúne 50 oradores nacionais e internacionais. Organização quer “desconstruir estereótipos de género” e promover equidade na área da tecnologia.

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Cimeira Women in Tech Summit está de regresso à cidade do Porto pelo segundo ano consecutivo CARLOS BARRIA / REUTERS
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Ajudar mulheres a encontrar a sua voz no mundo da tecnologia: este é o principal mote da Women in Tech, uma organização global presente em mais de cem países, incluindo Portugal, que nesta sexta-feira e no sábado vai dinamizar uma cimeira (com o mesmo nome) que em apenas 48 horas esgotou as vagas para inscrição. A Women in Tech Porto Summit regressa à cidade invicta pelo segundo ano consecutivo, com o apoio da câmara municipal, e vai juntar mais de 50 oradores, nacionais e internacionais, durante dois dias de "partilha de conhecimento, debate e momentos de networking", segundo o comunicado do evento, que é totalmente gratuito para quem se conseguiu inscrever.

Ana Carla Alves, embaixadora da Women in Tech Portugal no Porto, diz que, antes de explicar o que acontecerá na cimeira, é preciso recuar cinco anos, altura em que a organização foi fundada. "Em poucas palavras, somos uma organização sem fins lucrativos que quer promover a equidade de género nas ciências e tecnologias. Somos mais de 260 mil voluntárias espalhadas pelo mundo, com um compromisso firmado no Fórum Mundial de Economia e junto da ONU de capacitar cinco milhões de mulheres e crianças até 2030. Até agora, conseguimos ajudar um milhão e 800 mil mulheres e crianças, mas esperamos alcançar o nosso objectivo com um impacto positivo na economia e nos ecossistemas".

Agora sim, poderemos falar da Women In Tech Summit, que já passou por vários países e que decorrerá pela segunda vez no Porto na próxima sexta-feira e sábado. "Queremos unir a sociedade pública, civil e privada para falar sobre a promoção da equidade, com conteúdos bem estabelecidos e interessantes em todo o panorama científico, desde a empregabilidade, ao empreendedorismo e ao investimento. Além disso, vamos olhar para o passado e perceber o que conseguimos alcançar até agora e para o futuro, analisando tudo o que podemos alcançar em conjunto com a comunidade", refere ao PÚBLICO Ana Carla Alves. "Estamos com as expectativas muito elevadas porque nenhuma das cimeiras que fizemos se esgotou em apenas 48 horas."

Apesar de a organização já ter conseguido chegar a milhares de mulheres e crianças — não só ao promover a sua integração no mundo da tecnologia, mas também apoiando as que já estão no ramo ao dar mais visibilidade às suas "conquistas" —, Ana Carla Alves diz que o trabalho "ainda agora começou". "Os números mostram que estamos num processo em evolução. Há muitas mudanças em curso e sinto que na educação, em particular, já se está a promover a ideia de que os cargos de liderança também são um objectivo para as mulheres. Mas dentro do contexto das ciências e tecnologias, as mulheres ainda têm muitas dificuldades para chegar a cargos de liderança, têm sempre de provar que são capazes."

Segundo números de 2023 do Fórum Económico Mundial, a paridade avançou apenas 4,1 pontos percentuais desde a primeira edição do Relatório Global de Desigualdade de Género, publicado em 2006, e, para eliminar as desigualdades, serão necessários mais 131 anos de mudanças. Em Portugal, continuamos a ter menos mulheres em cargos de chefia e a liderar equipas de inovação, mas somos o segundo país na Europa com maior percentagem de mulheres inventoras (26,8%) – ou seja, de mulheres que fizeram pedidos de patentes. O estudo divulgado em 2022 pelo Instituto Europeu de Patentes avaliou os pedidos feitos para registar uma invenção, destacando ainda o Alentejo como a região com maior percentagem de mulheres entre os seus inventores (34,9%).

A responsável da Women In Tech refere que é preciso investir mais no "empreendedorismo feminino" e que atingir a igualdade de género em todos os campos é uma responsabilidade "colectiva, cultural e pública". "As mulheres têm lugar na tecnologia e as portuguesas, em particular, têm imenso potencial e muito para mostrar, mas ainda que tenhamos leis e incentivos do nosso lado, estes não são aplicados à realidade. Ainda temos poucas mulheres a empreender, a acreditar, poucas mulheres com oportunidades de estudo por causa de factores que poderíamos discutir durante horas. Precisamos de mostrar às mulheres o que está a ser feito para que consigam acreditar e transformar números e estatísticas."

Leanne Elliott Young, co-fundadora e CEO do Institute of Digital Fashion, é a convidada especial desta edição da cimeira. A britânica, que passou de uma carreira na comunicação para um "história de sucesso" na tecnologia, já foi distinguida com vários prémios internacionais e reconhecida como uma das Mulheres Líderes em WEB3 por publicações como a Vogue e a Forbes. Thais Russomano, médica brasileira especializada em medicina espacial, será outra das oradoras e falará, em particular, sobre a promoção da ciência.

Do lado nacional, realizar-se-ão intervenções de Ana Pires, a primeira cientista-astronauta portuguesa, e de Tiago Silva (e o seu cão-guia "Sol"), membro da Comissão para a Diversidade e Inclusão (CDI) do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC – TEC), que vive com deficiência visual desde 2012. Com o tema "A Ciência Abraça a Inclusão", Tiago irá partilhar "experiências e perspectivas sobre como a ciência e a tecnologia podem ser ferramentas poderosas para promover a inclusão e a acessibilidade para todos". "O Tiago é cego e teve um grande apoio por parte do INESC – TEC para incluir o seu cão-guia dentro da instituição, conseguindo assim trabalhar melhor. Acho que vai ser uma palestra imperdível", refere a embaixadora.

Haverá ainda tempo para ouvir testemunhos de várias mulheres sobre a forma como a Women in Tech teve impacto na sua vida e "histórias reais" de empresas que têm programas de equidade e inclusão. E espaço para networking entre a comunidade, a autarquia e a ciência, num ambiente de "grande proximidade entre palestrantes e público".

E como o Dia Mundial da Criança calhará no segundo dia da cimeira, haverá, para os mais novos, vários workshops grátis e de entrada livre nos jardins dos Palácio de Cristal. Entre as 10h e as 13h, crianças dos seis aos dez anos podem participar em pequenas aulas sobre dinâmicas de aprendizagem de ciências da computação, viagem ao espaço (com a astronauta e cientista portuguesa Ana Pires), exploração de rochas espaciais, detectives digitais ou ciência e inclusão digital.

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