Novo curso de Medicina vai provocar maior “pressão” na formação de médicos, alertam escolas e estudantes
Conselho de Escolas Médicas e estudantes de Medicina notam que novo curso em Aveiro pode pressionar ainda mais as unidades de saúde que acolhem os alunos, com riscos para a qualidade do ensino.
Depois do anúncio da abertura de mais um curso de Medicina na Universidade de Aveiro, o Conselho de Escolas Médicas Portuguesas e a Associação Nacional de Estudantes de Medicina alertam para uma possível redução na qualidade da formação, uma vez que, na região, as instituições de saúde recebem já muitos estudantes da área médica para formação.
O alerta destas duas organizações surge depois de, na semana passada, o mestrado integrado em Medicina na Universidade de Aveiro ter sido aprovado pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES). Segundo a universidade, o mestrado deverá arrancar já no próximo ano lectivo com 40 vagas no primeiro ano, aumentando progressivamente até atingir as 100 vagas por ano.
O ensino clínico deste mestrado irá decorrer nas Unidades Locais de Saúde Gaia/Espinho, de Entre Douro e Vouga e da região de Aveiro. As duas primeiras pertencem à Área Metropolitana do Porto, que agrega já três faculdades com cursos de áreas médicas: a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS-UP) e a Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Fernando Pessoa. "Diariamente, a região do Porto suporta em ensino clínico, em cuidados hospitalares e primários, cerca de 1500 estudantes de medicina, com mais de 500 estudantes só na Unidade Local de Saúde Gaia/Espinho", notam as duas entidades num comunicado conjunto, tornado público esta sexta-feira.
Por essa razão, consideram que a abertura de mais uma escola médica na região "implica, necessariamente, uma maior pressão formativa nas Unidades Locais de Saúde afiliadas partilhadas com o novo curso ou, por perda de protocolos, nas restantes Unidades Locais de Saúde afiliadas e nucleares". Temem ainda que, com isso, a qualidade formativa e os cuidados de saúde aos doentes seja posta em causa.
"Assiste-se, simultaneamente, a um aumento do número de estudantes por doente que se torna desadequado, com possíveis implicações éticas e com a possibilidade de que o contacto da pessoa doente com os cuidados de saúde seja negativamente afectado pelo elevado número de intervenientes", notam, sublinhando a necessidade de garantir estágios clínicos de qualidade, que atendam às necessidades específicas das populações.
Face a esta decisão, o Conselho de Escolas Médicas e a associação de estudantes de Medicina, realçam que a abertura de faculdades de medicina e/ou aumento das vagas nas faculdades existentes obriga a um "planeamento estratégico e adequado" nos locais de ensino clínico, que deve ser ainda "bem articulado" com as faculdades já existentes.
"Apenas aumentar o número de estudantes de Medicina em nada resolve os actuais problemas do Serviço Nacional de Saúde, já que este aumento não resulta directamente num efectivo aumento de profissionais de saúde", notam ainda no comunicado.