Renault Rafale: um SUV bem colado à terra para honrar herança nos céus

O novo topo de gama da marca francesa foi buscar inspiração a um avião marcante na história da Renault, mas mostra-se bem agarrado ao asfalto, dando cartas na dinâmica.

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O Reanult Rafale inspirou-se no Caudron-Renault Rafale de 1933 dr
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No início do século XX, a aeronáutica servia de laboratório para o desenvolvimento automóvel. A Renault, nascida em 1899, começou por trabalhar os veículos de quatro rodas, que singravam no mundo das corridas, como o AK 90 CV, vencedor do primeiro Grand Prix da história, em 1906, em Les Mans. Mas, paralelamente, desenvolvia motores para serem usados nos céus.

De 1908 a 1914, vários construtores aeronáuticos recorreram à empresa francesa para a construção de cerca de quase meia centena de tipos diferentes de aviões, que, nos anos que se seguiram, foram capazes de bater vários recordes: de altitude, de tempo ou fiabilidade. Um deles foi o Caudron-Renault Rafale de 1933, cujos atributos, desenhados por Marcel Riffard, vieram a influenciar o design do Renault Nervasport ou do icónico Renault Étoile Filante.

Quase cem anos depois, a herança aeronáutica foi recuperada para criar aquele que se apresenta no topo de uma vasta gama, que se divide entre mecânicas 100% eléctricas (os vindouros Renault 5 e Renault 4 e os já conhecidos Mégane ou Scénic) e térmicas, com variantes full hybrid (Clio, Captur, Symbioz, Arkana, Austral, Espace), e que se espraiam do segmento B ao D.

É neste último que cabe o novo Rafale, um SUV com 4,71 metros de comprimento, de linhas robustas e assertivas, mas ao mesmo tempo desenhado, entre curvas sinuosas e arestas bem definidas, para um comportamento aerodinâmico a piscar o olho à performance, sem descurar a relevante eficiência. É assim o primeiro automóvel saído totalmente da pena de Gilles Vidal, o designer que, depois de ter mudado a face da Peugeot, abraçou a missão de revolucionar a Renault.

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Um dos destaques encontra-se na frente, com uma grelha de radiador desenhada para parecer estar sempre em movimento. Composta por pequenos “diamantes”, dispostos num desenho 3D, em torno do logótipo central, faz lembrar as grelhas em forma de favo de mel, mas a proporcionar uma ilusão de óptica, que combina com faróis full LED (entre os opcionais, há tecnologia Matrix LED Vision) também com a forma de diamante.

O Rafale (que pode ser traduzido por “rajada”) assenta sobre a plataforma CMF-CD e tem exactamente a mesma distância entre eixos do Espace (2738mm), ainda que se proponha a acomodar apenas cinco ocupantes e não sete, o que se reflecte no generoso espaço para quem se senta nos lugares traseiros e também para bagagem (há 627 litros para ocupar). Mas o que mais se destaca é o espaço em altura na segunda fila, não obstante os traços de coupé. Para tal, o tejadilho flui de forma suave até ao pilar C, altura em que se divide entre um spoiler e um óculo traseiro que cai abruptamente. A ausência de protecção do tejadilho panorâmico, possível graças à estreia da tecnologia Solarbay, permite ainda uns centímetros extras.

O tecto em vidro Solarbay incorpora a tecnologia AmpliSky, na qual a estrutura molecular dos cristais líquidos dispersos em polímeros (PDLC) reage a uma corrente eléctrica. Os nove segmentos do tejadilho envidraçado escurecem a pedido, proporcionando a máxima protecção contra o sol, em segundos, sem necessidade de uma cortina. O tecto inteligente pode ser controlado num interruptor ou por comando de voz, através do Google Assistant.

No interior, os bancos desportivos das versões Esprit Alpine e Atelier Alpine incluem um ‘A’ na parte superior do encosto, que se ilumina e pulsa ao ritmo do coração humano. A cor da iluminação corresponde à opção seleccionada nas definições Multi Sense. De notar que os materiais de origem animal foram banidos do habitáculo, recorrendo a pele sintética, a partir de material reciclado em 50% em todo o volante e até 100% nos estofos.

Já no banco traseiro, foi incluído um apoio de braço capaz de ser uma ajuda para as actividades multimédia, incluindo duas tomadas USB, um espaço de arrumação para tablets e smartphones e dois suportes rebatíveis para visualizar os ecrãs com conforto.

À frente, a digitalização dá cartas. O cockpit digital OpenR do Renault Rafale é composto por dois ecrãs, em forma de L: um ecrã TFT horizontal de 12,3 polegadas e um ecrã táctil vertical de 12 polegadas no centro da consola, cujo sistema se apoia no ambiente Google. O condutor pode ainda usufruir de um head-up display de 9,3 polegadas (em opção, apenas na versão Esprit Alpine), com informações que vão da velocidade a dados de navegação e que evitam que quem segue aos comandos tenha de tirar os olhos da estrada.

Na segurança, o automóvel chega equipado com um pacote de 32 sistemas de ajuda à condução, divididos em três categorias: condução, segurança e estacionamento. Inclui também uma nova função de controlo de velocidade inteligente e o sistema Safety Coach de série, para incentivar um estilo de condução mais calmo e reduzir o risco de acidentes.

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O Rafale começa agora a chegar ao mercado com uma única mecânica: o motor híbrido a gasolina E-Tech de 200cv, acoplado a uma caixa de velocidades automática multimodo, que se destaca pela eficiência (4,7 litros/100 km e emissões de CO2 de 105g/km), já conhecido, por exemplo, do Austral. No entanto, várias mexidas permitem ao Rafale reclamar uma dinâmica superior.

Para começar, vem equipado de série com suspensões dianteiras e traseiras multi-link, em todas as versões, para maior estabilidade e conforto de condução. Depois, a largura da via é 40mm maior no Rafale e a largura do piso dos seus pneus de 20 polegadas foi aumentada em 10 mm para 245 mm (contra 235 mm para os pneus de 20 polegadas do Austral). Além disso, chega, a partir da versão Esprit Alpine, com a tecnologia de direcção às quatro rodas 4Control: as rodas traseiras viram no sentido oposto ao das rodas dianteiras (até 5 graus) quando em velocidades baixas e muito ligeiramente (até 1 grau) no mesmo sentido que as rodas dianteiras, para melhorar a estabilidade, quando em velocidade. Resultado: o Rafale bem pode ter nascido nos céus, mas o que depressa se constata é que é na estrada que se revela peixe na água.

O modelo, para o qual é aguardada uma variante plug-in antes do fim do ano, com tracção integral e 300cv, é proposto desde 45.500€ na versão de equipamento Techno; o Esprit Alpine é disponibilizado a partir de 50 mil euros.

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